Nicolás Maduro em setembro de 2015, pregando o fim da ditadura do capital| Foto:
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A fotografia abaixo, postada no Twitter em 2015, vale por mil palavras: a jovem com o punho cerrado, abraçada ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, é Opal Tometti, uma das fundadoras e dirigentes do movimento Black Lives Matter.

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Antes de continuar, atenção!

  1. Todas as pessoas são livres para defender a ideologia que quiserem e para tirar e postar fotos com quem bem entenderem;
  2. Todo racismo é abjeto, e todos devemos condenar e combater esse preconceito, seja ele resultado da ignorância, do condicionamento ou da maldade de quem o pratica.
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As duas premissas acima – que deveriam ser óbvias – não mudam o fato de que, levando em conta o papel que o BLM (não confundir com MBL) assumiu nas últimas semanas, é importante que essas conexões sejam transparentes, até para que ninguém sinta que foi enganado, ou  usado como massa de manobra.

No Brasil, Maduro é hoje execrado até pelas esquerdas. É verdade que elas foram até onde podiam na defesa da ditadura que transformou a Venezuela em terra arrasada: um país onde adversários políticos são perseguidos, presos, torturados e executados; onde os meios de comunicação são controlados pelo Estado; onde falta até papel higiênico nos supermercados; onde as piores atrocidades são cometidas pelo governo contra os direitos humanos; onde mães entregam os filhos para adoção por não terem como alimentá-los; um país, em suma, do qual mais de 4,5 milhões de venezuelanos já fugiram desde que Maduro assumiu o poder.

Mas chegou uma hora que não dava mais: as esquerdas acabaram se rendendo. É claro que, como nunca erram, não se retrataram nem pediram desculpas pelo apoio ao ditador: em vez disso, passaram a afirmar que Maduro... é de direita! Essa tese esdrúxula foi defendida recentemente até por um ministro do STF. Tempos muito estranhos.

Os laços do BLM com a ditadura de Maduro são explícitos. Não se trata só de uma fotografia postada no Twitter por uma admiradora do ditador. A foto foi tirada em Nova York, no Harlem National Theater, em setembro de 2015. Em seu discurso, Maduro conclamou a plateia a derrubar a ditadura do capital, em meio a aplausos de apoio à revolução bolivariana.

Três meses depois, a convite de Maduro, o BLM enviou uma delegação a Caracas, liderada por Opal Tometi, para acompanhar as eleições parlamentares na Venezuela. O regime de Maduro não credenciou observadores da OEA, nem da União Europeia, nem mesmo da ONU: só foram convidados simpatizantes da causa revolucionária, aí incluído o BLM.

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Como era previsível, choveram denúncias de fraude naquelas eleições (como em todas as eleições realizadas durante a ditadura), mas os observadores, incluindo a delegação do BLM, não viram nada de irregular. Ao contrário: naquela ocasião, Tometti manifestou sua felicidade por estar em um país “onde existe um discurso político inteligente”. Cidadãos venezuelanos reagiram, como mostra o print abaixo:

Ainda mais revelador é o vídeo a seguir, no qual outra co-fundadora do BLM, Patrisse Cullors, se declara assumidamente marxista:

“We are trained Marxists. (…) We are super-versed in ideological theory”: “Nós somos marxistas treinadas. (…) Nós somos super-versadas em teoria ideológica”. Simples assim.

Alguém dirá: “Ah, mas esse video foi postado por Liz Wheeler, que é uma conservadora branca sem lugar de fala…” Ok: o mesmo video também foi citado na semana passada, no canal do Youtube YoungRippa59, pelo comentarista politico Eric July. Vale a pena assistir e ler os comentários:

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De novo: é direito de qualquer movimento defender a ideologia que bem entender.

Mas será que todas as pessoas que apoiam e vêm fazendo doações para o BLM sabem disso? Certamente muitos apoiadores dos protestos violentos e da vandalização de monumentos históricos promovidos pelos autodenominados Antifas sabem – e não veem nada de mais nisso.

Mas certamente haverá também – na Venezuela, nos Estados Unidos, no Brasil e em todo o planeta – quem considere inadequado associar uma luta que deveria ser de todos a uma ideologia política que tanto mal fez ao mundo, deixando por onde passou um legado incalculável em sofrimento e vidas humanas. Além disso, é nas ditaduras comunistas que as minorias são mais discriminadas, quando não são presas ou coisa pior. Para quem quiser saber como a revolução cubana tratou homossexuais, recomendo a leitura de “Antes que anoiteça”, do escritor cubano Reinaldo Arenas.

No entanto, quando Fidel Castro morreu, em 2016, o BLM divulgou uma nota na qual afirmava seu apoio à ditadura socialista e exaltava o papel de Fidel na “luta pela liberdade universal”. E concluía: “Fidel vive!”.

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Enquanto na Venezuela adversários políticos são encarcerados, nos Estados Unidos todas as minorias são livres para se manifestar contra o que quiserem, publicamente e enfaticamente. A própria Opal Tometti é filha de imigrantes nigerianos que foram para a América em busca de oportunidades que só existem em sociedades livres. Mas, lá como cá, é a esquerda que se arvora em detentora exclusiva das bandeiras das minorias.

Uma das pautas do BLM é o combate à violência policial, mas como conciliar essa bandeira com o apoio do movimento a Maduro se, na Venezuela, manifestantes contra a ditadura são presos às centenas, e a polícia venezuelana mata muito mais que a americana. Ou será que existe violência policial “do bem”?

O fato é que ninguém que se julga de esquerda protesta contra a perseguição a minorias em Cuba, na Venezuela ou Irã. Nem é preciso ir tão longe: ninguém de esquerda no Brasil se manifesta quando policiais (de qualquer etnia) são assassinados em serviço. Há até quem secretamente comemore. Talvez porque o foco real dessas pessoas não seja a proteção de minorias, mas a disseminação de uma ideologia e a afirmação de uma agenda.

A conclusão necessária é que a esquerda só defende minorias quando convém. Dito de outra maneira: a esquerda usa as minorias. Isso explicaria por que, se uma pessoa homossexual for de direita, sua orientação sexual deixa de importar: ela se torna imediatamente um inimigo a abater (basta lembrar a reação indignada à homenagem da FLIP a Elizabeth Bishop). O mesmo se aplica à questão étnica, como demonstrou a sanha com que se apressaram a desconstruir Carlos Alberto Decotelli, indicado para o Ministério da Educação, antes mesmo de ele assumir o cargo. O atestado ideológico vem primeiro; quem não o recebe não está qualificado a ser defendido como minoria.

A Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, tomou a iniciativa de divulgar que Decotelli jamais teria sido professor da instituição. Dias depois, quando o dano já estava feito (como sempre), foram divulgadas imagens comprovando não somente que ele lecionou na FGV, mas também que seu nome constava no site da fundação, com avaliação máxima dos alunos. Desnecessário dizer, aqueles que festejaram o massacre em praça pública de Decotelli ficaram mudos ou passaram pano quando, no passado, apareceram inverdades nos currículos de políticos de esquerda, Dilma Rousseff inclusive. Aliás, inverdades também apareceram no currículo de outro ministro do Supremo – e foram minimizadas como “erros da secretária” (só faltou colocar a culpa no estagiário).

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Pois bem, nas últimas semanas, o BLM e os Antifas americanos vêm promovendo depredações, vandalizando monumentos históricos e impondo pela força sua agenda à sociedade. Embora não faltem inocentes úteis que estão sendo explorados em sua boa-fé, não é por inocência que a mídia e a academia compram e vendem essa narrativa.

Nos últimos 30 anos, desde a queda do Muro de Berlim, os movimentos identitários se transformaram no bote salva-vidas da esquerda. A esquerda, que se encontrava em estado terminal, saiu da respiração por aparelhos quando percebeu que se apropriar das bandeiras da minorias era o caminho para renascer. Sem ter mais como defender a luta de classes, a expropriação pela força dos meios de produção e a tomada do poder por meio da revolução proletária, a esquerda se reagrupou em torno dos movimentos identitários, associando suas lutas específicas à luta que verdadeiramente interessa a ela: a destruição do capitalismo e da democracia.

Mas como isso é possível, se todas as conquistas das minorias devem muito mais ao liberalismo que ao socialismo, que historicamente sempre as oprimiu e perseguiu? O mecanismo psicológico que explica esse processo é tão primário que causa espanto.

A estratégia é simples: primeiro, escolhe-se uma bandeira que tenha apoio unânime da população, e a esquerda se apropria dela como se fosse exclusividade sua. Ora, é óbvio que ninguém em sã consciência pode ser a favor da corrupção, ou a favor da pedofilia, ou contra os direitos humanos, ou a favor da destruição da naturezxa, da mesma forma que ninguém pode ser a favor do assassinato.

Em seguida – e aí está o truque – associam-se, pela repetição exaustiva, esses comportamentos criminosos a determinados grupos – conservadores, direita, eleitores de Trump (ou de Bolsonaro) etc, estendendo-se a responsabilidade por crimes ou condutas individuais à totalidade desses grupos, por associação.

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É assim que, nos Estados Unidos como no Brasil, a justíssima luta antirracista – aliás, como outras bandeiras associadas a minorias – vem sendo habilmente apropriada pela esquerda, como se lutar contra o preconceito fosse exclusividade sua. São os novos métodos da velha esquerda. O assassino de George Floyd deixa de ser o policial (que foi preso e será julgado e condenado, como merece): os assassinos passam a ser todos os republicanos, como se todos os eleitores de Trump tivessem as mãos sujas de sangue.

É essa premissa absurda, mas amplamente disseminada, que dá aos Antifas o direito de sair as ruas tocando o terror, depredando, vandalizando, saqueando e destruindo. Porque, afinal de contas, são eles os portadores exclusivos da virtude e da defesa da democracia.

Parece evidente que são raríssimos os conservadores que defendem o Fascismo. Ou seja, se o rótulo “Antifa” fosse usado de forma honesta e bem intencionada, 99% da população se declarariam Antifas, eu inclusive. Mas trata-se apenas de mais uma ferramenta usada para dividir a sociedade e desqualificar os adversários políticos.

Recorre-se ao mesmo truque quando, por exemplo, se estende a 57 milhões de eleitores a crença de meia dúzia de imbecis de que a Terra é plana. Desse momento em diante, todo eleitor de Bolsonaro se torna, por decreto, terraplanista.

Concluindo: as bandeiras levantadas pelo Black Lives Matter são legítimas. O racismo existe e deve ser combatido. A violência policial existe e deve ser combatida. Há maneira inteligentes e honestas de conduzir essa luta. Até como estratégia, o BLM teria muito mais a ganhar com manifestações pacíficas – estas seriam muito maiores e contariam com o apoio de muitos republicanos. Em vez disso, dedicam-se a promover a violência, derrubar estátuas, censurar livros e filmes e apagar o passado, além de apoiar uma ditadura quem em tudo contraria os valores da sociedade americana. Nada de bom pode vir daí.

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