| Foto: José Cruz/Agência Brasil
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Pela coincidência com outras decisões tomadas no mesmo dia, há um cheiro de acordão no ar. Se houve ou não acordão eu não sei, mas no caso do senador Sérgio Moro o TSE acertou ao rejeitar, por unanimidade, a sua cassação.

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Tivesse sido Moro cassado, como era a expectativa geral (a julgar pelo que fizeram com Deltan Dallagnol, absolvido no TRE e condenado no TSE), o Brasil amanheceria pior: a atmosfera estaria ainda mais tensa e pesada, e seria ainda maior a convicção generalizada de que o TSE se transformou em um tribunal político, disposto a colocar em prática um projeto de vingança e perseguição.

Neste caso específico, parabéns, portanto, ao TSE.

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A reação ao resultado do julgamento, contudo, foi bastante negativa, tanto à esquerda quanto à direita. Nos dois casos, a rejeição a qualquer tipo de pacificação do país parece superar o próprio senso de justiça.

A esquerda queria se vingar de Moro por tudo que ele fez à frente da Operação Lava-Jato. A direita queria se vingar de Moro por sua traição a Bolsonaro. Embora o ressentimento seja compreensível, o problema é que, nos dois casos, não importava o mérito da acusação, apenas o desejo de vingança. Tanto que o absurdo pedido de cassação foi feito por um partido de direita e outro de esquerda. Não importava o que foi feito, importava quem fez.

Pois bem, a verdade é que o processo não tinha mérito algum. A denúncia era ridícula, não havia embasamento para cassar Moro. O TSE fez apenas o que todo tribunal digno do nome deveria fazer sempre: tomar decisões com clareza, fazendo cumprir a lei, sem viés político ou ideológico.

É claro que a motivação pode ter sido torta, ou talvez estejam apenas percebendo que a estratégia da perseguição não está surtindo os efeitos desejados, como mostra a pesquisa que comentarei a seguir, não sei. Mas a decisão foi correta. Tomara que este se torne o padrão, daqui em diante. Independente da motivação, já será um grande avanço em relação ao que temos hoje.

Se isso acontecer, a torcida passará a ser para que o STF siga o exemplo do TSE. Se o Supremo se limitar a fazer valer a Constituição, sem legislar nem inovar, sem buscar holofotes, já estará fazendo muito pela pacificação do país.

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Poderia começar, aliás, pela anistia aos presos do 8 de janeiro e pelo arquivamento do chamado Inquérito do Fim do Mundo. São dois pré-requisitos para o Brasil voltar à normalidade democrática, e todos os envolvidos só terão a ganhar. Minha opinião.

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O Instituto Paraná divulgou no sábado uma série de novas pesquisas, que confirmam a impressão de que o governo vai mal das pernas.

A pesquisa que teve mais repercussão, naturalmente, foi a de intenção de votos na eleição de 2026, que mostra Bolsonaro à frente de Lula. Essa pesquisa mostra, também, que Michele é mais popular que Janja, e que Tarcísio está subindo como um foguete.

Mas vou me limitar a comentar aqui outra pesquisa, menos divulgada, sobre a avaliação da administração federal.

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A desaprovação é claramente maior que a aprovação, e o índice de “Péssima” é de 31,3%, contra apenas 10,6% de “Ótima”:

A soma de “Ótima” e “Boa” não chega a um terço do eleitorado, enquanto a soma de “Ruim” e “Péssima” ultrapassa os 41%. Ou seja, aparentemente gente que apoiava Lula está mudando de lado. E gente que ficava em cima do muro hoje reprova o governo.

A aprovação, aliás, é inversamente proporcional à escolaridade do eleitor, o que sinaliza que a base social do governo é composta, principalmente, por quem só tem o ensino fundamental. Quanto maior a escolarização, menor o apoio. Quem poderia imaginar?

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Na decomposição da pesquisa por Região, a aprovação ao governo só é maior que a rejeição no Nordeste. Em todas as outras regiões do país, a desaprovação é maior, superando os 60% na Região Su e os 56% no Sudestel - o que sinaliza a base social do governo está concentrada no Nordeste. De novo: quem poderia imaginar?

Por fim, quando perguntados se saberiam citar alguma obra, medida administrativa ou benefício à população realizada pelo governo, 70,6% não souberam responder. Problema de comunicação, com certeza.

Considerando que até aqui, nos 17 meses decorridos desde a posse, o governo contou com o apoio incondicional da grande mídia, do Judiciário e de poderosos grupos de interesse, a pesquisa é pra lá de preocupante. Porque os sinais de desembarque são claros, com a mídia mudando o tom e empresários e investidores declarando arrependimento diante dos rumos da administração federal.

O quadro de deterioração fiscal é grave, apesar do aumento da arrecadação. Se e quando a economia desandar de vez, a boa vontade que ainda resta pode evaporar depressa: quando acaba o milho, acaba a pipoca.

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Mais que isso: há sinais de que o sistema – o mesmo sistema que levou Lula de volta ao poder – se unirá em torno de um candidato de centro-direita em 2026. No moimento, o nome mais cotado é Tarcísio. Isso, é claro, se Bolsonaro continuar mesmo inelegível até lá: no Brasil, nunca se sabe.

Além da questão humanitária, a tragédia do sul, que não vem sendo tratada pela mídia da forma que deveria, terá impactos graves na economia do país, o que fatalmente afetará ainda mais a popularidade do governo. E tudo indica que as eleições municipais que se aproximam serão um desastre para o PT.

Eu sempre torço para que o Brasil dê certo. Mas, pelo andar da carruagem, a segunda metade do mandato corre o risco de ser melancólica.