Li que a Netflix gerou revolta nas redes sociais por ter anunciado o retorno do longa-metragem “Titanic” ao seu catálogo, a partir de 1º de julho. Parece que a medida ofendeu a sensibilidade da geração que cresceu soltando pipa no ventilador e jogando bola de gude no carpete – a mesma geração que abraçou a ideologia woke e encontrou na ostentação da falsa virtude uma razão de viver.
“A Netflix está cruzando todas as barreiras da decência com esse lançamento”, lacrou um internauta no Twitter. Outro acusou a plataforma de querer “capitalizar” a tragédia do submarino que implodiu na semana passada, matando de maneira horrível seus cinco tripulantes: “Pessoas morreram em um trágico acidente nas ruínas do Titanic, e agora, a Netflix quer faturar”. Um terceiro classificou acusou a plataforma de “mau gosto”. Etc.
Não sei por que ainda me surpreendo com essas coisas. Mas vamos lá.
A mesma reportagem informa que o relançamento do filme já estava acertado muito antes da tragédia do Titan. O que não faz a menor diferença: seguramente o incidente aumentou a demanda pelo longa-metragem, bem como por outros filmes e séries associados ao tema (como o documentário “Fantasmas do abismo”) não por perversidade ou morbidez dos assinantes, mas por curiosidade e mesmo empatia.
Por sua vez, como empresa privada a Netflix tem o direito (e até mesmo o dever, perante seus acionistas e assinantes) de capitalizar o interesse das pessoas por determinados temas. Ao contrário de muitos virtuosos lacradores, a plataforma não vive da mesada dos pais, mas da assinatura voluntária de pessoas que sentiram vontade de rever “Titanic” por causa do episódio do submarino. Essas pessoas devem se sentir culpadas?
No fundo, o virtuoso lacrador que se ofende com o relançamento de ‘Titanic’ faz exatamente o que ele acusa a Netflix de fazer: capitalizar a tragédia
Mas, no fundo, o virtuoso lacrador faz exatamente o que ele acusa os outros de fazer: capitalizar a tragédia. Conscientemente ou não, ao apontar o dedo para a Netflix ele está apenas praticando o vício de lacrar para ganhar biscoito na sua bolha de gente infeliz, para acumular likes de pessoas igualmente pobres de espírito e o aplauso de seus pares, cujo único prazer na vida é apontar o dedo para os outros.
A mensagem subliminar é : “Vejam como estou revoltado, vejam como eu sou do bem”. Mas cada um obtém reconhecimento da forma que consegue, conforme a conveniência do momento.
Há pouco mais de um ano escrevi em outro artigo que o “bom-mocismo fake” é o câncer do nosso tempo. “Ah, você está exagerando, a indignação dessas pessoas é sincera...” Será?
Posso estar enganado, mas acho que o tipo de gente que tem tempo para protestar porque o relançamento do “Titanic” ofendeu sua sensibilidade virtuosa é o mesmo tipo de gente que celebrou a tragédia do Titan pelo simples fato de as vítimas serem executivos ricos. Seja como for, em um e outro caso, é muita falta do que fazer.
É fácil visualizar as mesmas pessoas que ridicularizam vítimas de uma tragédia no sábado usarem estas vítimas para ridicularizar a Netflix no domingo. Ou seja, de uma hora para outra, as vítimas passaram de motivo de chacota para seres humanos cuja memória estaria sendo desrespeitada pelo relançamento do filme “Titanic”.
No fundo, essas pessoas só respeitam a si próprias e à sua tribo. Porque a “moral total flex” de quem vive no cercadinho ideológico da lacração funciona assim: quando morrem cinco pessoas em uma tragédia, a reação é: “Ah, eram ricos? Eu acho é pouco!”. Um dia depois, o mesmo virtuoso de rede social passa a defender as vítimas sem qualquer cerimônia, agora que elas servem de pretexto para ele posar de bom-moço.
Apenas parem, porque está feio.
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