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Revoltada com a anunciada reversão, pela Suprema Corte norte-americana, da decisão que abriu as portas para dezenas de milhões de abortos nos Estados Unidos nas últimas cinco décadas – assunto abordado nos meus artigos “O bom-mocismo fake é o câncer do nosso tempo” e “O genocídio silencioso: o aborto é um direito humano?” – a prefeita (democrata) de Chicago, Lori Lightfoot, usou o Twitter para “chamar às armas” a comunidade LGBTQ+, conforme o print abaixo:
Lori complementou: “Eu me uno ao coro das milhões de pessoas neste país que estão enojadas e enfurecidas [com a decisão do Supremo]”. E foi além: garantiu que Chicago (a terceira maior cidade dos Estados Unidos) será um porto seguro, um “oásis” para as mulheres que quiserem abortar: “As portas de Chicago estarão abertas para quem necessitar de um aborto ou qualquer outro serviço ou cuidado reprodutivo”.
Ah, as palavras. Coitadas das palavras. A prefeita equipara a interrupção deliberada de uma vida a um “cuidado reprodutivo”, um “serviço” como um exame de rotina qualquer. E basta essa pirueta de linguagem, ao que parece, para que as usuárias desse “serviço” se desembaracem de seus filhos com a consciência limpinha.
Aborto é um cuidado de saúde, como sugere o cartaz fofinho que ilustra este artigo. E as mulheres que abortam estão apenas exercendo um “direito reprodutivo” – direito que a Suprema Corte fascista quer suprimir. Às armas, pois!
“Ah, mas chamar às armas é só uma figura de linguagem!” Não é. Na última semana, multiplicaram-se atentados contra sedes de entidades pró-vida, igrejas e outras instituições em todo o território americano – como a sede da fundação Family Action, em Wisconsin, vandalizada por ativistas woke (foto abaixo).
Um grupo auto-intitulado “Anarquia 1312” pichou em uma parede da sede a frase: “Se os abortos não forem seguros, vocês também não estarão seguros!” O tom de ameaça é claro.
O diagnóstico da presidente da Family Action, Julaine Appling, foi perfeito: “Aparentemente, a tolerância que a esquerda exige é uma via de mão única. A violência se tornou sua resposta para tudo. É o que acontece quando falta liderança ao país, ou quando a liderança sugere que aprova a violência”.
A tentativa de intimidação dessa turma que só tem amor no coração (mas emprega sem pestanejar coquetéis Molotov e táticas mafiosas para impor seus pontos de vista) chegou ao ponto de impedirem o acesso a locais de culto e realizarem protestos barulhentos em frente à casa de juízes da Suprema Corte, como John Roberts e Brett Kavanaugh. Os manifestantes virtuosos portavam cartazes que diziam “Sem útero, sem opinião!”, isto é, juízes homens não teriam “lugar de fala” para tomar decisões sobre o aborto.
O governador (democrata) do estado de Illinois, J.B.Pritzker, também aproveitou a oportunidade para lacrar: “Estou orgulhoso de que Illinois seja uma ilha de liberdade reprodutiva no meio-Oeste. Nossas fronteiras estarão abertas para qualquer mulher abandonada por esses políticos extremistas”. Políticos extremistas, no caso, seriam os juízes da Suprema Corte.
Chicago é hoje o templo da perversidade woke. Não por acaso, durante a gestão de Lori Lightfoot, a violência explodiu na cidade
Em nenhum momento o presidente Joe Biden se manifestou contra a violência dessas manifestações, ao contrário: sua assessora de imprensa afirmou que são protestos pacíficos.
É um caminho arriscado. Não por acaso, já há sinais de que as eleições de novembro (que renovarão os governadores de 36 dos 50 estados americanos) representarão um forte revés para Biden (cuja gestão na economia também é desastrosa), abrindo as portas para a volta de Donald Trump ao poder em 2024.
(Ontem, aliás, Elon Musk, o novo proprietário do Twitter, avisou que Trump poderá voltar a usar sua conta na rede social: “Creio que não foi correto cancelar Donald Trump, foi uma decisão moralmente equivocada”, declarou. Mas Trump e Musk são fascistas, é claro: quem defende a democracia é quem apoia a censura e o cancelamento...)
Chicago é hoje o templo da perversidade woke. Não por acaso, durante a gestão de Lori Lightfoot, a violência explodiu: a cidade voltou a liderar o número de assassinatos no país, que em 2021 aumentou 55% em relação a 2019.
Os tiroteios, por sua vez, cresceram 68%, segundo o Departamento de Polícia local, com o qual a prefeita vive às turras: desde que ela tomou posse, a força policial foi reduzida em cerca de 1.000 homens, e os salários dos que restaram costumam atrasar. “Os criminosos sabem dessas coisas, sabem o que está acontecendo”, advertiu o vereador e ex-policial Anthony Napolitano. Somente no último final de semana, 26 pessoas foram baleadas na cidade. Seis morreram.