Estou lendo um livro fundamental, que precisa ser traduzido urgentemente no Brasil: “NextGen Marxism – What it is and how to combat it” (“Marxismo da próxima geração – O que é e como combatê-lo”), de Mike González e Katharine Cornell Gorka. Embora se dedique a analisar o contexto americano, suas teses se aplicam perfeitamente ao Brasil de hoje.
O livro argumenta que o marxismo vem assumindo, nas últimas décadas, uma roupagem "NextGen", adaptada às dinâmicas culturais e sociais do século 21. Trocou a bandeira da luta de classes e do combate à opressão capitalista por questões de identidade, raça e gênero – que acabam servindo para perpetuar a desigualdade. Essa transição criou novas divisões sociais e promoveu uma cultura de vitimização, desviando o marxismo de suas raízes econômicas.
A passagem da economia para a cultura não é casual: após a queda do Muro de Berlim e o fracasso do comunismo em moldes soviéticos, era preciso tentar transformar a sociedade por meio da ocupação das instituições. E essa metamorfose se dá no contexto de ascensão de um globalismo interessado em preservar as estruturas de poder, não em derrubá-las.
Uma das estratégias do sistema foi adotar a máscara da defesa da democracia e da justiça social para subverter a democracia e impedir qualquer chance real de transformação da sociedade. Isso se aplica à análise de variadas dinâmicas em curso no Brasil, como a doutrinação nas universidades, a politização do Poder Judiciário, a imposição da agenda identitária, o ataque sistemático aos valores ligados à família e ao Cristianismo, a perseguição a conservadores e a censura a adversários políticos.
O papel da ideologia na educação
Nos Estados Unidos como no Brasil, as universidades foram dominadas por ideologias de esquerda, que moldam a mentalidade das novas gerações com teorias sociais e políticas “progressistas” e criam um ambiente no qual as ideias conservadoras são marginalizadas. Longe de promover uma educação aberta, crítica e plural, escolas e universidades disseminam uma visão de mundo homogênea, que alinha a educação a uma agenda política.
Trata-se, afirmam os autores, de uma luta pelo controle do "campo cultural" – um conceito derivado da teoria gramsciana. Instituições de ensino deixaram de ser ambientes democráticos para se tornar campos de batalha. Em um ambiente de hegemonia, intelectuais e ativistas de esquerda moldam a cabeça das novas gerações não apenas politicamente, mas também em questões de valores, identidade e comportamento. Qualquer adulto que tenha filhos estudando em uma universidade pública sabe do que estou falando.
O Judiciário como ferramenta de mudança social
Outro ponto que “NextGen Marxism” aborda é o uso das instituições do Estado para promover determinadas agendas políticas ou econômicas. Os autores investigam o aparelhamento do Judiciário americano por grupos de interesse ligados ao Partido Democrata, que transformaram os tribunais em ferramentas para fragilizar adversários e implementar medidas que favoreçam a agenda progressista.
Lá como cá, o papel das Cortes superiores passou a extrapolar – e muito – a interpretação e a defesa da Constituição: juízes se tornaram legisladores, convencidos de que sua missão na Terra é editar a realidade e empurrar a História em determinada direção. Sempre com o argumento da defesa da democracia e do Estado de Direito, eles se transformaram em engajados atores políticos, com duas consequências graves: a política é "judicializada", com a perseguição, a cassação e até a prisão de adversários, enquanto a Justiça é politizada, com juízes que "têm lado".
A agenda identitária como forma de controle
Sempre segundo os autores, as políticas identitárias cumprem diferentes papéis no contexto atual. Mas são usadas, basicamente, para fragmentar demandas sociais legítimas, desviando o foco da luta contra a exploração e a desigualdade, antiga bandeira das esquerdas, para disputas por privilégios entre grupos minoritários, que entram em conflito uns com os outros – enquanto as verdadeiras elites acham graça.
Ao mesmo tempo em que serve para constranger, calar e perseguir conservadores, a agenda identitária promove a divisão da sociedade e mobiliza as novas gerações não contra estruturas de poder que perpetuam desigualdades econômicas, mas contra questões superficiais, como a linguagem neutra e os banheiros unissex - e contra os chamados “pobres de direita” da classe trabalhadora, os verdadeiros inimigos a perseguir e esfolar.
É preciso ser muito inocente para acreditar que ONGs abastecidas há décadas com capital estrangeiro são movidas apenas por boas intenções
Isso explica em parte a evidente aliança entre a esquerda e o grande capital - que financia essas agendas e interfere abertamente na soberania de países como o Brasil. Esse processo se dá, entre outras maneiras, por meio do financiamento de ONGs “boazinhas” e desinteressadas. que na prática trabalham para travar o desenvolvimento do país, o verdadeiro objetivo por trás da ajuda humanitária e da suposta defesa do meio-ambiente, entre outras causas virtuosas.
Nesta semana mesmo, aliás, o senador Plínio Valério postou no X a denúncia de que a USAID aportou US$ 18 milhões em quatro ONGs na Amazônia, para que “mobilizem Executivo, Legislativo e Judiciário para ações políticas contra projetos de desenvolvimento na região como a BR319, a ferrovia Ferrogrão e a exploração do potássio”. É preciso ser muito inocente para acreditar que ONGs abastecidas há décadas com capital estrangeiro são movidas apenas por boas intenções.
A naturalização da perseguição e da censura
A censura a adversários políticos e a perseguição a figuras públicas conservadoras também são analisadas pelos autores de “NextGen Marxism”. A estratégia de silenciamento de vozes dissidentes, geralmente identificadas com a direita, é uma extensão necessária da luta pelo controle ideológico das instituições culturais e políticas.
Fato é que, na América como no Brasil, a liberdade de expressão, quando é relativizada, deixa de ser um direito básico e passa a só ser admitida quando corrobora a hegemonia do pensamento único. Ou seja, todos são livres para dizer o que pensam, desde que pensem e digam as coisas “certas”.
No Brasil, sejam quais forem seus desdobramentos, a simples presença de um representante da OEA no nosso país para investigar denúncias sobre violações da liberdade de expressão já sinaliza a que ponto a coisa chegou. Basta dizer que Venezuela, Nicarágua e Cuba foram países que a mesma comissão da OEA já visitou.
Aqui são frequentes a censura e a perseguição a críticos das agendas progressistas, seja por meio de ataques orquestrados nas redes sociais, seja por meio do uso de instrumentos legais para criminalizar quem não se submete à ditadura do politicamente correto.
Aliás, a defesa da liberdade de expressão é outra bandeira que passou da esquerda para a direita: a mesma esquerda que, no passado, combatia a censura e pedia anistia hoje prega a censura sem o menor pudor - e grita “Sem anistia!” a plenos pulmões, babando de prazer psicopata diante da condenação de pessoas comuns a 17 anos de prisão - pena raramente aplicada, no nosso país, a ladrões, assassinos, estupradores e traficantes.
"NextGen Marxism" serve como um alerta sobre a manipulação ideológica das novas gerações e convida o leitor a refletir sobre as implicações desse processo para a liberdade individual, a erosão de valores tradicionais e a coesão social. Trata-se de uma leitura necessária para compreender o que está acontecendo hoje, no Brasil e no mundo. E para buscar alternativas que possam realmente desafiar as estruturas que perpetuam os problemas e o atraso do nosso país.
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