Darcy Ribeiro disse que a crise da Educação no Brasil não é uma crise: é um projeto. O projeto está indo de vento em popa.
A cada dia fica mais evidente o colapso do nosso sistema educacional. O analfabetismo funcional é uma realidade mesmo entre portadores de diplomas universitários.
A incapacidade de interpretação de texto é gritante até entre jornalistas. Basta lembrar que outro dia, incapazes de distinguir uma fake news de uma piada, os “checadores” desmentiram com estardalhaço que Elon Musk tenha sido proibido de deixar o planeta e intimado pelo STF a entregar a chave do seu foguete.
“É fake!”, esbravejaram – e ainda usaram a própria burrice como argumento para a necessidade de “regulação” das redes sociais.
Ora, mesmo nas piores ditaduras, a censura nunca ousa dizer seu próprio nome (como o amor homossexual não ousava dizer seu nome, na época de Oscar Wilde). Chamá-la de regulação, ou justificá-la como ferramenta de defesa da democracia (uma contradição em termos, já que não existe democracia sem liberdade de expressão) não fará a censura deixar de ser censura. Fosse assim, teria bastado aos generais, durante a ditadura militar, afirmar que não existia censura no país, apenas “regulação” da imprensa e das manifestações artísticas.
É fato que as ditaduras, como as democracias, mudaram muito na última década. Mas a censura continua sendo censura. A diferença é que hoje a liberdade de expressão é uma bandeira da direita. Hoje é a esquerda que defende a censura. Podem fazer o malabarismo que quiserem, o fato é que defender a censura e a perseguição de opositores hoje é uma prática da esquerda, não da direita.
Ou o "inominável" censurou alguém? No governo passado, um grande jornal publicou um artigo torcendo pela morte do presidente, enquanto membros de um “coletivo” jogaram futebol com a sua cabeça servindo como bola. “Vamos chutar a cabeça desse verme”, disse uma mulher, apontando para a bola com o rosto de Bolsonaro. “Venham, pessoal, é gostoso demais, é terapêutico”.
Alguém foi censurado, perseguido, cancelado, processado ou preso por discurso de ódio ou ataque à democracia e às instituições? Não que eu me lembre. Mas imagine o leitor se fizessem hoje algo parecido com a cabeça do... Deixa pra lá.
A doutrinação não diz mais respeito, como na época de Paulo Freire, à luta de classes nem a exploração dos trabalhadores, bandeiras abandonadas pela esquerda oficial – que hoje deita na cama de bilionários globalistas
É claro que, no caso da grande mídia, pode não se tratar de burrice, mas de interesse e cinismo mesmo. Muita gente com poder parece acreditar sinceramente que todos os problemas do país serão resolvidos na base do truque, da manipulação das palavras (ou dos números), da criação de narrativas.
Acabo de ler, por exemplo, que o Irã “enviou” 300 mísseis e drones para Israel. Oi? Um jornalista escreveu isso? Que vergonha, meu Deus. O Irã enviou os mísseis pelo Correio? Pelo Uber? Coitada da língua portuguesa, esta sim atacada diariamente por aqueles que deviam ser seus guardiães.
O problema todo começa na sala de aula – e não se restringe ao Brasil. A crise da Educação (e do jornalismo) também é evidente nos Estados Unidos, e mesmo em países europeus. Lá como cá, qualquer pessoa minimamente honesta sabe e sente que tem algo muito errado acontecendo nas nossas escolas. Crianças não aprendem o que deveriam, nem como deveriam, no ensino básico. Jovens nas universidades também não.
Nesse contexto, é fundamental a leitura do recém-lançado livro A pedagogia do Marxismo – O desastroso método educacional de Paulo Freire, criado para formar ativistas (Avis Rara, 2024), do americano James Lindsay.
O subtítulo já põe o dedo na ferida: no Brasil e no Ocidente, o objetivo precípuo das escolas e universidades não é mais preparar o estudante para uma vida adulta independente e responsável, é formar ativistas de uma agenda política e ideológica.
Fazendo uma análise minuciosa da pedagogia freiriana, Lindsay atribui ao patrono da Educação brasileira a responsabilidade pela politização das salas de aula, pela doutrinação e lavagem cerebral diárias a que são submetidas as crianças, adolescentes e jovens adultos, já há algumas gerações.
Por óbvio, a doutrinação não diz mais respeito, como na época de Paulo Freire, à luta de classes nem à exploração dos trabalhadores, bandeiras abandonadas pela esquerda oficial – que hoje deita na cama de bilionários globalistas.
O que a nova pedagogia do oprimido ensina são as "teorias críticas" de raça e gênero, a “justiça hermenêutica”, a “descolonização”, a vitimização generalizada e o “ódio do bem”.
Muitos estudantes saem hoje das escolas e universidades sem saber rudimentos de Matemática, Português, História, Geografia, Biologia, Química etc. Mas todos aprenderam muito bem a capitalizar a própria situação de supostas vítimas de um sistema opressor. Porque ser oprimido hoje é estar do lado certo, é ter carta branca para odiar, perseguir e esfolar, por exemplo, quem votou em um candidato diferente daquele em que seus professores mandaram votar.
Destaco, a seguir, alguns trechos do prefácio de Gustavo Maultasch, aliás autor de outro livro fundamental: Contra toda censura – Pequeno tratado sobre a liberdade de expressão (Avis Rara, 2022).
“Paulo Freire é um desses personagens que a intelectualidade brasileira julga sagrados e acima de qualquer questionamento. Para esses 'intelectuais' (quase todos esquerdistas ou simpatizantes), ele é uma figura mítica, um guru visionário, um líder messiânico que revolucionou a educação brasileira ao trazer a política e a discussão sobre a 'opressão' para dentro da sala de aula. Por politizar a educação e por justificar a doutrinação de alunos, Freire foi adotado e idolatrado pela esquerda brasileira e mundial.
“Não à toa, foi durante um governo de esquerda que Paulo Freire foi declarado ‘Patrono da Educação Brasileira’. Sinceramente, é questionável o mérito de ser declarado patrono de um dos sistemas educacionais mais falidos do mundo; parece até ofensa. Mas a homenagem reflete bem a incapacidade dos nossos escolarizados urbanos em reconhecer a embromação disfarçada de filosofia, a doutrinação mascarada como educação, a fraude travestida de obra-prima.
“A obra de Paulo Freire é uma mistura de ensaísmo verborrágico vazio com clichês demagógicos anticapitalistas. A homenagem só faz sentido se o objetivo for responsabilizá-lo pelo nosso fracasso; aí sim, certamente, Paulo Freire merece lugar de destaque na história da educação nacional. Como influência negativa, ele merece lugar de destaque inclusive na política mundial, pois seu impacto vai além da educação.
“Como James Lindsay afirma neste livro, Paulo Freire pode ser considerado o 'pai do woke', pois sua obra também contribuiu para a radicalização da atual esquerda, que enxerga (ou quer enxergar) “opressão estrutural” em tudo o que vê. (...)
“Quando se lê a obra de Paulo Freire, qualquer leitor atento percebe que se trata de engodo, e que a pedagogia é o assunto que menos atenção recebe. A “pedagogia do oprimido” não contém nenhuma proposta autenticamente pedagógica para o oprimido; Freire apenas deseja transformar o oprimido em militante, para que ele possa lutar contra a ordem capitalista que teoricamente o oprime.
“Paulo Freire não está muito interessado em ensino, ou pelo menos não naquilo que a maioria de nós entende por “ensino”. Todos nós esperamos da escola algo que é razoavelmente simples: que os nossos filhos, que sabem pouco sobre o mundo, possam ir para a escola e aprender bastante sobre várias coisas; e que essa educação seja enriquecedora o suficiente para que eles possam, no futuro, desenvolver a sua vocação, exercer uma profissão e se tornarem membros produtivos e felizes da nossa sociedade. Esse é o básico que qualquer pai e mãe desejam para os seus filhos.
“Mas para Freire isso não é suficiente; permitir o desenvolvimento pessoal e cognitivo dos alunos e integrá-los produtivamente à sociedade não são preocupações do mestre dos magos da pedagogia nacional. Para ele, o objetivo da educação não é ensinar, muito menos preparar alguém para participar da lógica exploratória do capital. A educação deve servir à política, e ela somente é válida se produzir a 'conscientização' marxista, se for 'libertadora' da propriedade privada e demais amarras do capital, se contribuir para que os 'oprimidos' entendam o jogo de forças da sociedade e, assim, possam-se levantar contra a 'opressão' estrutural da sociedade capitalista.
“A verdade é que a obra de Paulo Freire é um programa revolucionário marxista disfarçado de filosofia pedagógica. E ao dar feitio acadêmico a esse tipo de pedagogia revolucionária, o guru legitima a atuação do professor ativista, que está mais preocupado em formar militantes marxistas que em ensinar o essencial de sua disciplina.”