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O vídeo abaixo traz um trecho do recém-lançado documentário “What is a woman?” (“O que é uma mulher?”), do jornalista americano Matt Walsh, que escreve no portal The Daily Wire. Walsh aparece conversando com membros da tribo Maasai, no Quênia: com ajuda de um intérprete, ele faz perguntas simples sobre sexo e identidade de gênero a alguém que parece ser um líder tribal, começando pela questão que dá título ao filme.
(Aliás, convido aqui o leitor a responder na seção de comentários: o que é uma mulher?)
Ao longo do documentário, as mesmas perguntas são feitas a médicos, professores universitários de “estudos de gênero”, psiquiatras, terapeutas de casal, representantes das comunidades gay e trans e um cirurgião especializado em operações de mudança de sexo, entre outros personagens. O psicólogo Jordan Peterson também dá um depoimento.
No estilo irreverente dos documentários de Michael Moore, o próprio Walsh aparece no filme, conduzindo as entrevistas. Aparece, também, falando em um seminário sobre a política adotada por uma escola na Virginia, que determinou que crianças e adolescentes transgênero sejam tratados pelos pronomes de sua preferência – e frequentem o banheiro de sua preferência.
“Vocês são abusadores de crianças!”, ele acusa. “Vocês estão doutrinando crianças para um culto ideológico insano, segundo o qual meninos podem ser meninas e meninas podem ser meninos!”. Em outro momento do filme, Walsh conta ter sido chamado de transfóbico por dizer que sente atração por mulheres, mas não por mulheres trans. Desnecessário dizer, a manifestação dessas opiniões e preferências lhe valeu o cancelamento pelos ativistas woke e até ameaças de morte.
Uma seleção de momentos representativos do filme foi feita no vídeo abaixo:
Chama a atenção no documentário “What is a woman?” a dificuldade que os entrevistados têm, apesar de suas credenciais acadêmicas, em oferecer uma definição clara e coerente de mulher. Mesmo os ativistas da ideologia de gênero não vão além de repetir a tese de que não há diferenças entre uma mulher trans e uma mulher, de que mulher é todo aquele que se identifica como mulher. Um raciocínio circular, que deixa sem resposta a pergunta: afinal, o que é uma mulher?
Talvez por isso a parte mais interessante do documentário seja mesmo a conversa de Walsh com os Maasai. Em contraste com os depoimentos turvos dos entrevistados americanos, os Maasai têm uma percepção clara e objetiva das diferenças entre homens e mulheres. Eles riem, assombrados e confusos, quando Walsh pergunta se um homem pode virar uma mulher, ou se uma mulher pode ter um pênis.
Aos olhos da mídia do Ocidente, os membros da tribo Maasai podem ser considerados homofóbicos, transfóbicos, reacionários e fascistas. Mas, na verdade, eles apenas estão sendo fiéis aos valores compartilhados em sua tribo desde tempos imemoriais – e que não são, aliás, valores impostos pelo homem branco ocidental, como alega certa militância que atribui à opressão colonial a concepção binária dos gêneros, que sempre prevaleceu ao longa da História: é impossível apontar uma sociedade sequer cuja organização ignore a premissa, fundadora, de que existem diferenças entre homens e mulheres. Obviamente, como demonstraram inúmeros antropólogos, a relação entre os sexos pode se estruturar em bases muito diferentes; mas as diferenças permanecem.
Papéis sociais tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres não são universais: tais papéis são sempre construções culturais, pelo simples fato de que tudo que não é determinado pela natureza – nosso comportamento, nosso idioma, nossos hábitos, nossos valores – é determinado pela cultura. Portanto, ser uma construção cultural, em si, não é algo bom nem ruim.
Evidentemente, as novas identidades fluidas de gênero também são uma construção cultural, já que não são dadas pela natureza. Mas essa construção apresenta duas diferenças em relação à concepção binária tradicional que hoje se tenta destruir.
A primeira diferença: essa nova construção não passou pelo teste da História. Em nenhuma sociedade, em nenhum tempo, indivíduos acreditavam poder escolher ser homens ou mulheres – o que é muito diferente de poder escolher ser homossexual ou heterossexual; a homossexualidade existe desde sempre.
Quem garante quais serão as consequências a longo prazo desse projeto radical de reengenharia social que está sendo imposto por uma minoria ao conjunto da sociedade, usando como cobaias crianças e adolescentes? Quem garante que crianças a quem se ensina que não existem diferenças entre meninos e meninas serão adultos mais saudáveis e felizes? Ao contrário, não faltam estudos que sinalizam serem alarmantes os índices de depressão e suicídio na população transgênero após tratamentos hormonais e/ou procedimentos cirúrgicos de transição.
A segunda diferença é que a construção cultural do ativismo woke apaga por decreto as diferenças entre homens e mulheres, com base na premissa de que a biologia não importa. Já a construção cultural dos Maasai parte de uma base natural, isto é, não-cultural, que são justamente essas diferenças (biológicas, anatômicas, fisiológicas, psicológicas etc.) entre homens e mulheres.
Ora, no ambiente de relativismo cultural em que vivemos, que direito tem um ativista ocidental de criticar os Maasai? Cadê o lugar de fala para desqualificar essa minoria que vive na África?
Pode-se argumentar que, por terem uma vida mais próxima do estado de natureza, os Maasai talvez entendam que há limites objetivos que são inescapáveis na vida – limites que o homem civilizado, em suja presunção, já não entende.
Deve-se combater o preconceito e a discriminação contra a minoria trans, evidentemente; Mas também se deve reconhecer que, como em todos os aspectos da vida, também aqui a liberdade é limitada, e é preciso aceitar isso. Eu, sendo homem, sou livre para escolher minhas práticas sexuais, e (se eu não estiver violando nenhuma lei nem fazendo mal a outra pessoa), ninguém tem nada a ver com isso; mas, por mais que eu deseje, eu não sou livre para decidir ser mãe.
Existem diferenças entre homens e mulheres que são naturais, que não são construções sociais e culturais. E existem papéis de gênero que, sendo sociais, ao longo da História decorreram diretamente dessas diferenças, foram determinados por elas.
Para ficar em um exemplo óbvio: por duro que seja para muitos homens, somente as mulheres podem ter a experiência da maternidade; um indivíduo que nasceu homem mas optou pela identidade de gênero feminina, ou que se submeteu a tratamentos ou intervenções cirúrgicas para “virar mulher” pode até se identificar como mulher – e deve ser respeitado nessa escolha – mas jamais poderá ficar grávido, nem dar à luz, nem amamentar.
A experiência da gravidez e da maternidade, exclusiva das mulheres, cria laços entre uma mãe e seu bebê que um pai jamais experimentará (ele experimentará outros laços, evidentemente, mas não os mesmos da mulher). Mesmo que cancelem metade da população do planeta, isso não vai mudar.