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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Lições de Milton Friedman que o governo vai ignorar

(Foto: Universidade de Chicago)

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Prêmio Nobel de Economia em 1976, professor da Universidade de Chicago por mais de 30 anos, conselheiro do governo Ronald Reagan e autor de ensaios clássicos sobre teoria monetária, análise do consumo e políticas de estabilização, o economista e escritor americano Milton Friedman (1912-2006) foi também um excelente frasista. Selecionei algumas de suas declarações mais famosas, cuja verdade profunda os governos brasileiros, com raras exceções, teimam em ignorar.

1.

“Uma sociedade que coloca a igualdade antes da liberdade não terá nenhum dos dois. O uso da força para alcançar a igualdade irá destruir a liberdade, e a força, introduzida inicialmente para bons propósitos, acabará nas mãos de pessoas que a usarão para promover seus próprios interesses.”

Liberdade econômica gera prosperidade, que beneficia a todos, mesmo às parcelas mais pobres da população. Sem liberdade, a única igualdade a que se pode aspirar é o nivelamento da sociedade por baixo, na precariedade, e sem direito a reclamar. É o que acontece nas ditaduras de esquerda latino-americanas, como Cuba e Venezuela, que ainda hoje servem de bússola e inspiração para muita gente. É assustador.

2.

“Um dos grandes erros é julgar políticas e programas por suas intenções e não por seus resultados.”

É um grande erro, certamente, mas é também uma estratégia. Apelando aos bons sentimentos e à ingenuidade do cidadão comum, governos se elegem e se perpetuam convencendo parte da população de que são detentores do monopólio das boas intenções e demonizando os adversários como malvados sem coração.

Não importam os resultados, e sim estar do lado “certo”. Isso funciona principalmente entre os jovens "guerreiros da justiça social" que, doutrinados nas salas de aula das escolas com partido, compram uma consciência limpinha lacrando nas redes sociais, no conforto de seus lares burgueses, e depois vão passear no shopping com seu iphone de última geração.

3.

“O poder concentrado não se torna inofensivo pelas boas intenções daqueles que o criam.”

Mesmo que as intenções fossem boas – mas todo mundo sabe que nem sempre elas são – programas sociais e planos de estabilização fiscal podem fracassar miseravelmente pela simples razão de serem equivocados e, na prática, gerar efeitos contrários aos anunciados, planejados ou pretendidos: perpetuação da pobreza, aumento do desemprego, queda nos investimentos privados e, inevitavelmente, inflação, que é o pior dos impostos. Está acontecendo na Argentina, onde a inflação já bateu os 100% ao ano e a pobreza não para de crescer. Já aconteceu aqui – e nada impede que aconteça novamente.

4.

“Nós, economistas, não sabemos muito, mas sabemos como criar escassez. Se você quiser criar uma escassez de tomates, por exemplo, basta aprovar uma lei que os varejistas não podem vender tomates por mais de dois centavos o quilo. Instantaneamente você terá uma escassez de tomate. É o mesmo com petróleo ou gás. (...) Você quer um excedente? O governo legisla um preço mínimo acima do preço que, de outra forma, prevaleceria. Você quer escassez? O governo legisla um preço máximo, abaixo do preço que de outra forma prevaleceria”.

As leis da economia não falham, e o mesmo raciocínio se aplica a baixar na marra o teto de juros cobrados pelos bancos nos empréstimos consignados para beneficiários do INSS, ou a anunciada taxação das grandes varejistas chinesas.

No primeiro caso, o negócio deixa de interessar aos bancos, empurrando os aposentados e pensionistas para créditos mais caros. No segundo, os efeitos previsíveis serão preços mais caros para o consumidor e vendas menores – o que resultará em uma arrecadação muito menor que a calculada.

Ora, as pessoas compram na Shein e na Shopee porque é barato; se os preços subirem por causa dos impostos, muitas deixarão de comprar: simples assim. Como demonstrou o economista Arthur Laffer, o aumento da carga tributária, além de raramente beneficiar a economia, pode acabar resultando na queda da arrecadação.

 5.

“O problema da organização social é como estabelecer um arranjo sob o qual a ganância cause o menor dano; o capitalismo é esse tipo de sistema.”

Sendo a ganância um traço da natureza humana, em um sistema social que estabeleça freios e contrapesos à ação do governo, além de promover a competição e a meritocracia, ela (a ganância) causa potencialmente muito menos danos que em um sistema onde uma elite burocrática detém o controle sobre a economia e o poder de decidir quem ganha e quem perde – ou, o que é pior, o que é verdade e o que é mentira.

A História também demonstra que, quanto mais concentrado o poder, menor a eficiência da economia e maiores são as oportunidades de corrupção.

6.

“Se você colocar o governo federal no comando do deserto do Saara, em cinco anos vai faltar areia.”

Pois é.

Outras citações de Milton Friedman nas quais o governo deveria prestar atenção:

“O governo tem três funções principais. Deve providenciar a defesa militar da nação. Deve fazer cumprir contratos entre indivíduos. Deve proteger os cidadãos de crimes contra eles próprios ou seus bens”;

“Quando o governo – em nome de boas intenções – tenta reorganizar a economia, legislar a moralidade ou proteger interesses especiais, o resultado é a ineficiência, a falta de motivação e a perda de liberdade. O governo deve ser um árbitro, não um jogador ativo”;

“Ninguém gasta o dinheiro de outra pessoa tão cuidadosamente quanto gasta o seu. Então, se você quer eficiência e eficácia, se quiser que o conhecimento seja utilizado corretamente, você deve fazê-lo por meio da propriedade privada”;

“Fundamentalmente, existem apenas duas formas de coordenar as atividades econômicas de milhões de indivíduos. Uma é direção centralizada, envolvendo o uso da coerção – a técnica da força e do estado totalitário moderno. A outra é a cooperação voluntária dos indivíduos – a técnica do mercado”;

“Como vivemos em uma sociedade em grande parte livre, tendemos a esquecer o quão limitado é o período de tempo e a parte do globo para o qual existe alguma coisa como liberdade política: o estado típico da humanidade é a tirania, a servidão e a miséria”;

“Reduzir os gastos e a intervenção do governo na economia quase certamente implicará uma perda imediata de curto prazo para poucos, e um ganho de longo prazo para todos”;

“Uma das razões pelas quais eu sou a favor de menos governo é porque, quanto mais governo tivermos, mais as grandes corporações irão assumi-lo. (...) A grande virtude da livre iniciativa é obrigar as empresas existentes a atenderem as demandas do mercado de forma contínua, produzindo produtos que atendam aos gostos dos consumidores com o menor custo possível, sob o risco de serem eliminadas pelo mercado. É um sistema de lucros e perdas. Naturalmente, as empresas existentes geralmente preferirão vencer a concorrência de outras maneiras. É por isso que a comunidade empresarial, apesar de sua retórica, sempre foi uma grande inimiga do verdadeiro livre mercado”;

“A liberdade política significa ausência de coerção de um homem por seus semelhantes. A ameaça fundamental à liberdade é o poder de coagir, seja nas mãos de um monarca, um ditador, uma oligarquia ou uma maioria momentânea. A preservação da liberdade exige a eliminação de tal poder na maior extensão possível, além da dispersão e distribuição de todo poder que não possa ser eliminado”;

“Para o homem livre, o país é a coleção de indivíduos que o compõe, não algo além e acima deles. Ele se orgulha de uma herança comum e é fiel às tradições comuns. Mas ele considera o governo como um meio, uma ferramenta, não uma entidade concedente de favores e presentes, nem um senhor ou um deus a ser adorado e servido cegamente.” 

“A combinação do poder econômico e político nas mesmas mãos é a receita certa para a tirania”.

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