| Foto: Reprodução Instagram
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Durante 30 anos, de 1989 a 2019, El Salvador foi governado por apenas dois partidos: um supostamente de direita, a ARENA – Alianza Republicana Nacionalista, e um claramente de extrema esquerda, a FMLN – Frente Farabundo Martí de Libertación Nacional, oriunda da fusão do grupo guerrilheiro de mesmo nome com outras agremiações políticas.

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Há quem diga que se tratava de um “teatro das tesouras”, no qual se revezavam a esquerda e uma “direita consentida”, que de direita não tinha nada. O fato é que, durante aquelas três décadas, o país chafurdou em um caos de miséria, corrupção e violência. Gangues dominavam as ruas e impunham suas próprias leis, cometendo rotineiramente carnificinas com um grau de violência inacreditável até para um brasileiro.

Tudo isso começou a mudar na eleição de fevereiro de 2019, quando um candidato outsider venceu no primeiro turno, com 53% dos votos. Nayib Bukele, um jovem empresário de 37 anos, assumiu o poder se beneficiando do cansaço da população com os políticos tradicionais e prometendo acabar com o terror cotidiano do país.

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Tomando medidas firmes e drásticas contra a criminalidade, Bukele conseguiu reduzir o índice de mortes violentas no país de 100 homicídios por 100.000 habitantes para 7 homicídios por 100.000 habitantes – resultado que deveria, no mínimo, ser observado com atenção por qualquer pessoa moralmente honesta, ainda que se deva, é claro, investigar e punir qualquer excesso cometido pelo Estado na repressão ao crime.

Mas construir presídios, quando são necessários, e prender bandidos, quando cometem crimes, não são excessos. Endurecer as penas contra traficantes, assassinos e ladrões também não. Excesso do Estado seria, hipoteticamente, prender um manifestante e, passado um ano sem julgamento, deixá-lo morrer na prisão. Ou usar o aparato judicial para perseguir e fazer pesca predatória contra políticos da oposição. Ainda bem que coisas assim não acontecem no nosso país.

Mas não é contra esse tipo de excesso que a grande mídia progressista se revolta. A grande mídia prefere ignorar a notícia boa – o sucesso incontestável de Bukele na redução da criminalidade – e centrar fogo em supostas violações de direitos dos manos, digo, humanos, e em supostos ataques à democracia. Para surpresa de ninguém, ao longo de seu primeiro mandato Bukele foi diariamente massacrado – e transformado por jornalistas e intelectuais bandidólatras em uma caricatura de ditador fascista.

Construir presídios, quando são necessários, e prender bandidos, quando cometem crimes, não são excessos. Endurecer as penas contra traficantes, assassinos e ladrões também não

Pois bem, Bukele concorreu à reeleição. O resultado: ele venceu com mais de 85% dos votos. Foi uma votação histórica, que faz do presidente de El Salvador o político mais popular da América Latina hoje. Mas, em vez de refletir sobre as causas do fenômeno, os jornalistas do bem preferem ridicularizar Bukele como “ditador millenial” ou “presidente hipster”.

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Aparentemente, segundo as vozes nas cabeças dessas pessoas iluminadas, ter sucesso no combate ao crime representa uma ameaça à democracia. Mais eficaz seria abrandar as penas dos criminosos, promover oficinas de pronomes neutros e proibir o uso de pistolas d’água no carnaval de El Salvador. Porque todo mundo sabe que a culpa da violência extrema no país é do colonizador espanhol de 500 anos atrás.

Que lições o campo progressista deveria tirar da vitória acachapante de Bukele? Em primeiríssimo lugar: que, em uma sociedade dominada pela violência descontrolada, a prioridade para o cidadão comum, para o trabalhador que acorda cedo para pegar no batente, é a segurança. Quando o crime domina as ruas, todo o resto se torna acessório aos olhos da população.

Isso vale em qualquer país do mundo. Um pai de família que vive com medo de perder a vida em um assalto ou de ter sua filha estuprada por traficantes (não estou falando do Brasil, onde vigora o amor e isso não acontece) não está preocupado com emissões de carbono, nem com o uso adequado de pronomes neutros, nem com a agenda identitária. A urgência urgentíssima é a segurança.

Até mesmo problemas práticos de impacto mais imediato, como a inflação e a carestia, vêm depois. Até para poder se preocupar com os preços que sobem, é fundamental ter o essencial, e não há nada mais essencial que a própria vida. Para o cidadão salvadorenho que já teve um parente assassinado ou perdeu um filho para o narcotráfico, os resultados apresentados por Bukele fizeram toda a diferença.

Em uma sociedade dominada pela violência descontrolada, a prioridade para o cidadão comum, para o trabalhador que acorda cedo para pegar no batente, é a segurança

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É claro que, em situações extremas, sempre haverá um trade-off, prós e contras a serem sopesados. Mas a História recente demonstra que, quando a criminalidade sai do controle, o que resolve são políticas mais rígidas, e não os discursos demagógicos.

Um exemplo clássico é a cidade de Nova York, que nos anos 70 era uma das metrópoles mais violentas do planeta e viu os indicadores de criminalidade despencarem quando foi implementada uma política de tolerância zero – que, em poucos anos, reduziu os assassinatos em 60% e a prática de crimes comuns em 44%,

Qual foi a mágica? Simplesmente aumentar o policiamento nas ruas e punir de forma mais severa contravenções e crimes menores, incluindo até mesmo não pagar a passagem do ônibus ou consumir bebida alcoólica na rua.

Essa política se baseou em dois pressupostos baseados em incentivos: primeiro, se um criminoso não for condenado e preso, ele se sentirá encorajado a reincidir no crime; segundo, se um contraventor não for punido por pequenos delitos com a severidade que a lei permite, ele se sentirá incentivado a cometer crimes maiores.

Em Nova York como em El Salvador, diga-se de passagem, a escolha por endurecer contra a bandidagem contou com total apoio da população.

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Na Califórnia, mais recentemente, foi adotada a política diametralmente oposta: aumentar a leniência com pequenos furtos e outros delitos, como se isso fosse uma forma de promover justiça social. As consequências estão sendo desastrosas. Saques em supermercados e lojas de departamentos se tornaram rotineiros, porque os ladrões se sentiram encorajados pelo Estado a roubar.

Tudo isso pode parecer óbvio, mas em um determinado país da América Latina defender o óbvio é correr o risco de ser cancelado ou até preso. Porque a prioridade é sempre o bem-estar e o respeito às garantias do criminoso; a preocupação com a vítima, se é que existe alguma, fica em segundo plano.

Concluo com a transcrição de declarações feitas por Bukele no dia da sua reeleição:

"O que incomoda muitos governos é que El Salvador mostra que tudo pode ser feito, se houver vontade. Quando um país não resolve seus problemas, especialmente de criminalidade, é porque não há vontade de resolvê-los. Em alguns casos, porque [as autoridades] são parceiras de criminosos. (...)

“Atacar o crime tem muitas consequências. Mas a primeira, para um sócio dos criminosos, é que ele perde o negócio. Tem que ser [eleito] alguém que não se preocupa com criminosos, que não se importa com a economia criminosa, que esteja disposto a quebrar a economia do crime e colocar os criminosos na prisão."

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O discurso completo de Bukele celebrando a vitória pode ser assistido no vídeo abaixo:

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]