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Criado em 2019, o partido CHEGA foi a grande sensação das eleições do último domingo em Portugal: recebeu mais de 1 milhão de votos, quadruplicou o número de cadeiras no Parlamento (saltando de 12 para 48) e se consolidou como uma força em ascensão meteórica no país.
Liderado por André Ventura, o CHEGA é unanimemente descrito pela grande mídia brasileira como sendo de “direita radical”, “extrema direita” ou, o que está mais na moda, “ultradireita”.
Será mesmo? Não sou uma agência de checagem, mas, intrigado com a determinação da mídia em classificar o CHEGA como um partido extremista, resolvi investigar.
Fui direto à fonte, o estatuto da agremiação. É de cair o queixo. Já em seu Artigo 2º (Declaração de princípios e fins), o documento diz:
“O CHEGA tem como finalidades a promoção e a defesa da democracia política nas suas valências, social, económica e cultural, consagradas nos valores do Estado de Direito e nos princípios emergentes da dignidade da pessoa humana. (...)
O CHEGA declara como seus Princípios e Valores fundamentais:
- A proteção da dignidade da pessoa humana e do valor fundamental da Liberdade nas suas diversas vertentes, contra todas as formas de totalitarismo, por mais sofisticadas que se apresentem;
Fascismo. Como todo mundo sabe, a defesa da liberdade (ainda mais com “L” maiúsculo!”) é típica de quem ataca a democracia e o Estado de Direito. Defender a liberdade é coisa de gente autoritária, já que a liberdade, como aliás a democracia, é relativa. Liberdade de quem? Para fazer o quê? Depende, né?
- A defesa de um Estado neutro nas questões religiosas, mas reconhecendo e respeitando o papel decisivo desempenhado pelo Cristianismo na estruturação da civilização europeia e na História de Portugal;
Onde já se viu? O Cristianismo é a religião do opressor. Portugal e a civilização europeia deveriam ter vergonha do legado cristão, que eles inclusive ajudaram a disseminar entre os povos colonizados. E defender o Cristianismo é defender a família tradicional opressora, que é contra os direitos reprodutivos.
- A promoção de uma justiça efectiva e eficaz no combate aos novos fenômenos da criminalidade, nomeadamente a criminalidade hedionda e violenta, quer de natureza nacional, quer transnacional;
Outro absurdo. A criminalidade tem raízes sociais profundas: os criminosos são eles próprios as maiores vítimas de uma sociedade injusta e desigual. Só mesmo um partido de ultradireita teria a desfaçatez de defender o combate ao crime. Crime só se resolve com Educação, não com repressão.
Onde estava o Tribunal Superior Eleitoral português quando permitiu a ascensão do CHEGA? Ah, não tem TSE em Portugal? É preciso criar um, com urgência!
- A defesa de um Estado mínimo, transparente e eficaz na relação entre o cidadão e os seus representantes;
Inaceitável! Como sabe qualquer criança em idade pré-escolar, o Estado mínimo está no cerne da ideologia fascista que tantas tragédias causou na História da humanidade, começando por Mussolini, que dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do...”. Não, espera. Fiquei confuso agora.
- A construção de uma Sociedade do Conhecimento plena e integrada, com garantia de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos;
Fascismo. Não adianta falar em igualdade de oportunidades em uma sociedade estruturalmente desigual. É preciso primeiro reparar as dívidas históricas, criando milhares de universidades e distribuindo diplomas para todos. “Igualdade de oportunidades” é um discurso típico da extrema-direita, que ainda acredita na meritocracia em pleno século 21.
- A rejeição de todas as formas de racismo, xenofobia e de qualquer forma de discriminação, seja ela positiva ou negativa, contrária aos valores fundamentais da nossa cultura, da nossa História e da tradição.
Ultradireita! Não, espera, fiquei confuso de novo.
- O combate à corrupção como uma batalha fundamental a travar.
O lavajatismo chegou a Portugal! E nós já vimos aonde leva a criminalização da corrupção: à ascensão de políticos conservadores e de extrema-direita, de gente que precisa ser extirpada da sociedade! A realidade é que o combate à corrupção representa hoje uma ameaça à democracia e ao Estado de Direito. Quem defende de verdade a democracia é a favor do assalto, como aliás já declarou uma importante filósofa. Mas esperar que pessoas feias, cafonas e toscas de extrema-direita entendam de filosofia já é querer demais. O combate ao atual sistema de extorsão fiscal transformado em terrorismo de Estado.
O Estado precisa aumentar impostos para fazer cada vez mais pelos pobres, é tão óbvio! Só não enxerga isso quem vai às ruas se manifestar contra o governo com uma Bíblia debaixo do braço, isso sim é terrorismo! Portugal tem muito a aprender com o Brasil.
Aliás, hoje o Brasil tem instituições muito mais avançadas e está dando lições de democracia até mesmo para os Estados Unidos, onde, vejam só que absurdo, a Suprema Corte decidiu que o candidato favorito do povo pode concorrer à Presidência! Mas o que esperar de um país onde o voto ainda é impresso?
O documento continua: as aberrações fascistas, incluindo liberdade econômica, limites à imigração desenfreada e defesa da família, vão até a letra “p”. Mas, nesta altura, já deve estar claro para o leitor que o CHEGA é mesmo um partido de extrema-direita, de direita radical e de ultradireita. Digo mais: é um partido fascista, que representa uma ameaça à democracia e ao Estado de Direito.
Onde estava o Tribunal Superior Eleitoral de Portugal quando permitiu que um partido assim, tão cafona e extremista, concorresse às eleições?
Ah, não tem TSE em Portugal? É preciso criar um, com urgência! Vai que o CHEGA continua crescendo e chega (desculpem o trocadilho) em primeiro lugar nas próximas eleições? A democracia precisa ser protegida, não podemos baixar a guarda. O Fascismo continua à espreita.