Vejam só: a hashtag #leavingtwitter (“saindo do Twitter”) ficou entre as mais postadas ontem, no dia seguinte ao anúncio da já histórica compra da rede social pelo magnata Elon Musk. Fico pensando: se a pessoa não resiste sequer a usar o Twitter para tuitar que vai deixar o Twitter, dá para acreditar que ela vai sair mesmo do Twitter? Acho que não. É mais ou menos como alguém decidir que vai parar de fumar e acender um cigarro (o último!) para sublinhar a decisão.
Obviamente, o objetivo da turma que ficou #xatiada com o negócio é apenas continuar fazendo o que sempre fez: usar o Twitter para ostentar virtude e praticar o ódio do bem. Mas é impressionante o malabarismo mental (e a flexibilidade moral) dessa gente: na estranha democracia dos progressistas, o que causa revolta não é a censura, é a liberdade de expressão. Falam tanto em inclusão, mas praticam o tempo inteiro a censura e a exclusão.
Os tuiteiros lacradores simplesmente não aceitam que o Twitter seja aberto para pessoas que pensam de forma diferente da deles – porque quem pensa de forma diferente, nessa forma peculiar de democracia em que vivemos, é um fascista que só tem dois direitos: o de ser cancelado e o de ficar calado.
Eles ainda não entenderam o óbvio, explicitado em uma declaração do próprio Elon Musk: “Eu espero que até mesmo os meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que liberdade de expressão significa”. Simples assim. Mas, no dicionário dos virtuosos de sofá, liberdade de expressão só existe para um lado: o deles. Não aceitam diálogo nem debate, somente monólogo.
Fato: nos últimos anos, com o pretexto da “moderação de conteúdo”, do combate às “fake news”, da repressão ao “discurso de ódio”, o Twitter implementou a censura e a perseguição como método, tornando-se a mais tóxica das redes sociais. Virou a plataforma da lacração, do ódio do bem e do bom-mocismo woke. Virou o túmulo da liberdade de expressão.
Até ontem, qualquer pessoa que não pagasse pedágio para a agenda progressista e o fascismo identitário estava sujeita a ser linchada por hordas sedentas de sangue, antes de ter seus posts apagados e sua conta sumariamente banida. Era a democracia de um lado só, que aliás também vem sendo praticada assiduamente pela grande mídia e pelo próprio Poder Judiciário.
“Vamos criar uma hashtag para protestar contra o Elon Musk fascista e genocida! Elon não! Ninguém solta a mão de ninguém! Se o Twitter fere a minha existência, serei resistência!”
Postou que meninos nascem com pênis e meninas nascem com vagina? Linchado e cancelado. Opinou que o Supremo está extrapolando e invadindo a alçada dos outros poderes? Linchado e cancelado. Manifestou qualquer dúvida sobre a eficácia das vacinas e do lockdown durante a pandemia de Covid-19? Linchado e cancelado. Afirmou duvidar das pesquisas que dão 105% dos votos para o candidato da esquerda? Linchado e cancelado.
Divulgou qualquer notícia boa para o governo, como a queda do número de assassinatos, a inauguração de obras de infraestrutura ou a recuperação da economia? Linchado e cancelado. Declarou ser contra o aborto? Linchado e cancelado. Escreveu que obesidade traz riscos para a saúde? Linchado e cancelado. Achou ruim a Disney defender a ideologia de gênero? Linchado e cancelado. Discordou da bilionária socialista, do Felipe Netto, da blogueirinha da moda ou da Anitta? Linchado e cancelado.
(Tudo isso sem falar da nova categoria de jornalistas: os checadores de meme. Nunca pensei que a profissão que escolhi desceria tão baixo. E não sei o que é mais assustador: a existência em si dos checadores de meme – o que já representaria a definitiva queda do jornalismo na infâmia – ou o distúrbio cognitivo desses profissionais (e de quem os leva a sério): são pessoas incapazes de captar ironia, de entender uma piada, de distinguir fake news de humor, zoação de notícia, fotografias reais de montagens deliberadamente toscas. Porque somente um distúrbio cognitivo coletivo explica que um jornalista escreva, a sério, que é falso que o presidente Bolsonaro convenceu Putin a não invadir a Ucrânia e é candidato ao prêmio Nobel da paz. Ele checou.)
Era assim que o Twitter funcionava. E a mera sugestão de que isso vai mudar bastou para deixar alvoroçada a “galera do bem”. “Mas como? Eu vou ter que conviver com opiniões diferentes da minha?? Isso é um absurdo, vamos criar uma hashtag para protestar contra o Elon Musk fascista e genocida! Elon não! Ninguém solta a mão de ninguém! Se o Twitter fere a minha existência, serei resistência”.
Felizmente, um sinal de que essa turma vive em uma bolha cada vez mais desconectada do mundo real é o fato de que as ações do Twitter subiram 6% no mesmo dia em que a hashtag #leavingtwitter viralizou no... Twitter. O mundo está cheio de fascistas.
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