| Foto: Reprodução Instagram
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Ainda que não explique tudo, a economia explica (ou deveria explicar) muita coisa. Hoje cedo foi divulgado que o PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2022, último ano do governo Bolsonaro. No ano anterior, 2021, o crescimento tinha sido de 5%.

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Em compensação, em 2020, a economia encolheu 3,3% – em função da tragédia da pandemia que praticamente paralisou o país, cabe lembrar. (Cabe lembrar também que, sem pandemia nem guerra, mas com Dilma, o PIB caiu 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016.)

Os indicadores sobre emprego de 2022 também foram positivos: o Brasil fechou o ano com uma taxa de desemprego de 9,3% – o menor patamar desde 2015.

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Diante desses números, qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual deveria reconhecer algum mérito de Paulo Guedes na gestão da economia.

Mas sabemos que isso não acontece: na disputa pelo poder e pelo controle da opinião pública, o que vale é a narrativa. E a narrativa praticamente hegemônica durante a campanha eleitoral era a de que a atuação do ex-ministro da Fazenda foi desastrosa.

Conclui-se daí que Bolsonaro perdeu a eleição não em função da economia – que, considerando o contexto global de guerra e pandemia, objetivamente não foi assim tão mal – mas em função da narrativa hegemônica sobre a situação do país e as supostas ameaças à democracia.

Ouvi de muita gente a frase: “Qualquer coisa é melhor que Bolsonaro”. Qualquer coisa tipo: aumento de impostos.

Havia uma verdadeira obsessão coletiva em tirar Bolsonaro da presidência – obsessão que uniu o consórcio da grande mídia, uma parcela do empresariado, os inimigos da Lava-Jato, os políticos da tal Frente Ampla e até mesmo uma parte do Poder Judiciário. Difícil derrotar tantos oponentes em uma eleição.

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Ouvi de muita gente a frase: “Qualquer coisa é melhor que Bolsonaro”. Bem, espero que essas pessoas não reclamem quando receberem qualquer coisa do governo, porque foi isso que elas se comprometeram a aceitar quando votaram por nojinho de um candidato, e não por real aprovação do outro.

Mas, seguramente – falo sempre em relação à economia –, haverá quem descubra que era feliz e não sabia. Se e quando as coisas realmente piorarem, essas pessoas vão fazer o quê? Chamar o Guedes? Mas elas não preferiam qualquer coisa?

Qualquer coisa, tipo: aumento de impostos.

Puxando apenas pela memória, nos últimos dias foram anunciadas: a reoneração sobre a gasolina e o etanol, que inevitavelmente terá impacto na inflação (“Ain, mas o pobre não tem carro...” Certo. Mas o alimento que o pobre come chega por estradas. Dããã...); a criação de um imposto sobre a exportação de petróleo, interpretado como uma péssima ideia e um mau precedente por todos os analistas econômicos sérios; e a tributação sobre jogos eletrônicos.

Esta última medida, aliás, foi divulgada de forma confusa. Parece que a ideia é tributar os sites e aplicativos de apostas online, o que faz sentido (sim, é preciso reconhecer quando uma ideia é boa). Mas ficou parecendo que os jogos eletrônicos na internet também seriam tributados, para desespero de milhões de gamers. Ainda falta esclarecer.

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Já a reoneração dos combustíveis foi apresentada com uma justificativa ecológica: precisamos proteger a natureza e desestimular o uso de combustíveis fósseis.

Ok, mas como vai ficar a vida do cidadão comum quando o preço de praticamente tudo aumentar em função do aumento da gasolina? Quem acorda cedo para pegar ônibus e está afogado em boletos vai apoiar esse aumento em nome da adesão do Brasil à agenda ESG? Sei não...

Já escrevi aqui e repito: eu sempre torço para o Brasil dar certo, independente de quem está no poder. Até porque, invariavelmente, quem mais se ferra quando as coisas dão errado são os pobres, e não dá para colocar preferência política à frente do bem estar da população mais humilde.

Mas torcida, infelizmente, não basta.

A não ser em caso de manipulação, os números costumam ser indiferentes às narrativas. Sempre se pode optar, é claro, por ignorar os números e ficar com as narrativas

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Voltando ao PIB. Um dado relevante é que, apesar de ter fechado em razoável alta em 2022, no último trimestre do ano houve uma pequena retração, de 0,2%. O que foi mesmo que aconteceu no último trimestre para explicar essa reversão de cenário?

Ah, sim, a eleição. Pois bem: os  indicadores econômicos do último trimestre de qualquer final de mandato dizem mais a respeito à expectativa dos agentes econômicos em relação ao governo que está para assumir do que ao governo que se encerra.

Preocupante, nesse sentido, foi a perda de cerca de 430 mil empregos com carteira assinada no mês de dezembro – mês no qual, em função das festas de final de ano, vagas costumam ser criadas aos montes, e não extintas.

Por isso mesmo, é tensa a expectativa em relação à taxa de desemprego de janeiro. Essa taxa é geralmente divulgada no último dia do mês subsequente, 28 de fevereiro no caso. Mas já estamos em março e, por algum motivo, parece que a divulgação do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) foi adiada por uma semana. Estarão refazendo as contas?

Espero, sinceramente, que em janeiro tenham sido criadas muitas vagas de emprego. Caso esta expectativa não se confirme, será um sinal altamente aflitivo: desemprego aumentando no primeiro mês de qualquer governo, na chamada lua-de-mel com o mercado, é sempre uma notícia péssima para a população.

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Igualmente aflitiva para quem torce pelo Brasil é a revisão para cima, pela décima-primeira semana seguida, da expectativa de inflação de 2023 – que consta no último Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central. Persistindo essa tendência, a inflação pode fechar o ano próxima dos dois dígitos, o que seria trágico. Tomara que não.

O fato é que a situação da economia não parece boa. Jogar a culpa na herança maldita – agora rebatizada de “legado perverso” – do governo passado pode até colar para uma parcela da população, mas não por muito tempo. Até porque os indicadores oficiais mostram que esse legado não foi tão perverso assim – ao menos na economia, frisando mais uma vez.

Aparentemente, o caminho escolhido para lidar com a potencial crise será o aumento (ou “recomposição”, na novilíngua em vigor) da carga tributária. Pois bem, como estudante aplicado de economia, andei lendo sobre a Curva de Laffer, que o ministro da Fazenda deveria levar seriamente em conta.

Desenvolvida pelo economista americano Arthur Laffer, que defendia a diminuição da carga tributária como forma de estimular o crescimento da economia – o que, aliás, foi feito com sucesso por Paulo Guedes no governo passado – o que a Curva de Laffer diz, de maneira contraintuitiva, é que, a partir de um determinado ponto, o aumento dos impostos passa a provocar a diminuição da arrecadação.

Dessa forma, a representação gráfica da carga tributária versus arrecadação não seria uma linha reta ascendente, mas uma curva voltada para baixo:

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Ou seja, em vez do almejado equilíbrio fiscal, o efeito da recomposição pode ser o inverso: agravamento do déficit.

Basta imaginar que há dois casos extremos em que o governo arrecada zero: se a alíquota de tributação for de 0% e se a alíquota de tributação for de 100%. Nos dois casos, ninguém vai pagar impostos, pois o cidadão ou não terá o que pagar ou não terá incentivo algum para trabalhar e produzir.

Entre os dois extremos, qualquer aumento da carga tributária leva também ao aumento da percepção de que é mais compensador sonegar do que pagar impostos. Com uma carga tributária decrescente, ao contrário, indivíduos e empresas que sonegavam são incentivadas a passar a pagar impostos, porque se torna compensador entrar na formalidade.

A não ser em caso de manipulação, os números costumam ser indiferentes às narrativas. Sempre se pode optar, é claro, por ignorar os números e ficar com as narrativas. Mas as consequências não tardam a chegar.

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