Mano Alckmin celebra o hip hop

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Agora vai. Usando boné de aba reta, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin apareceu em um vídeo comemorando os 50 anos do hip hop. Exaltou a poesia nascida das ruas como expressão política genuína das periferias etc. Senti falta, no vídeo, da fala rítmica estilizada e da expressão corporal que caracterizam o gênero musical homeageado, mas aí já seria pedir demais.

Fiquei tão empolgado com a fala do Mano Alckmin que de repente me dei conta: sou um alienado que desconhece o hip hop nacional, incapaz de citar um só artista ou sucesso recente. Envergonhado, fiz uma rápida pesquisa sobre as músicas mais tocadas do gênero para me atualizar.

Destaco a seguir,  para avaliação dos leitores, trechos das letras dos sete hip hops nacionais mais tocados em 2023, segundo este site. São exemplos da verdadeira poesia nascida das ruas e dizem muito sobre o Brasil de hoje.

1. Amor de fim de noite (Orochi)

“Yeah, yeah, oh oh
Orochi, Orochi
Amor de fim de noite
Amor de fim de noite, yeah yeah

Deixa eu mudar essa nossa história hoje
Vamos ser mais que amor de fim de noite
Eu posso fazer tudo, ser melhor do que da última vez
E fazer bem melhor do que seu ex um dia te fez
Basta você dormir comigo hoje
Me dá sua mão e me beija essa noite”

2. Qq cê tá insinuando (Sidoka)

What's his name
Oh boy (oh boy?)
Yeah it's great

Que que 'cê 'ta insinuando?
Tattoo na minha cara, malote no bolso, que 'ta te estranhando?
Olha essas joias no pulso dos mano, não 'to brincando
E se soubessem que é nós que enriquece os pedaço de pano
Será que eles tavam falando?

3. Proibidão 2020 (Borges)

Passo voado, tiro pra *******
Alvo do enquadro, tu fica bolado
Se brotar na reta, te rasgo, te mato
Mais de 10 bico na minha contensão
Baile e copão, lança na mão (lança na mão)
Vou sarrar nela de AK trovão, NGCrime
Glock do pentão (do Flamengo)

(...)

Olha minha mina, te mato
Cobiça ela, te rasgo
Acerto frente e lado
Jogo teu corpo no mato
Jogo teu corpo no asfalto

4. Imã de dinheiro (Jovem Dex)

Yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, uh
Yeah, yeah, yeah, uh
Yeah, yeah, yeah, uh
Yeah

Ímã de dinheiro, meu bem (ai, meu Deus)
Mano, mostra o placo que ela vem (que ela vem)
Só high fashion, eu sou descolado, man, yeah (pshiu, pshiu, pshiu)
Chuva de prometazina na minha gang (gang, gang, gang)

5. Tropkillaz, Recayd Mob (Benzzz)

Yeah, Trop' hit the beat!

Droga no jeans, V.I.p. nós que 'tá
Sprite com lean, tenho aqui, 'tá com bala
Todo esse din é pra mim, vou buscar
Mamacita me chama de Escobar
Na minha Benz ela quer vir sentar
Na minha Benz ela quer vir sentar
Na minha Benz ela quer vir sentar
Quer vir sentar, qu-quer vir sentar

6. Kenny G (Matuê)

Quer viver a minha vida? Faz cem mil sem esforço
Ahn, se eu quiser ela deixa eu pôr no osso
Se meu som é uma droga, geral quer sentir o gosto
Todo mundo quer andar com o que eu tenho no pescoço

Então cuidado pra não se cegar
Quer ficar encarando o sol? Não vai te ajudar
Todo mundo quer ser estrela
Mas não tem lugar no sol, que o Tuê já tá por lá

Então vem, vem balançar, sem enganação
Eu sou ruim, vou roubar tua alma até o fim da canção
No show cantei Morte do Autotune, ela rebolou o bundão
Não fez sentido, mas que bela visão

7. Nemo (JayA Luuck)

Hoje eu piso nesse Jordan
Por onde eu passo eles sabem meu nome
Ya, agora eu sou um astro
Eu faço dinheiro e empilho montes
Por isso que essa bitch agora tá querendo meu sobrenome
Ya, mano, ela é tão gostosa
Essa bunda sempre me deixa com fome

Eu deixo ela afim (ela sendo assim)
Não quer mais sair (não quer mais sair)
Quer ficar em mim (ya)
Me pedindo pra que eu continue assim (ya, continue assim)
Deixo ela molhada
E vou tão fundo que ela me chama de submarino

Luciano Trigo

Luciano Trigo é escritor, jornalista, tradutor e editor de livros. Autor de 'O viajante imóvel', sobre Machado de Assis, 'Engenho e memória', sobre José Lins do Rego, e meia dúzia de outros livros, entre eles infantis.**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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