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Luciano Trigo

Luciano Trigo

No futuro, pais precisarão de autorização do Estado para educar seus filhos?

(Foto: Reprodução Instagram)

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Aos pouquinhos, o direito e o dever dos pais de educar seus próprios filhos estão sendo ameaçados. É o que afirma a jornalista americana Stella Morabito em recente artigo publicado no portal “The Federalist”.

Stella cita o surpreendente resultado na eleição para governador na Virginia, no início de novembro – vencida pelo republicado Glenn Youngkin, em um estado tradicionalmente dominado pelo Partido Democrata – como um sinal de que a população está começando a reagir a esse processo.

Youngkin centrou sua campanha em críticas à adoção do ensino da “critical race theory” (“teoria crítica de raça”) no currículo das escolas de ensino fundamental. Segundo a autora, a CRT divide as crianças com base em critérios raciais e vem enfrentando forte reação dos pais, mesmo entre os eleitores de Joe Biden.

É claro que a vitória de Youngkin na Virginia não pode ser atribuída exclusivamente a esse fator. Mas ela sinaliza que a imposição arbitrária de valores e normas pelo “woke-progressismo” enfrenta resistência crescente por parte do cidadão comum – especialmente quando envolve crianças.

A autora cita outros casos que demonstram que os professores estariam extrapolando seu papel com base em uma agenda ideologicamente motivada: em diferentes estados americanos, escolas já incentivam a discussão – com crianças, em sala de aula – de temas ligados à sexualidade, à pornografia e ao “transgenderism”.

“Os pais deveriam se perguntar qual será o próximo passo”, escreve Stella. Ela alerta que a tendência, em um futuro próximo, é que os pais tenham que pedir autorização do Estado para educar seus filhos.

Mais que um projeto de reengenharia social, surrupiar o papel da família é um antigo sonho de regimes totalitários, da União Soviética de Stálin à Itália de Mussolini  

A família e a escola sempre exerceram funções complementares na educação das crianças – não apenas no aprendizado objetivo de conhecimento, mas também no seu desenvolvimento moral e emocional. Mesmo que não houvesse fronteiras rígidas entre os papéis dos pais os papéis dos professores, nunca se questionou a premissa de que a última palavra era dos pais. Conflitos eram relativamente raros e confinados a situações específicas.

Isso muda quando a agenda dos tomadores de decisão entra em rota de colisão com os valores e costumes dos cidadãos comuns. Deixam de existir valores compartilhados entre o povo e as elites que detêm o monopólio da fala, entre a sociedade real e aqueles que estão em posições de poder – não apenas os políticos e os gestores de políticas públicas, mas também as big techs e os grandes conglomerados de mídia, que parecem determinados a transformar a cabeça das pessoas na marra.

Mais que um projeto de reengenharia social, surrupiar o papel da família é um antigo sonho de regimes totalitários, da União Soviética de Stálin à Itália de Mussolini – bastando lembrar que nos dois casos as crianças eram estimuladas a delatar seus pais ao Estado, caso eles fizessem críticas ao governo dentro de casa.

“A ideia de que autoridades externas devem controlar a criação dos filhos, em vez de mães e pais de carne e osso, remonta pelo menos aos tempos antigos”, escreve Stella. “Na era moderna, o ‘Manifesto Comunista’ de 1848 incluía o grito de guerra “pela abolição da família!" Já os engenheiros sociais de hoje falam em substituir a família tradicional por um sistema mais coletivista de unidades de cuidado.”

A premissa é que as crianças “pertencem” à comunidade, não às suas famílias. Já na década de 80 d´século passado, o acadêmico Hugh LaForette escreveu um ensaio polêmico, no qual defendia que pais biológicos deveriam passar pelos mesmos procedimentos de pais adotivos – incluindo entrevistas, testes psicológicos e visitas familiares por representantes do Estado – antes de serem autorizados pelo Estado a educar seus filhos – de forma similar ao licenciamento exigido para praticar medicina ou direito, ou mesmo para dirigir um automóvel.

Essa regulamentação da paternidade, segundo LaForette, “maximizaria a competência parental”. O comentário de Stella Morabito é demolidor: “Ele [LaForette] questiona a presunção de que os pais biológicos têm domínio natural sobre os filhos. Diz que devemos rejeitar essa suposição, porque trata as crianças como propriedade. Mas ele não nega que licenciar os pais basicamente equivaleria a tratar todas as crianças como propriedade do Estado.”

A autora conclui fazendo um diagnóstico assustador: “Essa tendência de desrespeito aos direitos dos pais não deve nos surpreender. Podemos senti-la quando as escolas escondem dos pais informações sobre a saúde das crianças; na legislação que permite que menores sejam levados para abortos sem o conhecimento ou consentimento dos pais. Ela também acontece quando as escolas escondem dos pais que seus filhos se sentem transgêneros. Já houve mesmo casos de juízes que retiraram a custódia dos pais que não queriam que seu filho menor de idade tomasse hormônios do sexo oposto.”

O fato é que a interferência do Estado na instituição familiar é visível e crescente. As consequências desse processo só aparecerão no futuro.

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