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Aos 23 anos, Joshua Wong já é um veterano no ativismo pela liberdade em Hong Kong. Aos 17, após comandar manifestações estudantis contra uma reforma da educação imposta pelo Governo chinês, ele já estava na capa da revista “Time”, com a manchete: “O rosto do protesto”. Também mereceu destaque em reportagens do jornal “Financial Times” e das revistas “Forbes” e “Fortune”, que o citaram como uma das lideranças mais relevantes da última década. Em 2017, foi tema de um documentário da Netflix, “Joshua – Adolescente x superpotência”, que o retrata como um herói da democracia. No ano seguinte, seu nome chegou a ser considerado para o Prêmio Nobel da Paz.

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Joshua Wong oferece um resumo da sua breve mas intensa trajetória como ativista político no livro “Democracia ameaçada – A liberdade de expressão em risco e por que precisamos agir, agora”, uma mistura de manifesto e livro de memórias. Wong já foi comparado à “pirralha” Greta Thunberg como representante de uma geração disposta a tudo para transformar o mundo, mas os dois são muito diferentes. Basta dizer que Greta, um fenômeno fabricado pela mídia e colocado a serviço de uma agenda globalista, jamais esteve na prisão e nunca sofreu qualquer sanção por sua aparente rebeldia; já Joshua, um defensor da liberdade econômica, já foi preso em diferentes ocasiões.

Para se entender a importância da luta de Joshua, convém fazer uma breve recapitulação da História de Hong Kong: em 1842, a ilha foi cedida pela China à Grã-Bretanha, e nessa condição ela atravessou incólume, com prosperidade e liberdade econômica, um século marcado pela tragédia do comunismo chinês: enquanto o Grande Salto para a Frente e a Revolução Cultural faziam milhões de vítimas, Hong Kong prosperava. Em 1984, contudo, foi assinado um acordo-sino-britânico que determinou a devolução da ilha à China, o que aconteceu em 1997. Apesar de a ditadura chinesa adotar o lema “um país, dois regimes”, com Hong Kong preservando o sistema capitalista (pelo menos até 2047, quando a ilha será totalmente anexada), desde então vêm sendo impostos à população local diversos mecanismos de controle e cerceamento de liberdades.

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Joshua é de uma família cristã: seus pais se casaram semanas depois do massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, e seu nome homenageia um personagem do Antigo Testamento. Eles contam que o filho demonstrou desde menino a vocação para a oratória, talento que ele colocou em prática já aos 14 anos, quando organizou protestos contra o novo currículo escolar, que exaltava o partido comunista chinês. Nascia ali o movimento “escolarista”, que se opunha à lavagem cerebral dos estudantes por professores comunistas. (Que falta um movimento assim faz no Brasil...)

Poucos anos depois, rebatizado como “Revolução dos Guarda-chuvas”, na chamada “Primavera asiática”, o movimento comandado por Joshua promoveu manifestações com mais de 100.00 pessoas. O governo acabou cedendo na questão escolar, mas em compensação baixou decretos criminalizando quaisquer “atos que sejam considerados subversivos ou terroristas, que promovam a secessão de Hong Kong ou que sejam organizados em conluio com forças estrangeiras”. Com base na nova Lei de Segurança Nacional, Joshua foi preso por “reunião ilegal” e passou seis meses na prisão de Pik Uk. Ele voltaria a ser preso em 2016 e novamente condenado no ano seguinte: temporadas na prisão são o preço que ele vem pagando por ousar desafiar o regime ditatorial da segunda nação mais poderosa do planeta.

Em 2016, o escolarismo resultou na criação de um partido político, o Demosisto, que mesmo sem recursos conseguiu eleger um deputado para o Conselho Legislativo, Nathan Law. Nathan ganhou mas não levou: um comentário irônico na hora de pronunciar seu juramento foi o pretexto para cassarem seu mandato.

Ao explicar a tensão crescente entre a ditadura comunista e a ilha de tradição democrática e capitalista (que apresenta um dos maiores índices de liberdade econômica do planeta), Wong levanta uma hipótese preocupante: a China estaria usando seu "sharp power" com o objetivo de exportar para outros países da Ásia seu modelo de governo de um só partido, perseguição aos adversários e controle total da mídia. Segundo o autor, esse processo, já em andamento, dará início a uma nova Guerra Fria, opondo a China ao mundo democrático: Hong Kong seria apenas a primeira batalha dessa guerra.

Criada como uma resposta de Pequim às manifestações pró-democracia que se multiplicaram nos últimos anos, a nova legislação promulgada pelo chefe do executivo, Carrie Lam – eleito indiretamente para o posto, condicionado à aprovação do governo chinês – permite que presos políticos sejam extraditados para penitenciárias na China continental, sinalizando que o sistema judiciário e penal será unificado. A polícia chinesa passou a atuar em Hong Kong com autonomia, sem vinculação às autoridades locais. Crimes de subversão passaram a ser puníveis com extradição e prisão perpétua.

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Foi essa legislação draconiana que permitiu a prisão, nesta semana, de Jimmy Lai, empresário da mídia de Hong Kong associado à defesa da liberdade. É mais uma etapa do processo de ingerência crescente de Pequim na ex-colônia britânica. Lai foi acusado de conluio com forças estrangeiras, um dos crimes previstos na Lei de Segurança Nacional.

Hong Kong vive hoje um momento de incerteza. Protestos periódicos são violentamente reprimidos pela polícia, e os campi universitários se transformaram em zonas de combate, com barricadas e bombas de gás. Mas os riscos que a ilha atravessa não dizem respeito apenas à região: são um exemplo da importância de a população de qualquer país permanecer sempre alerta contra ataques à liberdade, venham de onde vierem. E às vezes eles vêm de onde menos se espera, como ilustra o processo de crescente ditadura do Judiciário, em curso no Brasil.

Democracia ameaçada – A liberdade de expressão em risco e por que precisamos agir, agora, de Joshua Wong. Faro Editorial, 208 pgs. R$ 39,90