“Davos é, basicamente, um lugar em que os bilionários dizem aos políticos o que eles têm que fazer... E os políticos costumam obedecer”, declarou nesta semana o político espanhol Pablo Iglesias, um dos fundadores do partido de esquerda “Podemos”.
Mas Iglesias é hoje uma voz dissonante na esquerda, que parece totalmente alinhada e muito à vontade com os comandos – e com as generosas doações – recebidos da elite globalista encarnada em ONGs e fundações como a Fundação Ford e a Open Society, de George Soros.
É esta elite que está reunida, mais uma vez, em Davos, nos Alpes suíços, para ditar aos governantes do mundo como eles devem agir. Contando com a presença de mais de 2.500 líderes mundiais, o Fórum Econômico Mundial deste ano tem como tema “Cooperação em um mundo fragmentado”.
O tema foi escolhido pelo presidente do Fórum, o empresário alemão Klaus Schwab. Schwab não esconde suas ideias: dois meses atrás, em uma entrevista a um canal da televisão inglesa, ele elogiou o modelo chinês de capitalismo de Estado e afirmou, literalmente, que a China é, para muitos países, um “modelo a seguir”.
Em outras ocasiões, o presidente do WEF – World Economic Forum tem pregado a necessidade de reestruturação da ordem internacional em um sistema homogêneo, de governança global, que se sobreponha aos governos locais e combine elementos do socialismo e do capitalismo.
É a tal “Agenda 2030”, expressão que, salvo engano, surgiu em novembro de 2016, quando o WEF divulgou um vídeo com uma série de previsões/prescrições para o planeta em 2030, incluindo “Você comerá muito menos carne!” e “Você não terá nada e será feliz!”.
Levado este projeto às últimas consequências, não haverá mais propriedade privada (de casas ou carros, por exemplo), apenas acesso a serviços e bens públicos – acesso administrado, em alguma medida, pelo Estado, que aliás também controlará todos os meios de comunicação.
É fácil visualizar como a gestão destes acessos pode ser usada como ferramenta de censura e perseguição. Mas ninguém liga, porque no mundo da Agenda 2030 todos serão felizes, e quem é feliz e vegano não precisa de liberdade de expressão. Só os fascistas carnívoros se preocupam com isso.
Todos os líderes reunidos em Davos são muito bem intencionados, todos estão do lado do bem e da democracia, todos lutam pela justiça social e pelo meio-ambiente. Que andem de jatinhos que poluem mais a atmosfera em uma hora de voo do que você vai poluir durante a vida inteira é apenas um detalhe que não pega bem lembrar.
As boas intenções, aliás, justificam até a, digamos assim, inverdade de afirmar que 120 milhões de brasileiros passam fome, ou mesmo a defesa pública do boicote a empresários brasileiros que não votam no candidato certo.
Foram estas as duas coisas que o mundo aprendeu sobre o Brasil em Davos, nos últimos dias: que mais da metade da população passa fome, e que empresas ideologicamente impuras merecem ser boicotadas, com apoio do Ministério da Fazenda.
Todos os líderes reunidos em Davos são muito bem intencionados, todos estão do lado do bem e da democracia, todos lutam pela justiça social e pelo meio ambiente
O Fórum divulgou este ano um Relatório de Riscos Globais para o planeta, no qual, na melhor tradição da novilíngua orwelliana inventou uma nova palavra: “policrise”.
Entre os principais riscos apontados para os próximos anos estão o aumento da inflação e do custo de vida, a recessão global, as mudanças climáticas, a erosão da coesão social, a polarização política, a migração descontrolada, o esgotamento de recursos naturais, crise energética, crise de abastecimento, e a “confrontação geoeconômica”.
Assim vai ficar difícil ser feliz.
O Brasil é citado 14 vezes no relatório, e uma delas chama a atenção pela clareza do diagnóstico:
“A erosão do centro social e político corre o risco de se autoperpetuar. As divisões incentivam a adoção de plataformas políticas mais extremas e de curto prazo para galvanizar um lado da população e perpetuar as crenças populistas. Notavelmente, a disputa entre dois candidatos não centristas costuma ser acirrada. Embora anunciada como um ressurgimento dos movimentos de esquerda, a eleição presidencial brasileira de 2022 foi vencida pelo presidente Lula por 1,8 ponto – a menor margem registrada desde que se tornou uma nação democrática. Como tal, uma grande proporção da população pode se sentir alienada e irritada com a liderança no mandato seguinte, agindo como um multiplicador das preocupações sociais existentes e da agitação civil. Isso é amplificado ainda mais pelas mídias sociais, que aumentam a polarização e a desconfiança nas instituições ao lado do engajamento político.”
Chama a atenção, na edição do WEF deste ano, a quantidade de painéis focados na agenda Woke – pautas identitárias, defesa do aborto, flexibilização do combate às drogas etc.
Recebeu grande destaque, por exemplo, o painel sobre “paridade de gênero” em que a titular do Ministério das Mulheres da Índia falou com muito orgulho sobre a liberação do aborto em seu país, até a vigésima-quarta semana de gestação:
Ou não, na verdade isso não chama a atenção, porque a agenda Woke vem sendo, já há muitos anos, o aríete do projeto globalista na cooptação dos corações e mentes das novas gerações.
Se Soros apoia e financia a esquerda, é porque a esquerda já não é mais a mesma de poucas décadas atrás.
Os jovens que hoje se enxergam como esquerdistas não são anticapitalistas nem pregam a luta de classes, ao contrário, são extremamente consumistas e querem usufruir do melhor que o capitalismo tem a oferecer, de preferência sem muito esforço – e com a consciência limpinha de quem se coloca do lado das minorias contra os fascistas que se recusam a votar em quem eles votam e a defender as ideias e valores que eles defendem.
Mas, como Soros e outros metacapitalistas, estes jovens são, sim, anti-conservadores: eles aprenderam em sala de aula a odiar e combater os valores e princípios associados à família, à tradição judaico-cristã, ao respeito a crenças e costumes locais etc.
Ora, são justamente esses valores e princípios representam um obstáculo à implementação da agenda do poder global hoje em curso. E é por isso que essa agenda também se estabelece por meio do financiamento aos movimentos progressistas.
A equação se inverteu: a contracultura, hoje, é conservadora, na medida em que o conservadorismo representa a real subversão, a verdadeira resistência às tentativas de controle da sociedade pelo Estado.
No Brasil o fenômeno da contracultura conservadora é evidente. Afrontar as crenças e tradições dos brasileiros comuns se tornou algo tão natural para a classe falante, uma prática tão rotineira entre intelectuais e artistas, que a verdadeira contracultura, hoje, é ir com a família à missa aos domingos, é acreditar que existem o certo e o errado, o moral e o imoral.
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