Em 27 de dezembro de 2020, um domingo, Lucas (8 anos), Alexandre (10 anos) e Fernando (11 anos) saíram de casa para brincar em um campinho de futebol ao lado do prédio onde moravam, em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Nunca mais voltaram. O último registro de imagens das crianças com vida foi feito por câmeras de segurança no começo da tarde daquele dia.
Na semana que passou, foram finalmente revelados os detalhes do que aconteceu: a interceptação de ligações telefônicas e áudios de traficantes da comunidade do Castelar, onde as crianças moravam, deixou claro que os três meninos foram torturados e assassinados a mando do chefe do tráfico local. Motivo: elas teriam roubado uma gaiola de passarinho de um parente do traficante.
Um dos áudios, segundo reportagem do jornal carioca “O Dia”, trazia a seguinte fala do criminoso: “Nós pegamos as crianças, matamos elas, elas estavam roubando no morro, pegaram o passarinho do meu tio para vender na feira.” Uma fala em tom banal, como se ele estivesse relatando que colocou as crianças de castigo.
Mas não foi só isso: antes de morrer, os três meninos foram brutalmente espancados. Um deles não resistiu e morreu no meio da sessão de tortura. Os outros dois foram executados em seguida. Ainda segundo a reportagem de “O Dia”, seus corpos foram colocados em um porta-malas e levados até um rio da região, onde provavelmente foram atirados.
Sim: três meninos pobres, de 8, 10 e 11 anos, foram torturados e assassinados a mando de um traficante, porque teriam roubado um passarinho.
Vasculhei as redes sociais em busca de alguma indignação por parte daqueles que fazem da indignação uma razão de viver. Nada. Não se ouviu um lamento sequer dos virtuosos que, do alto de sua superioridade moral, estão sempre babando de ódio contra a polícia e contra o Governo: afinal de contas, como escrevi neste artigo, de setembro do ano passado, contra traficante ninguém faz protesto.
Vou ter que ser repetitivo, porque a realidade não mudou nem vai mudar: se Lucas, Alexandre e Fernando tivessem sido vítimas de balas perdidas em um confronto entre policiais e bandidos, se as suas mortes pudessem ser exploradas de alguma maneira pela agenda lacradora do “ódio do bem”, seguramente as redes sociais estariam surtadas. Páginas e páginas de protestos contra a polícia fascista seriam criadas nas redes sociais, e as ruas seriam cenário de protestos cheios de cartazes do tipo “Onde estão Lucas, Alexandre e Fernando?”.
Mas nenhum defensor dos direitos humanos assinou manifestos nem foi para a rua exigir justiça – nem os intelectuais e artistas, nem os professores e estudantes universitários, nem os ativistas das bandeiras identitárias, nem os banqueiros progressistas, nem os ministros do STF, nem muito menos os políticos de esquerda. Nenhuma atriz de telenovela, nenhum youtuber lacrador, nenhuma cantora da moda, nenhum participante de reality que faz tudo para aparecer derramou uma lágrima. Nada. Silêncio.
Nenhum colunista progressista da grande mídia – desses que vivem de apontar o dedo com nojinho para o povo burro que não votou no candidato deles – dedicou uma linha sequer aos três meninos assassinados (talvez estavam ocupados escrevendo sobre o noivado de um senador). Inebriados da própria virtude, eles não têm tempo para lamentar mortes que não confirmam suas teses iluminadas.
Essa gente toda ficou e vai continuar calada. Porque, para eles, as vidas de Lucas, Alexandre e Fernando não importam: só importam os assassinatos que podem ser capitalizados politicamente. Só importam mortes que possam ser usadas para sabotar o Governo, ou que sejam simbolicamente apropriáveis pela sua agenda ideológica.
Três meninos pobres morreram assassinados a mando de um traficante. Não é um fato isolado: é esta a realidade de comunidades dominadas pelo tráfico em todo o Brasil. Como escrevi em setembro: “Há décadas, brasileiros honestos e trabalhadores que vivem em comunidades são reféns da violência da bandidagem associada ao tráfico de drogas: lá são os bandidos que ditam as regras, determinam quem pode entrar e sair, fazem revista nos moradores, impõem toque de recolher, mandam fechar o comércio e determinam as penas de uma justiça particular, na qual, por exemplo, pequenas contravenções podem ser punidas com um tiro na mão”. No caso dos três meninos de Belford Roxo, a punição foi a tortura e a execução sumária.
Não encontrei nas redes sociais nenhuma manifestação dos virtuosos. Mas encontrei o post abaixo, de um delegado, que talvez ajude a entender esse silêncio ensurdecedor. Encerro com o post este artigo, para reflexão do leitor.
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