A História recente mostra que apostar no vandalismo não é um bom negócio para a esquerda. Mas, pela evolução dos acontecimentos, parece que a memória é curta: no último domingo, voltaram ao noticiário cenas de destruição e violência nas manifestações convocadas pela oposição: agências bancárias depredadas, vitrines quebradas, barricadas improvisadas com pneus queimados, paus e pedras atirados contra a polícia.
O roteiro era previsível: mal escureceu, começou a barbárie na capital paulista. O mesmo já tinha acontecido em Curitiba, na semana anterior, quando bandeiras do Brasil foram queimadas. Ainda que esses protestos tenham sido modestos em número de participantes, tudo indica que estão ensaiando uma reprise das manifestações que colocaram o país de pernas pro ar, em junho de 2013.
A primeira pergunta é: quem saiu perdendo com as chamadas “jornadas de junho”?
Para responder, é preciso voltar um pouco no tempo. Em maio de 2013, a então presidente Dilma Rousseff não tinha do que reclamar. Os indicadores econômicos eram razoáveis. Se o crescimento era modesto, o baixo desemprego e políticas como a valorização real do salário mínimo garantiam uma popularidade elevada: uma pesquisa do Ibope divulgada em março daquele ano dava ao governo 63% de aprovação.
Atenção! Pode-se argumentar que aquela era uma situação artificial, e que as crises econômica e política já estavam contratadas, o que é verdade. Mas o fato é que, naquele momento, o governo voava em céu de brigadeiro.
Em 2013, ainda não existia operação Lava-Jato, e ninguém sequer cogitava que Lula acabaria preso. Naquele contexto, a cúpula do PT acalentava um sonho: chegar ao final de 2014 com Dilma reeleita, Haddad (já eleito em 2012) prefeito e um petista governando o estado de São Paulo. Ocupando ao mesmo tempo a prefeitura da maior cidade do país, o governo do maior estado do país e a presidência da República (a tríplice coroa), o PT estaria pronto para levar adiante seu projeto de perpetuação no poder – preparando o terreno, quem sabe, para a volta de Lula em 2018.
Foi aí que alguém no campo governista teve uma ideia brilhante. Para conquistar a tríplice coroa, era preciso desestabilizar o governo tucano de São Paulo e assim garantir a conquista do estado, na eleição de 2014. Começaram então os protestos, com o apoio velado (ou não tão velado) do campo da chamada esquerda. Invariavelmente, acabavam em pancadaria, mas os únicos responsabilizados por estragar as “festas da democracia” eram o governador e a polícia.
Nem é preciso fazer um grande esforço de memória para lembrar que, em sua primeira fase, as manifestações tinham um claro viés pró-petista. De forma quase escandalosa, e com apoio da mídia, centravam fogo em Alckmin e poupavam Haddad (que também tinha majorado a tarifa dos transportes públicos). E logo ficou claro que os protestos, cada vez mais violentos, não eram mesmo pelos 20 centavos, tanto que eles continuaram depois da revogação do reajuste.
O roteiro estava sendo encenado conforme o previsto, graças em parte à inépcia da PM paulista em lidar com a situação. Mas ocorreu algo inesperado: as ruas saíram do controle, e o plano se voltou contra os seus criadores. Os protestos passaram a dar vazão a uma insatisfação represada inimaginável com o governo Dilma, jogando por terra a imagem do país cor de rosa que se vendia para a população.
Não é mera coincidência que o símbolo dos Antifas seja tão parecido com o símbolo dos black blocs
A partir daquele momento, a popularidade da “presidenta” só fez despencar: em dezembro de 2013 uma nova pesquisa registrava que apenas 20% dos brasileiros consideravam seu governo ótimo ou bom; para 43%, era ruim ou péssimo. Sim, Dilma acabou sendo reeleita, mas foi uma vitória de Pirro: incapaz de cumprir as promessas de campanha e com a economia do país destroçada, seu segundo mandato durou menos de dois anos, aliás sufocado por imensas manifestações de rua, estas sim pacíficas, em 2016, sem que se quebrasse uma vitrine sequer. Não parece absurdo afirmar que o inferno astral de Dilma começou quando os black blocs entraram em cena, nas jornadas de junho.
A segunda pergunta é: se os protestos contra Bolsonaro ficarem associados ao vandalismo, quem sairá ganhando? Porque, não se iluda, o alvo é um só: todas as outras bandeiras alardeadas – defesa da democracia, antifascismo, apoio a minorias etc – são mero pretexto para angariar o apoio de inocentes úteis; o único objetivo é derrubar o presidente, e para isso todos os meios são válidos. Não é mera coincidência que o símbolo dos Antifas seja tão parecido com o símbolo dos black blocs, como mostra a ilustração deste artigo.
A resposta é óbvia: o maior beneficiado será Bolsonaro. Pode ser difícil para a oposição entender isso, mas a imensa maioria da população brasileira quer segurança, paz e ordem. As classes populares que elegeram Bolsonaro – ou alguém acredita que ele foi eleito pelas elites? – rejeitam o caos, e não é difícil entender por quê.
Ao contrário dos jovens de classe média que adoram brincar de revolução e depois voltar para o conforto de um lar burguês, os trabalhadores sabem que, se depredarem um ônibus, não terão transporte no dia seguinte; se destruírem uma agência bancária, não terão como sacar dinheiro; se saquearem um supermercado, não terão onde comprar comida. Black blocs podem encantar os ativistas de sofá, os Antifas das redes sociais e a juventude dos bairros nobres das grandes capitais, mas para o povão são apenas arruaceiros: gente mascarada que quebra, depreda e destrói tudo que vê pela frente.
Chega a ser surpreendente que não tenham aprendido a lição. Assistir ao noticiário no domingo passado foi como fazer uma desagradável viagem no tempo: não eram só as imagens de quebra-quebra que pareciam as mesmas de 2013, mas também as falas dos jornalistas, insistentemente repetidas, eram idênticas. Enquanto se mostravam ruas destruídas, caçambas de lixo queimadas e trincheiras improvisadas, os comentaristas repetiam a cada dois minutos que as manifestações tinham sido pacíficas.
Já as referências aos policiais que tentavam proteger o patrimônio público e privado da sanha destruidora de manifestantes eram sempre ambíguas, quase insinuando que qualquer ação das forças de segurança pública para conter o vandalismo, como lançar bombas de efeito moral, seria sinônimo de repressão fascista. Na verdade, não há motivo para surpresa; para os intelectuais, os artistas e a mídia, os vândalos serão sempre os defensores da democracia, e a polícia será sempre a vilã.
Na cobertura dos protestos de 2013, quando o grau de vandalismo se tornava indefensável – até chegar ao clímax trágico de um cinegrafista assassinado em serviço, atingido por um rojão – a mídia não dava o braço a torcer: os vândalos, vejam só, não eram manifestantes! Os protestos eram pacíficos, o quebra-quebra era sempre culpa de um pequeno grupo que apareceu ali por acaso. Por que grupos assim não apareceram nas manifestações - repito, estas sim pacíficas - de 2016?
Nunca entendi qual o sentido de classificar como "pacíficos" os protestos de 2013, que acabavam invariavelmente em um cenário de filme de terror. Mas não é que até esse argumento voltaram a usar? Segundo parte da mídia, convoca-se uma manifestação, com hora marcada para o quebra-quebra começar, mas o vandalismo não tem nada a ver com os manifestantes! Isso equivale a pouco menos que chamar o espectador de burro.
A terceira e última pergunta é: ora, se essa mesma estratégia fracassou miseravelmente em 2013, o que leva alguém a acreditar que o resultado agora será diferente? Causas têm consequências, e geralmente elas se repetem. Nós já vimos esse filme, e ele não terminou bem para a esquerda.
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