![Hipocrisia, Coca-Cola e a nova musa do clima Hipocrisia, Coca-Cola e a nova musa do clima](https://media.gazetadopovo.com.br/2022/11/14103439/gazeta-coca1-855x540.png)
Em apenas uma hora de voo, um jato particular pode emitir dezenas de toneladas de Co2 na atmosfera, o equivalente a meses inteiros de emissões produzidas por um cidadão europeu médio.
Pois bem, nos últimos dias mais de 400 jatos particulares já voaram para a COP 27, a conferência sobre mudanças climáticas promovida pela ONU que se realiza em Sharm el-Sheikh, no Egito, com o patrocínio da Coca-Cola.
(A Coca-Cola produz plástico e poluição em escala industrial: são centenas de milhões de garrafas descartáveis fabricadas por ano, sem falar na água consumida na produção de refrigerantes. Mas, para a ONU, este é um detalhe irrelevante).
Até o final do evento, no próximo dia 18, outros jatos ainda chegarão, incluindo o que levará o presidente eleito de um certo país da América Latina – um Gulfstream G650 que só na viagem de ida lançará na atmosfera mais de 100 toneladas de CO2, segundo esta reportagem.
Situado na costa da desértica Península do Sinai, o balneário de Sharm el-Sheikh é uma espécie de resort de luxo construído em um país miserável, sem liberdade de expressão e governado por um ditador para atrair turistas super-ricos do Primeiro Mundo.
Seguramente, todos os ilustres passageiros dessas centenas de jatos farão ou já fizeram na COP 27 discursos muito bonitos e previsões alarmistas sobre o meio-ambiente (resumindo, a mensagem é: “Pela vigésima vez, está será nossa última oportunidade de salvar o planeta!”).
Todos enfatizarão a importância de preservarmos o mar, os rios e as florestas para as futuras gerações – e em seguida voltarão a poluir a atmosfera em seus voos de volta para casa, com a consciência limpinha.
Não é uma hipocrisia governantes e ativistas da agenda verde usarem jatinhos altamente pouidores - em vez de aviões de carreira, que provocam danos bem menores ao meio-ambiente?
Não é uma hipocrisia esses governantes e ativistas fecharem os olhos para as reiteradas violações dos direitos humanos cometidas pela ditadura egípcia?
É sobre isso e está tudo bem.
Vai dar certinho, confia
A COP 27 reúne cerca de uma centena de chefes de Estado e de Governo, cada qual querendo se mostrar mais preocupado que o outro com o futuro do meio-ambiente. Mas uma ausência se destaca: a do secretário-geral do partido Comunista Chinês, Xi Jinping.
A China é, disparado, o maior poluidor do planeta, mas seu presidente ignorou solenemente a COP 27, preferindo enviar um emissário mequetrefe. Vai dar certinho, confia.
Segundo entendi, os governantes dos países ricos, que destruíram sem piedade a natureza ao longo de 200 anos, agora querem impor aos países em desenvolvimento regras draconianas (e de eficácia duvidosa) para preservar o que resta das florestas no planeta - ao mesmo tempo em que terceirizam para países africanos a produção de energia suja.
O bom-mocismo climático se baseia na caridade com chapéu alheio.
Em troca pelo cumprimento de metas aleatórias, a ONU oferece a promessa de um dinheiro que nunca chega – e quando chega, se perde na corrupção.
Por coincidência, se cumpridas à risca, muitas destas regras prejudicarão fortemente o agronegócio brasileiro, que está se mostrando um incômodo competidor para a produção local dos países ricos. As regras podem, também, comprometer a soberania brasileira sobre a Amazônia.
Por outro lado, em um cenário de crise energética, frio, inflação galopante e risco de desabastecimento, o humor dos europeus não está tão favorável quanto outrora à agenda verde. Pode demorar, mas em algum momento a realidade acaba prevalecendo sobre a narrativa.
Sai Greta, entra Sophia
Figurinha fácil nas últimas conferências do clima da ONU e outros eventos similares, Greta Thunberg não compareceu à COP deste ano.
Mas não se preocupem: a ONU já inventou uma nova musa do clima. Trata-se da jovem americana (de ascendência iraniana) Sophia Kianni, de 20 anos, que se apresenta como conselheira oficial do secretário-geral das Nações Unidas, o português Antonio Gutierres, com quem aparece na foto abaixo:
![](https://media.gazetadopovo.com.br/2022/11/14101915/image-7.png)
A própria Sophia postou a foto em suas redes sociais, com a legenda “Você pode ser conselheira do chefe das Nações Unidas e ainda usar uma roupa fofa! #GenZ”.
Em um post anterior, ela já havia escrito, muito orgulhosa: “Com 20 anos, eu sou a mais jovem conselheira das Nações Unidas. A Geração Z está finalmente na mesa de tomada de decisões”.
Não é um alívio saber que decisões sobre o clima do planeta estão sendo tomadas por uma jovem patricinha de 20 anos? Vai dar certinho, confia.
Em uma terceira postagem, também ao lado de Gutierrez (corre o boato de que a esposa do secretário-geral da ONU já está ficando preocupada, e os figurinos usados pela conselheira na COP já estão provocando uma controvérsia nas redes sociais), Kianni escreveu:
“Sou a conselheira mais jovem do chefe das Nações Unidas. Nós dois temos uma mensagem para os líderes mundiais. Parem de mentir”.
![](https://media.gazetadopovo.com.br/2022/11/14102225/image-8.png)
Um trecho do previsível discurso de Sophia Kianni na COP 27 está disponível neste link.
É basicamente a mesma mensagem dos discursos de Greta, em uma versão de mini-saia: os líderes mundiais precisam parar de mentir e começar a agir para salvar o planeta, blá-blá-blá.
Não sei não, acho que em breve Greta será escanteada pelos seus criadores. Mas Sophia Kianni também corre um risco: o de ser cancelada por ser magra e bonita: muitas fotos do seu perfil no Instagram devem provocar gatilho e parecer inadmissíveis para vários grupos identitários.
Verdades inconvenientes
Concluo com algumas verdade inconvenientes, para reflexão do leitor:
- Carvão, petróleo e gás natural ainda respondem por 82% da energia usada no planeta; a energia nuclear, a hidroelétrica e a biomassa respondem por outros 16%; menos de 2% vêm de fontes limpas, como a energia eólica e a solar - que, realisticamente, não têm como atender às necessidades de consumo do mundo.
- Combustíveis fósseis continuarão a ser usados nos países em desenvolvimento porque são necessários para extrair as matérias-primas usadas na produção da “tecnologia verde”, apregoada pelos países ricos. Ou seja, mesmo que os países ricos eliminem totalmente o uso de combustível fóssil em seus territórios, os níveis atmosféricos de CO2 continuarão a subir. (A este respeito, ver meu artigo “Michael Moore revela verdades inconvenientes sobre a energia verde”.)
- Os países que mais emitiram CO2 em 2021, segundo o insuspeito Global Carbon Project, são: China (10,7 gigatoneladas), Estados Unidos (4,7), Índia (2,4) e Rússia (1,6). O Brasil só aparece na lista bem depois, com 0,5 gigatonelada.
O leitor encontrará mais verdades inconvenientes sobre os maiores responsáveis pela poluição do planeta nesta reportagem do portal Poder360 e neste artigo da revista "Forbes".
Não é o Brasil o vilão desta história.
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