• Carregando...
O que diziam as pesquisas eleitorais em julho de 2017
| Foto: Reprodução

Não sou daqueles que só acreditam em pesquisas eleitorais quando elas confirmam a minha expectativa, mas também é forçoso reconhecer que o índice de previsões equivocadas dos institutos brasileiros vem superando as margens de erro mais flexíveis, eleição após eleição. Mesmo, porém, quando são feitas com seriedade, ética e as melhores metodologias, o que nem sempre é o caso, pesquisas são instantâneos de um determinado momento.

Uma pesquisa realizada hoje mostra o que aconteceria se a eleição fosse hoje, não o que acontecerá daqui a 15 meses. Até porque, eleitores incondicionais de Bolsonaro e Lula à parte, a preferência dos brasileiros comuns, não comprometidos com nenhuma agenda, pode mudar ao sabor de variados ventos, sobretudo os ventos da economia. Já escrevi mais de uma vez que o voto do eleitor pobre não é ideológico, é pragmático: ele vai votar no candidato que oferecer soluções imediatas para seus problemas urgentes.

Isso tende a favorecer plataformas populistas, que cuidam do sintoma sem erradicar as causas da doença – no caso, a miséria. É o lado ruim do sistema: fica difícil propostas de mudanças estruturas sérias, mas cujos efeitos só serão sentidos no médio e no longo prazo, prevalecerem sobre propostas demagógicas, de curto ou curtíssimo prazo. Ainda assim, evidentemente, a democracia continua sendo “a pior forma de governo, com exceção de todas as outras”, como afirmou Churchill.

Existem hoje no Brasil duas percepções irracionais das pesquisas, que sinalizam mais um wishful thinking dos apoiadores dos campos em disputa que um exame sereno e desapaixonado dos fatos. Por um lado, há os que afirmam que Bolsonaro está “derretendo”, e que a tendência de perda de popularidade é irreversível; por outro, há os que consideram impossível Lula ter chances reais de vencer, depois de tudo que o Brasil passou nos últimos anos. Os dois lados estão equivocados.

Um exercício interessante é lembrar o que diziam as pesquisas eleitorais divulgadas em julho de 2017, 15 meses antes das eleições de 2018, isto é, à mesma distância temporal das urnas em que estamos hoje.

O Instituto DataPoder360 trazia os números abaixo (vale lembrar que Lula só se tornou inelegível em janeiro de 2018, quando foi condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão, no caso do Triplex do Guarujá):

O Paraná Pesquisas também apontava a vitória de Lula, em todos os cenários:

A pesquisa do Datafolha foi feita um mês antes, em junho de 2017, com vantagem ainda mais acentuada de Lula:

A pesquisa mais próxima do Ibope que localizei é de outubro de 2017, ou seja, ainda mais perto da eleição de 2018. Os números eram os seguintes:

Pois bem, quatro anos atrás praticamente todas as pesquisas apontavam para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, com vantagem confortável para o candidato petista no primeiro turno. É mais ou menos o que estamos vendo agora. Que conclusão se pode tirar daí?

Pode dar Bolsonaro, pode dar Lula, e pode não dar nenhum dos dois. Os acontecimentos recentes mostram que, no nosso país, até o passado é imprevisível. Quem achar que as coisas já estão decididas não entende nada de Brasil

Bom, é possível escolher entre duas narrativas. Para o eleitor de Bolsonaro, isso prova que os institutos de pesquisa estavam errados: de boa ou má fé, nenhum deles captou, naquele momento, o potencial eleitoral de Bolsonaro. Na verdade, a percepção geral entre os "especialistas" na época era que Bolsonaro derreteria com a aproximação das eleições, e aconteceu justamente o oposto, contrariando todos os prognósticos. Já para o eleitor de Lula, o que essas pesquisas mostram é que Lula derrotaria Bolsonaro em 2018, e que o PT só perdeu porque o candidato não foi Lula, mas Fernando Haddad.

Impossível saber quem tem razão, porque estamos no terreno da especulação e das convicções pessoais. Tenho a minha opinião, mas não dá para afirmar categoricamente o que teria acontecido em outubro de 2018 se Lula não estivesse inelegível, à força de condenações em segunda instância à prisão – condenações recentemente anuladas pelo ministro do STF Edson Fachin.

Mas dá, sim, para concluir que aquilo que as pesquisas dizem hoje não é um vaticínio inescapável, não é uma sentença definitiva. Para o bem e para o mal, muita coisa ainda vai acontecer até outubro de 2022. Pode dar Bolsonaro, pode dar Lula, e pode não dar nenhum dos dois. Os acontecimentos recentes mostram que, no nosso país, até o passado é imprevisível. Quem achar que as coisas já estão decididas não entende nada de Brasil.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]