Como foi fartamente noticiado, dois suspeitos de atos preparatórios para atentados terroristas contra a comunidade judaica no Brasil foram presos pela Polícia Federal na Operação Trapiche, deflagrada na quarta-feira.
Houve quem não levasse a ameaça a sério e até quem insinuasse se tratar de uma farsa. Mas não convém menosprezar o risco de ocorrerem no país, em um futuro breve, atentados terroristas promovidos pelo Hezbollah e outros grupos islâmicos.
Vale lembrar que nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, 11 brasileiros recrutados pelo Estado Islâmico foram acusados de planejar atentados na cidade, na Operação Hashtag. Oito foram julgados e presos, com base na Lei do Terrorismo sancionada em 2016.
Vale lembrar também que o maior atentado terrorista da história da Argentina foi direcionado contra judeus: a explosão de um carro-bomba na AMIA – Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires, que matou 85 pessoas e feriu centenas, em julho de 1994.
Coincidentemente, em junho passado, quase 30 anos depois, a Justiça argentina fez um pedido internacional pela prisão de quatro libaneses suspeitos de participarem do atentado, conforme esta reportagem.
Dos quatro procurados, todos libaneses, três podem estar no Brasil: um estaria morando em Foz do Iguaçu; outros dois são naturalizados brasileiros. Não sei o que foi feito para atender ao pedido da Justiça argentina, nem se foi feita alguma coisa.
Mas sei que, no contexto da guerra provocada pelo selvagem massacre terrorista perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro, a possibilidade de um atentado como o da AMIA no Brasil não pode ser descartada.
A população de judeus no país é estimada em 120.000 pessoas: é a segunda maior comunidade judaica na América Latina (atrás, justamente, da Argentina com 230.000).
Não é difícil visualizar a internacionalização do conflito por meio de atentados terroristas em países com população judaica expressiva. Na Europa os principais alvos seriam a França (400.000 judeus) e o Reino Unido (290.000). Na América Latina, os alvos naturais são a Argentina e o Brasil.
Deus nos livre, mas é triste pensar que, se por acaso acontecer algo assim no Brasil, no dia seguinte haverá quem passe pano para os terroristas
Em outubro de 2006, o procurador federal argentino Alberto Nisman acusou formalmente o governo do Irã de planejar o atentado da AMIA – e o Hezbollah de executá-lo. O processo se arrastou durante anos – até que Nisman morreu, misteriosamente, em janeiro de 2015.
Apesar da forte campanha de assassinato de reputação promovida pela esquerda argentina, em 2018 foi comprovado que se tratou de um homicídio.
Na noite do assassinato, Nisman estava concluindo um relatório que acusava a presidente Cristina Kirchner e altos funcionários de seu governo de acobertarem os iranianos envolvidos no atentado.
Deus nos livre, mas é triste pensar que, se por acaso acontecer algo assim no Brasil, no dia seguinte haverá quem passe pano para os terroristas, na linha: “Veja bem, eu desaprovo o atentado mas... Também condeno Israel”. Tempos sombrios.
Para concluir: ontem, o site “O Bastidor” publicou uma matéria bastante preocupante, revelando a existência de uma base clandestina da República Islâmica do Irã em São Paulo:
“Existem evidências fortes da existência de uma base clandestina do governo iraniano numa casa fortificada no bairro do Morumbi, em São Paulo. [A base é escamoteada] por uma rede de empresas de fachada, com uso de laranjas e endereços falsos – uma rede da qual participam iranianos que detêm cobertura diplomática concedida pelo Itamaraty”.
Vale a pena transcrever parte do texto, que prossegue assim:
“Essa rede funciona há, ao menos, dez anos, sob a aparente leniência do Ministério das Relações Exteriores e da Receita Federal. Até mesmo a ABIN não emprega esforços para monitorar as atividades do serviço de inteligência do Irã em São Paulo – prefere concentrar seus recursos em Foz do Iguaçu, onde a atividade extremista de grupos como o libanês Hezbollah é antiga e notória.
“A base iraniana em São Paulo é estratégica em termos logísticos e operacionais, sobretudo após a deflagração da guerra entre Hamas e Israel. Tanto Hamas quanto Hezbollah, apesar de suas diferenças, são grupos terroristas apoiados, em larga medida, pelo regime teocrático dos aiatolás iranianos. (O Brasil não considera os dois grupos organizações terroristas, ao contrário dos Estados Unidos e da maioria dos países europeus.) Hamas e Hezbollah não são meros títeres do Irã, mas a parceria estreita entre eles é inegável.
“Conforme o conflito em Gaza se agrava, aumentam as chances de que Hamas, Hezbollah e Irã ataquem, ou ameacem reservadamente atacar, alvos israelenses fora da região. (...)
“Na América Latina, há uma antiga e sólida rede operacional compartilhada por Hezbollah e Irã. Por rede operacional, entenda-se endereços, empresas, veículos e estruturas de lavagem e remessa de dinheiro, armas e drogas. Essa relação foi fartamente documentada nas últimas décadas, notadamente depois dos atentados terroristas na Argentina, especificamente contra judeus, no começo dos anos 1990. (...)
“As investigações subsequentes produziram provas de que agentes do Hezbollah foram os autores dos ataques. Não há consenso sobre a extensão da participação do Irã nos atentados na Argentina, mas é indiscutível que o Hezbollah, para executar os ataques, usou a estrutura operacional e logística do Irã na América Latina, incluindo o Brasil e, mais especificamente, São Paulo. Como é de praxe no continente, os atentados tornaram-se uma questão política e ideológica. Ninguém foi punido por eles, e os familiares das vítimas esperam por Justiça há décadas, em vão”.
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