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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Ratofobia estrutural

O rato é meu amigo: mexeu com ele, mexeu comigo!

(Foto: Divulgação)

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Um dos aspectos mais assustadores da onda de loucura que varre o planeta é seu anti-humanismo. O homem deixou de ser a prioridade.

No Brasil o fenômeno se manifesta, por exemplo, nos debates sobre a Amazônia. Em uma região riquíssima em recursos naturais e humanos, as pessoas vivem na miséria, crianças morrem de doenças que já deveriam ter sido erradicadas, metade da população não tem saneamento básico, a falta de estradas impede até a chegada de atendimento médico nas áreas mais remotas e carentes.

Mas não se pode resolver nada disso, porque a prioridade hoje não é o amazônida, não é garantir sua dignidade, nem mesmo sua sobrevivência: é transformar a floresta em um jardim botânico controlado por ONGs estrangeiras, em uma zona de exclusão do desenvolvimento, em um manancial de créditos de carbono que permitirá aos países ricos continuar a poluindo e crescendo, à custa do desenvolvimento do nosso país – enquanto a população local morre de fome.

(Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo assistir aos vídeos de Aldo Rebelo no Youtube e seguir as contas do Lorenzo Carrasco e da Amazônia Azul no Twitter. Façam isso correndo, enquanto é tempo – porque, pelo andar da carruagem, em um futuro próximo todos esses perfis serão cancelados por espalhar fake news, e seus conteúdos desaparecerão misteriosamente da Internet, por representarem grave ameaça à democracia.)

Mas o problema não se restringe ao Brasil. Basta acompanhar o noticiário internacional para perceber que se trata de um movimento global.

Nesses dias mesmo eu estava lendo uma reportagem sobre a praga de percevejos que se espalhou por Paris e já chegou a cidades da Espanha – daqui a pouco chega ao Brasil. Dos percevejos passei para os ratos, que também estão infestando a capital francesa, sem qualquer cerimônia.

Pois bem, descobri que a prioridade da prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, não são os parisienses humanos, mas o bem estar dos ratos. As informações são da reportagem “Prefeitura estuda como Paris pode ‘coabitar’ com ratos e busca soluções não-letais para infestação”.

Sim, isso mesmo. Acatando uma “demanda antiga de protetores de animais”, foi criado um comitê de trabalho para encontrar uma solução não para exterminar os roedores, esses incompreendidos – que causam, entre outras doenças, leptospirose, peste bubônica, tifo, salmonelose e hantavirose (a lista completa é longa), mas isso é apenas um detalhe – mas para conviver com eles.

Veneno, nem pensar. Cogita-se o uso de contraceptivos orais, para reduzir a fertilidade das ratazanas – já que nenhuma delas, aliás, tem o costume de abortar.

Os ratos são maioria. Se tivessem direito a voto, venceriam qualquer eleição no primeiro turno. Já passou da hora de colocarmos esse debate na mesa!   

Não é difícil visualizar um cenário no qual quem criticar a prefeita será sumariamente cancelado e perseguido. Porque todo mundo sabe que os ratofóbicos são fascistas, espalham discurso de ódio e ameaçam a democracia.

Talvez em breve seja criado o dia internacional da visibilidade roedora, para que as ratazanas possam circular livremente pelas ruas sem medo de serem agredidas.

Aliás isso já está acontecendo em Paris. Como diz a reportagem citada:

“Os roedores não temem mais sair à luz do dia em busca dos restos de alimentos deixados pelos humanos nas lixeiras ou em plena rua. Aos milhares, eles trocaram os esgotos por tocas abertas nos jardins parisienses, onde ficam mais próximos de fontes de alimentação. (...) Nos metrôs, nas calçadas, nos parques e jardins, mas por vezes até sob a mesa em um restaurante: os ratos e camundongos fazem parte do cotidiano de Paris, principalmente nos bairros mais frequentados pelo turismo de massa, como Montmartre, Notre Dame ou a Torre Eiffel.”

Além do mais, os ratos são maioria, e em uma democracia a maioria sempre tem razão. Estima-se que para cada 100 humanos residentes em Paris existam entre 150 e 175 ratos. Se tivessem direito a voto, venceriam qualquer eleição no primeiro turno. Já passou da hora de colocarmos esse debate na mesa!

O que a prefeitura progressista de Paris está fazendo é finalmente dar voz aos ratos e reconhecer seu direito à existência. Fala-se até em um marco temporal que garanta aos roedores a posse de parte do território de Paris, com o apoio de ONGs internacionais. O Supremo da França já declarou: é preciso dar um basta ao ratocídio!

A reportagem continua informando que a secretária municipal de Saúde, a ecologista Anne Souyris, diz que a questão da coabitação “está colocada”. Já Amandine Sanvisens, presidente da ONG Paris Animaux Zoopolis assevera: “Devemos aceitar o fato de que há animais numa cidade: assim como as pombas, tem os ratos”.

Quanto ao risco sanitário, a secretária afirma que “a presença visível dos roedores não representa um problema de saúde pública”. Contaminações por leptospirose, doença mortal transmitida pela mordida de ratos ou pelo contato com a urina contaminada, seriam limitadas e atingiriam basicamente os coletores de lixo, que “podem tomar vacina”.

"No Ocidente, nós temos claramente um problema cultural com os ratos”, ela conclui. “Na História, guardamos a imagem de que eles nos transmitiram a peste etc. Em outras sociedades, porém, pode ser bem diferente. Na Índia, alguns ratos são adorados, como no templo de Deshnok”.

Preparem-se, porque em breve essa onda chegará aqui. Na nova democracia, o rato é meu amigo: mexeu com ele, mexeu comigo!

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