Na última quarta-feira, em sua primeira viagem internacional desde que assumiu a presidência da Argentina em 10 de dezembro, Javier Milei fez um discurso histórico no 54º Fórum Econômico Internacional, na Suíça, que reúne grandes empresários, lideranças políticas e outros poderosos do planeta.
Já ao desembarcar, Milei declarou que seu objetivo era “inserir ideias de liberdade em um Fórum que está contaminado pela agenda socialista 2030” – aquela agenda que diz que você não terá nada, mas será feliz.
Para desgosto dos anfitriões, Milei usou seus 23 minutos sob os holofotes para confrontar a narrativa globalista em acelerada expansão e fez uma defesa intransigente da liberdade, do mercado e da soberania.
Milei já começou pisando no acelerador:
“Boa tarde, muito obrigado: hoje estou aqui para dizer que o Ocidente está em perigo; está em perigo porque aqueles que deveriam defender os valores do Ocidente encontram-se cooptados por uma visão de o mundo que – inexoravelmente – conduz ao socialismo, consequentemente à pobreza. Infelizmente, nas últimas décadas, (...) os principais líderes do mundo ocidental abandonaram o modelo de liberdade por diferentes versões do que chamamos de coletivismo.”
Milei foi além: disse que ideias nocivas impregnaram a sociedade ocidental porque “os neomarxistas souberam se apropriar do senso comum, graças à ocupação dos meios de comunicação, da cultura, das universidades e também dos organismos internacionais.”
“Não se deixem intimidar pela casta política ou pelos parasitas que vivem do Estado. Não se rendam a uma classe política que só quer permanecer no poder e manter os seus privilégios”
Klaus Schwab, o criador do Fórum de Davos, deve ter engolido em seco. E, à medida que Milei avançava em suas diatribes contra a Agenda 2030, aumentavam a tensão e o desconforto da plateia, que, no final do discurso, aplaudiu o presidente argentino de forma pouco efusiva.
"O capitalismo de livre iniciativa é a única ferramenta que temos para acabar com a fome e a pobreza", afirmou Milei, para quem a principal função do Estado hoje é criar “alavancas de controle, em vez de permitir que os cidadãos tenham a liberdade de prosperar por meio de seus próprios esforços”.
O discurso confirma que Milei segue firme na intenção de implementar um choque de capitalismo na Argentina. Isso se deve em parte à avaliação de que o principal motivo do fracasso do Governo Macri foi o gradualismo.
A tese do presidente argentino, derivada da Escola Austríaca de Economia e do pensamento de Mises e Hayek, é que toda intervenção do Estado, no fundo, só difere em grau do modelo socialista testado e miseravelmente reprovado em todos os países onde se tentou implementá-lo.
O programa de Milei é, basicamente, consertar o caos econômico produzido pelo peronismo, abrindo o mercado, fomentando o crescimento comandado pela iniciativa privada e usando o escasso dinheiro público para ajudar os mais vulneráveis, e não para sustentar a máquina estatal.
Se vai dar certo, só o tempo vai dizer. Milei está contrariando muitos interesses, e nós sabemos que o sistema é bruto, companheiro.
Mas é certo que Milei já está emergindo como a grande estrela da política latino-americana – e a principal voz na defesa da liberdade e da soberania. Para desespero do poder econômico, ao qual aderem em tantos países a esquerda consentida e a direita consentida, no teatro global de bom-mocismo a que pretendem reduzir a política.
Seguem abaixo mais oito trechos do discurso, que pode ser assistido na íntegra no vídeo acima.
Sobre o socialismo:
“Nunca se deve esquecer que o socialismo é sempre e em toda parte um fenômeno empobrecedor, que falhou em todos os países onde foi tentado. Foi um fracasso econômico, social e cultural e também assassinou mais de 100 milhões de seres humanos.”
Sobre o aborto:
“Outro conflito que os socialistas promovem é o do homem contra a natureza. Afirmam que os seres humanos prejudicam o planeta e que este deve ser protegido a todo o custo, chegando mesmo a defender mecanismos de controle populacional ou a sangrenta agenda do aborto.”
Sobre os impostos:
“O Estado é financiado por meio de impostos. e os impostos são coletados coercitivamente. Ou alguém aqui pode dizer que paga voluntariamente? Isso significa que o Estado é financiado por meio da coerção. Quanto maior a carga fiscal, maior é a coerção e menor a liberdade.”
Sobre o coletivismo:
“Felizmente, somos cada vez em maior número os que ousam levantar a voz, porque vemos que, se não combatermos frontalmente estas ideias, o único destino possível é que teremos cada vez mais Estado, mais regulação, mais socialismo, mais pobreza, menos liberdade e, consequentemente, pior nível de vida.”
Sobre o passado da Argentina:
“Quando adotamos o modelo de liberdade – em 1860 – em 35 anos nos tornamos a primeira potência mundial, enquanto quando abraçamos o coletivismo, ao longo dos últimos 100 anos, vimos como os nossos cidadãos começaram a empobrecer sistematicamente, até cair para o número 140 no mundo.”
Sobre a liberdade:
“O modelo que propomos para a Argentina do futuro baseia-se nos princípios fundamentais do libertarianismo: a defesa da vida, da liberdade e da propriedade.”
Sobre a agenda feminista:
“Os socialistas foram forçados a mudar a sua agenda (…). A primeira dessas novas batalhas foi a luta ridícula e antinatural entre homem e mulher (...). A única coisa que esta agenda feminista radical resultou foi uma maior intervenção do Estado para dificultar o processo econômico e dar trabalho a burocratas que em nada contribuíram para a sociedade, seja nos formatos de Ministérios da Mulher ou em organizações internacionais dedicadas a promover esta agenda.”
Sobre o empreendedorismo:
“Não se deixem intimidar pela casta política ou pelos parasitas que vivem do Estado. Não se rendam a uma classe política que só quer permanecer no poder e manter os seus privilégios. Vocês são benfeitores sociais. Você são heróis. Não cedam ao avanço do Estado. O Estado não é a solução, é o próprio problema.”
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