A energia verde e renovável é uma farsa. Esta é a conclusão a que se chega assistindo ao documentário “Planet of the humans”, de Jeff Gibbs, que está temporariamente disponível no Youtube: no momento em que escrevo, acumula quase 8 milhões de visualizações. O que chama a atenção é que o produtor executivo do filme é Michael Moore, o diretor de “Tiros em Columbine”, “Fahrenheit 9/11” e outros documentários associados ao campo dito progressista.
Naturalmente, de aliado e “social justice warrior” Moore já passou a Judas Iscariotes da esquerda americana, que vem massacrando o ex-queridinho cineasta, a quem acusa de se ter vendido aos interesses corporativos do malvado capitalismo e da grande indústria baseada em combustíveis fósseis.
Moore é mais uma vítima da pandemia da polarização que assola o planeta. Na verdade, a mensagem de “Planet of the humans” é que estamos perdendo a guerra do meio ambiente justamente porque acreditamos em políticos, ativistas e empresários mal intencionados e inescrupulosos.
Mas pouco importa: em mais um julgamento sumário, Moore já foi condenado e devidamente “cancelado”. Tem gente pedindo que o documentário seja censurado e banido. Tem também gente criticando o fato de os cientistas e outros entrevistados serem homens e brancos, em sua maioria.
“Planet of the humans” também vem sendo acusado de disseminar desinformação e de distorcer fatos básicos sobre a energia verde, comprometendo assim os esforços dos ambientalistas. Mas, embora tenham razão em tópicos específicos (quando apontam dados desatualizados sobre a vida útil dos painéis solares, por exemplo) ou claramente equivocados (caso do gráfico sobre a matriz energética da Alemanha), o fato é que os detratores do documentário ainda não conseguiram contestar de forma convincente os seus principais argumentos.
Assista abaixo ao documentário “Planet of the humans”:
O que o filme demonstra é que a narrativa da economia verde é mentirosa porque, primeiro, ela jamais será capaz de substituir as fontes de energia convencionais, das quais aliás depende; segundo, os processos envolvidos na fabricação dos painéis solares, dos carros elétricos e das estruturas necessárias para se explorar outras fontes renováveis, como o vento (que uma ex-presidente queria estocar), são poluentes, caríssimos e usam matérias-primas mais tóxicas que as fontes tradicionais de energia: a construção de uma única torre eólica, que tem um tempo de vida relativamente curto, consome cerca de 800 toneladas de aço, 2.000 toneladas de concreto e 40 toneladas de plástico não-reciclável. Isso sem falar no problema da intermitência, que obriga a ter sempre uma tomada por perto.
Tudo isso vem sendo criminosamente escondido do grande público. O documentário pergunta por quê. E é essa ousadia de questionar alguns mitos que está deixando a esquerda enfurecida.
Por exemplo, Gibbs visita uma fábrica de biomassa em Vermont, que recebeu polpudos incentivos fiscais para, supostamente, gerar energia limpa queimando madeira de árvores plantadas para isso. Mas ele descobre que não é bem assim: para a madeira queimar, é preciso acrescentar ao forno pneus, lixo e outros materiais não-renováveis, gerando mais poluição e comprometendo a saúde dos moradores da comunidade vizinha à fábrica. Além disso, é necessária a queima de dezenas de milhares de toneladas de árvores por ano para gerar um resultado modesto em termos de energia. Em todo caso, queimar florestas para gerar energia “verde” parece uma contradição em termos.
O diretor também visita um festival de música que alega usar 100% de energia renovável, só para constatar que a energia efetivamente limpa produzida pelos painéis solares instalados mal dava para alimentar uma guitarra elétrica e uma torradeira – o resto da eletricidade vinha de geradores movidos a diesel.
São exemplos banais, mas que repetem um padrão: por trás de toda iniciativa verde festejada pela grande mídia, continuam sendo usados combustíveis fósseis sem os quais ela não seria viável. Em outras palavras, a energia verde, pelo menos nas formas como vem sendo desenvolvida até aqui, não resiste a uma análise básica de custo x benefício. Ela simplesmente não compensa, porque é indissociável da civilização industrial que supostamente combate. Não existe energia verde sem consumo em larga escala de gás natural e outros combustíveis fósseis: a energia que pode ser efetivamente gerada por recursos renováveis como o sol e o vento corresponde a uma fração insignificante do que o planeta consome. Os ganhos de eficiência, quando existem, são residuais.
O problema ambiental, argumenta Gibbs, não será resolvido se não enfrentarmos a questão do crescimento exponencial da população e do consumo. Acreditar que é possível um crescimento infinito em um planeta com recursos finitos é correr na direção do abismo. Os ativistas da energia verde não estão fazendo nem cosquinha nessa corrida– estão apenas disfarçando o tamanho do problema, escondendo a ferida com um band-aid.
Mas, como “Planet of the humans demonstra”, tem muita gente faturando alto com o marketing da energia verde, inclusive algumas das corporações mais poluidoras do mundo – que, curiosamente, são também as principais patrocinadoras das instituições que supostamente defendem o meio-ambiente. Em vários momentos, o documentário demonstra os interesses econômicos ocultos por trás do investimento em fontes renováveis de energia: as carteiras dos fundos de investimento “verdes” estão cheias de ações de empresas que de verdes não têm nada.
Mas, então, por que a narrativa da energia verde faz tanto sucesso? Justamente porque ela aplaca a má consciência das pessoas “do bem”, dando a elas a ilusão de que será possível continuar a consumir sem limites e gastar como se não houvesse amanhã. A mensagem é que é possível continuar a escalada do crescimento forma “limpa”. Não é. Mas essa ilusão é a receita perfeita para o marketing político de grupos que capitalizam dividendos na mídia se apresentando como os mocinhos que salvarão a natureza das garras de seus inimigos – ao mesmo tempo em que aumentam seus lucros.
O Brasil, o paraíso da "galera do bem" que adora ser enganada por um discurso progressista, também aparece no filme
Após entrevistar diversos ecoativistas sobre a biomassa e só receber respostas evasivas, Gibbs pergunta: “O que eles estão escondendo? Apenas sua ignorância? Ou estão escondendo algo mais?” A sugestão clara é a de que o establishment ambientalista foi cooptado pelo mais predador capitalismo. É preciso, portanto, ouvir com desconfiança empresários e políticos que adotam o discurso da energia verde. Mentiras estão sendo ditas, por inocência ou má-fé deliberada. Muitas pessoas estão sendo enganadas.
O Brasil, o paraíso da “galera do bem” que adora ser enganada por um discurso superficialmente progressista, também aparece no filme, aliás: florestas sendo queimadas e crianças indígenas sendo expulsas de suas terras, devido à expansão da cultura e cana-de-açúcar para a produção de etanol.
E quem patrocina a bandeira do etanol no documentário? Ninguém menos que Al Gore, que ficou famoso por lançar um filme (e um livro) sobre as ameaças ao meio-ambiente, “Uma verdade inconveniente” (2006). Gibbs também lembra que Gore vendeu sua rede de TV para a estatal Al Jazeera, recebendo milhões de dólares de um país cuja economia é inteiramente baseada em combustíveis fósseis. Aparentemente, algumas verdades também são inconvenientes para ele.
O líder ambientalista Bill McKibben, autor de “O fim da natureza”, é outro que fica mal na fita. Quando confrontado com uma pergunta simples – quem financia o seu trabalho? – ele tenta fugir do assunto, se enrola todo e alega que não sabe de cabeça. Oi?
Um dos únicos efeitos positivos do coronavírus está sendo a rápida diminuição da poluição nas metrópoles, como mostram fotografias de satélite de diferentes países. O fluxo da vida econômica pode ser reduzido em prol do meio ambiente? Deter o crescimento da população é uma saída sugerida por Gibbs – evidentemente, sem pensar que isso poderia acontecer por meio de uma pandemia. Mas quem estiver realmente preocupado com a questão ambiental deve refletir sobre temas assim, em vez de se deixar enganar pelo discurso bonzinho, mas enganador, da energia verde.