Ouça este conteúdo
Em uma democracia normal, as bandeiras listadas a seguir deveriam ser defendidas por todas as pessoas, sejam elas de direita, centro ou esquerda. No Brasil, infelizmente, não é assim. Essas bandeiras se tornaram traços distintivos que hoje separam e servem para identificar facilmente os eleitores conservadores, ou de “direita”, dos eleitores progressistas, ou de “esquerda” (usei as aspas porque, cada vez mais imprecisos, os conceitos de direita e esquerda muitas vezes mais confundem do que ajudam como ferramentas de análise).
Liberdade de expressão
Outrora bandeiras da esquerda, a defesa da liberdade de expressão e o combate a censura são hoje, claramente, bandeiras da direita. Já há alguns anos o esquerdista-padrão se acostumou a relativizar a importância da liberdade de expressão. Se a censura se abate apenas sobre seus adversários, ele se compraz: “Tem mais é que censurar mesmo!”.
Mais que isso: o esquerdista-padrão acusa de fascistas aqueles que teimam em lutar pela liberdade de expressão. Sim, chegamos a este ponto: quem luta pela liberdade de expressão é fascista; quem relativiza o horror da censura é defensor da democracia.
Combate à corrupção
Pelo menos desde a Operação Lava-Jato, o esquerdista-padrão também aprendeu a relativizar a importância do combate à corrupção. Com o desmonte da operação, ele perdeu qualquer pudor: hoje o esquerdista-padrão festeja quando réus confessos são inocentados. Ele acha certo fortunas roubadas do povo brasileiro e recuperadas pela Justiça serem devolvidas aos ladrões. Festeja, também, quando juízes que combateram a corrupção são abertamente perseguidos, como se fossem eles os criminosos.
Segurança pública
O esquerdista-padrão reduz o problema da segurança pública a uma questão social: o crime é produto da desigualdade, então os criminosos também são vítimas. Sendo assim, só se revolverá o problema da violência quando se resolver o problema da desigualdade.
Embora a tese convença muita gente bem intencionada, especialmente entre os jovens, a consequência prática disso é aceitar passivamente que os bandidos continuem roubando, estuprando e matando cidadãos indefesos, até que se resolva o problema da desigualdade.
Separação dos Poderes
Este é outro tema sobre o qual o esquerdista-padrão silencia porque se sente beneficiado – e continuará silenciando enquanto se sentir beneficiado, mas isso pode mudar.
Tudo bem o Judiciário legislar, já que ele legisla sempre contra a direita conservadora. Tudo bem perseguir, cassar e até prender parlamentares por crime de opinião, já que somente parlamentares de direita são perseguidos, cassados e até presos. Tudo bem afrontar o Legislativo, já que em todos os casos essa afronta se dá em prejuízo da direita.
Responsabilidade fiscal
Parece evidente que uma gestão desastrosa da economia prejudica todos os brasileiros, começando pelos mais pobres. Na cabeça do esquerdista-padrão não é assim.
Ele acha melhor uma inflação de esquerda que uma estabilidade econômica de direita. Ele prefere perder a casa, a família, o emprego sob uma gestão desastrosa de esquerda a ver a economia sendo bem administrada por um partido adversário. Ele prefere o déficit de trilhões do governo do amor ao superávit do governo do ódio.
Em caso de desastre absoluto, quando a economia do país chegar ao fundo do poço o esquerdista-parão terá sempre a saída de colocar a culpa pelo caos na herança maldita do governo passado. Ou de responsabilizar o novo governo pela crise, como está acontecendo na Argentina.
Soberania nacional
O esquerdista-padrão acredita que que os bilionários globalistas e os governantes europeus são generosos e altruístas, e que eles estão pensando no bem do Brasil quando injetam milhões de dólares em ONGs que, na prática, trabalham, por exemplo, contra a emancipação econômica da Amazônia. Afinal de contas, a prioridade não é erradicar a miséria da região, é preservar a floresta como um santuário.
Transparência
Esta é outra bandeira que é hoje defendida com exclusividade pela direita. O esquerdista-padrão se irrita quando brasileiros comuns pedem mais transparência, por exemplo, no processo eleitoral. O fato de a esquerda ter vencido a eleição é, para ele, prova inequívoca de que o sistema não pode ser criticado nem precisa ser aprimorado. Criticar o sistema é atacar a democracia, crime sujeito a penas severas.
Qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual reconhecerá que a defesa de todas as bandeiras acima está hoje, no Brasil, claramente associada à direita.
Identificadas com a esquerda, restam hoje as seguintes bandeiras:
Aborto, descriminalização das drogas etc
O esquerdista-padrão, hoje, se sente obrigado a defender a liberação do aborto e a descriminalização das drogas, porque todo mundo sabe que somente os fascistas são contra o aborto e as drogas. Todas as pautas de costumes, aliás, são fascistas, incluindo o combate à ideologia de gênero.
Agenda ambiental
Desenvolvimento sustentável é importante, por óbvio. Mas, para o esquerdista-padrão, é mais importante proteger as girafas da Amazônia que garantir condições mínimas de subsistência à população local, que hoje vive na miséria e não tem acesso sequer a saneamento básico. Somente os países ricos podem continuar explorando combustíveis fósseis, enquanto dão ordens e lições de moral ao Brasil.
O combate ao fascismo imaginário
Para o esquerdista-padrão, a democracia está em risco permanente. Por isso ele aprova que medidas excepcionais de supressão de direitos individuais continuem a ser adotadas, até que todos os fascistas sejam varridos do mapa. E o extermínio “do bem” deve começar pelas redes sociais.
Pautas identitárias
O combate à intolerância é importantíssimo, mas, apropriado pela esquerda, pode ser utilizado para dividir, mais que para unir os brasileiros. Mas, para o esquerdista-padrão, como é impossível que todos vivam em harmonia, é preciso estimular o ressentimento e jogar brasileiros contra brasileiros, porque só assim o amor vai vencer.
Programas sociais e combate à desigualdade
Outra bandeira importantíssima, mas o esquerdista-padrão parece ignorar o fato de que a igualdade na miséria pode ser muito pior que a desigualdade com crescimento econômico e prosperidade.
Por outro lado, como muitos esquerdistas-padrão acreditam sinceramente que a direita odeia os pobres, no fundo o que realmente importa não é combater a desigualdade, é combater a prosperidade. Porque o inaceitável, o insuportável, não é a existência de miseráveis, é a existência de pessoas ricas – a não ser que sejam bilionários financiadores de ONGs de esquerda, aí tudo bem.
O que essas bandeiras hoje associadas à esquerda têm em comum? O fato de elas fazerem se sentir virtuoso aquele que as defende. Por isso, para o esquerdista-padrão o que importa em um candidato não é ser honesto e competente, mas ostentar o tempo inteiro a própria virtude e apontar o dedo para os “fascistas”.
O esquerdista-padrão vota não para tentar resolver os problemas do país, mas para sair da urna se sentindo uma pessoa boa, virtuosa e moralmente superior.
A pergunta é: quais bandeiras são hoje mais importantes para o brasileiro comum, que está preocupado em pagar os boletos, em criar bem os filhos e em chegar em casa em segurança depois do trabalho? Quais bandeiras são mais importantes para o brasileiro comum, que não se importa com os rótulos de direita e esquerda? A resposta determinará o futuro do nosso país.