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Luciano Trigo

Luciano Trigo

O começo do fim do Facebook

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Na última quinta-feira, a Meta, dona do Facebook, perdeu mais de US$ 230 bilhões em valor de mercado. Suas ações despencaram 26% em um único dia. Em números absolutos, foi o maior tombo de uma empresa já registrado na História. Na véspera, Mark Zuckerbeg tinha admitido que, pela primeira vez desde sua fundação em 2004, o Facebook perdeu usuários ativos: foram 500.000 a menos no último trimestre de 2021. A Meta também é dona do Instagram e do WhatsApp.

Estou seguro de que uma análise puramente econômica pode demonstrar que este foi um episódio isolado, provocado por tais e tais fatores, e que o tombo da Big Tech, apesar de gigantesco, logo será superado e esquecido. Talvez. Mas outra interpretação possível é que o Facebook já começou a morrer há algum tempo, e que esse choque de mercado foi apenas o primeiro sinal mais assustador de que o paciente está com um tumor maligno e incurável: podemos estar assistindo ao começo do fim do Facebook.

Na teleconferência em que anunciou os resultados desastrosos do último trimestre, Zuckerberg citou nominalmente a concorrência do aplicativo chinês TikTok – cujo apelo para os jovens é hoje infinitamente maior que o do Facebook – e disse que vai investir mais nos “Reels” (vídeos curtos). Ou seja, vai tentar imitar a concorrente, em vez de inovar. Ele também declarou que o futuro da Meta “não está perfeitamente definido”, o que assustou ainda mais os investidores. O Metaverso, anunciado como uma grande e bilionária aposta da Big Tech para os próximos anos, já começa a fazer água.

Duas palavras: bem feito. O Facebook começou a morrer quando deixou de ser uma plataforma neutra e autorregulada para se transformar em um experimento perverso de engenharia social. Ao assumir e impor aos seus bilhões de usuários uma agenda política, ideológica e comportamental, a rede social entrou no jogo do “nós contra eles” cujo efeito prático não foi produzir um novo consenso, como se almejava, mas dividir e envenenar cada vez mais a sociedade. Virou uma rede tóxica, dominada por milícias do “ódio do bem” e por gente infeliz e ressentida cujo único prazer é denunciar, censurar, perseguir e esfolar.

Algoritmos cada vez mais sofisticados identificam postagens “sensíveis” e cancelam contas. Isso gerou uma atmosfera de autocensura como nunca se viu em uma democracia

A cultura do cancelamento, o fascismo identitário, os assassinatos de reputações, os linchamentos morais, o “wokismo” psicopata, o bom-mocismo moralista, a histeria fabricada, os preconceitos reversos, a transformação do vitimismo em virtude, nada disso teria lançado raízes na sociedade sem a contribuição ativa do Facebook. A rede social ajudou a parir uma geração de censores virtuosos, que, se tivessem vivido na época da ditadura, certamente ligariam para os órgãos de repressão para denunciar o vizinho subversivo, cheios de orgulho. Porque o impulso censor está ali, apenas com o sinal trocado.

O Facebook não apenas estimulou essas condutas, quando oriundas da bolha progressista, como censurou e fabricada perseguiu ostensivamente todos aqueles que ousassem discordar da agenda de destruição deliberada dos valores associados à família, à liberdade de pensamento e de expressão, ao mérito, à moral cristã etc etc.

Algoritmos cada vez mais sofisticados identificam em segundos postagens “sensíveis” que devem ser censuradas: escrever qualquer coisa que não seja frases de efeito lacradoras sobre temas como ideologia de gênero, cotas, pronomes neutros ou, particularmente, a vacinação, é correr o risco de ter a conta banida pelos censores do Facebook – ou, pior ainda, atrair a fúria das manadas enfurecidas que hoje detêm o poder de excomunhão digital, de isolar e excluir, por intimidação ou constrangimento, qualquer um que ouse pensar de forma diferente.

Tudo isso gerou uma atmosfera de autocensura como nunca se viu em uma democracia. Quem não concorda com a agenda progressista simplesmente deixa de se manifestar nas redes sociais, por medo de perseguição, patrulha e outras consequências mais graves (como perder o emprego). O problema é que, se essas pessoas não se sentem mais à vontade para escrever o que pensam, elas deixam de se interessar pela plataforma. O resultado previsível desse processo é a queda do número de usuários ativos. Mas muito antes disso, o número de usuários silenciosos (por medo de censura) já vinha aumentando muito, seguramente.

Ora, quando uma Big Tech se sente à vontade para interferir no processo político e cancelar a conta de um presidente eleito democraticamente pela maioria, como aconteceu com Donald Trump nos Estados Unidos, algo está errado. Essas empresas já detêm um poder de monopólio que se sobrepõe às instituições, às leis e aos princípios mais elementares da democracia. Quem não enxerga os riscos desse fenômeno não entendeu nada.

Qualquer um tem o direito de achar Trump (ou Bolsonaro, ou qualquer outro político) um imbecil, por óbvio: mas quando começa a parecer normal, aceitável ou mesmo bonitinho que empresas privadas decidam e imponham o que é certo ou errado, o que pode e o que não pode ser falado, e quais bandeiras, partidos e candidatos podem ser apoiados por seus usuários, já não estamos mais em um sistema democrático, mas em uma estranha mistura de capitalismo selvagem com ideologia progressista, de censura “do bem” com total falta de limites ao poder econômico. E tudo isso com apoio do Judiciário e da grande mídia. Tempos sombrios.

Por outro lado, o tombo do Facebook na Bolsa sinaliza que a reação já começou. E é crescente no Congresso americano o número de projetos com o objetivo de combater ou mitigar o poder de monopólio das Big Tecas. Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo a leitura do livro “A tirania das Big Tech”, recém-lançado no Brasil pela Vide Editorial, escrito pelo senador republicano Josh Hawley. A sinopse:

“Gigantes como Google e Facebook, outrora símbolos da liberdade criativa norte-americana, converteram-se em grandes oligarquias. Detentoras de uma quantidade inimaginável de dados pessoais, as Big Tech têm agora um poder político muito maior do que o já imenso poder econômico que possuíam, e que as torna capazes de mudar o rumo de eleições e censurar vozes que consideram inconvenientes.

“Contra a ameaça que tais megacorporações representam para as liberdades individuais, o senador Josh Hawley — pioneiro na luta contra a tirania das Big Tech — propõe maneiras práticas de combatê-las. Para ele, o domínio crescente dos monopólios tecnológicos não pode ser freado por uma solução que venha dos políticos, mas do cidadão comum. “O fim da soberania das Big Tech implica em retomar nossa própria soberania”. Cabe a cada um combater o bom combate.”

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