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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Entrevista imaginária com George Orwell

(Foto: Reprodução Instagram)

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Tive a ideia de fazer uma entrevista imaginária com George Orwell (1903-1950), autor da distopia “1984”, depois de ver o meme abaixo. De fato, em diversos aspectos, a realidade brasileira hoje supera a mais alucinada ficção. Se voltasse à vida e acompanhasse o nosso noticiário, o escritor inglês, também autor da atualíssima novela satírica “A revolução dos bichos”, ficaria seguramente escandalizado.

Todas as respostas foram compostas exclusivamente por transcrições literais de trechos de livros de ficção ou ensaio e declarações do escritor, agrupadas conforme o tema da pergunta.

- Qual é a sua avaliação sobre a situação política no Brasil hoje?

GEORGE ORWELL: A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável. ⁠A heresia das heresias é o bom senso. Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante. Descemos a um ponto tal que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes.

- O que o senhor diria sobre a narrativa do "nós contra eles", que divide e envenena a sociedade brasileira?

ORWELL: Toda guerra quando chega, ou antes de chegar, é representada não como uma guerra, mas como um ato de autodefesa contra um maníaco homicida. (E) a consciência de estar em guerra, e portanto em perigo, faz parecer natural a entrega de todo poder a uma pequena casta.

- E o que diria sobre o papel da grande mídia nesse processo?

ORWELL: Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado. Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento. Houve um tempo em que se considerava sinal de loucura acreditar que a Terra girava em torno do Sol. Hoje, o sinal de loucura é acreditar que o passado é inalterável. Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força. (Mas o verdadeiro) jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.

- O que o senhor acha dos sinais emitidos até aqui pelo Governo eleito, sobretudo na área econômica?

ORWELL: Algumas ideias são tão estúpidas que apenas um intelectual pode acreditar nelas, já que o homem comum não consegue ser tão tolo.

“Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano para sempre”

George Orwell

- Mudando de assunto: como o senhor avalia os crescentes ataques à liberdade de expressão no Brasil?

ORWELL: Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Quando se concorda nisso, o resto vem por si.

- Mas por que esses ataques só acontecem contra a direita e os conservadores?

ORWELL: Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.

- Ainda é possível ficar otimista?

ORWELL: Quem está ganhando no momento sempre parece ser invencível. (Mas) os sentimentos elevados vencem sempre no final; os líderes que oferecem sangue, trabalho, lágrimas e suor conseguem sempre mais dos seus seguidores do que aqueles que oferecem segurança e diversão. Quando se chega às vias de fato, os seres humanos são heroicos.

- O que o senhor acha que pode acontecer, no futuro?

ORWELL: Poder não é um meio, mas um fim. Não se estabelece uma ditadura para proteger uma revolução: faz-se a revolução para instalar a ditadura. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano para sempre.

- O que os cidadãos comuns podem fazer?

ORWELL: Bastava-lhes levantar e sacudir-se, como um cavalo sacode as moscas. ⁠(Mas) eles jamais se rebelarão se antes não se tornarem conscientes, e só poderão se tornar conscientes após se terem rebelado. (Por outro lado), a maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la. Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário. Toda piada é uma pequena revolução.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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