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Luciano Trigo

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Liberdade econômica

Como a Polônia e o Vietnã escaparam da pobreza

Reformas Polônia Vietnã
Comércio de rua no Vietnã: reformas liberalizantes deram impulso à economia do país. (Foto: Penny/Pixabay)

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Lançado em 2024 e ainda sem tradução no Brasil, o livro How Nations Escape Poverty: Vietnam, Poland and the Origins of Prosperity (“Como as nações escapam da pobreza: Vietnã, Polônia e as origens da prosperidade”), do historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann, investiga duas experiências bem sucedidas de reformas orientadas para o mercado, na Polônia e no Vietnã.

Apesar de terem passados muito distintos, os dois países fizeram as pazes com o crescimento econômico depois de décadas de estagnação e políticas públicas ineficazes. Hoje Polônia e Vietnã são dois países de renda média, que melhoraram significativamente os padrões de vida da população, com economias dinâmicas e abertas à inovação.

O objetivo do livro de Zitelmann, já entrevistado pela Gazeta do Povo, é entender o que eles fizeram de diferente para apresentar um desempenho econômico consistentemente superior ao de seus vizinhos. Partindo de uma base bastante baixa, ao longo das últimas três décadas Polônia e Vietnã estiveram entre os campeões mundiais de crescimento. Não por coincidência, os dois países foram aqueles que adotaram com mais entusiasmo políticas de abertura do mercado.

Em uma análise equilibrada dessas políticas que impulsionaram o crescimento, Zitelmann combina dados macroeconômicos, referências à literatura acadêmica e relatos de histórias pessoais que ilustram o que aconteceu naqueles países. Sua conclusão é de que a transição para economias de mercado é fundamental para superar a pobreza.

A abertura para o mercado promovida desde o fim da década de 1980 permitiu ao Vietnã escapar da miséria e alcançar um nível modesto de prosperidade

O autor critica a eficácia de programas de ajuda externa a países pobres, alegando que o único caminho para o desenvolvimento sustentável é o de reformas internas que estimulem o empreendedorismo e a liberdade econômica. É claro que isso também envolve a criação de uma “cultura” capitalista, uma atitude geral positiva da sociedade em relação à riqueza. Segundo o autor, essa atitude seria um dos motores do desenvolvimento econômico.

Vietnã reduziu pobreza extrema de 80% para 5%

Foi o caso do Vietnã. Em meados da década de 70, ao sair de uma guerra devastadora e prolongada, o Vietnã unificado era um país desesperadamente pobre – um dos mais pobres do planeta, no mesmo nível de Somália e Serra Leoa. Nos anos seguintes, as coisas pioraram ainda mais, à medida que a economia planificada do norte se estendia agora ao sul do país. A coletivização forçada da agricultura levou a um declínio nas colheitas e à fome, levemente mitigada pela ajuda financeira de aliados comunistas.

Quando era criticado, o governo fazia o que era esperado: culpava os sabotadores fascistas e imperialistas pela crise do glorioso Estado dos trabalhadores. Mas em 1991 o Vietnã perdeu seu aliado mais importante, com o colapso da União Soviética, e foi obrigado a estabelecer relações comerciais com países capitalistas, incluindo os Estados Unidos.

Surpreendentemente, o próprio Partido Comunista entendeu que era urgente abandonar a economia planificada e abrir espaço para mecanismos de mercado e a multiplicação de empresas privadas. Pequenos camponeses foram autorizados a vender suas colheitas em mercados privados, fora do sistema estatal. A produção em pequena escala de pequenas empresas, com até dez funcionários, foi legalizada, limite que seria posteriormente aumentado. Era uma das frentes do “Doi Moi”, um conjunto de reformas que criou garantias para a propriedade privada e incentivou o empreendedorismo. O primeiro impacto do programa foi um aumento significativo na produção agrícola. Os resultados foram notáveis. A pobreza extrema caiu de 80% da população para 5%. A expectativa de vida aumentou de 62 anos em 1990 para 73 anos em 2020.

É claro que o país ainda está longe de ser uma economia de livre mercado. As empresas estatais ainda representam cerca de um quinto do PIB, o planejamento ainda existe, e o país ainda sofre com a corrupção generalizada. Mas a abertura para o mercado promovida desde o fim da década de 1980 seguramente foi o que permitiu ao Vietnã escapar da miséria e alcançar um nível modesto de prosperidade. Segundo Zitelmann, a população é amplamente favorável a mais reformas que promovam a liberdade econômica e a democratização política.

Retardatária na Cortina de Ferro, Polônia adotou choque que revolucionou economia

No fim da década de 80, a Polônia era um país pobre, e não apenas quando comparada aos seus vizinhos ocidentais: o país também estava atrasado em relação à Alemanha Oriental e à Tchecoslováquia, entre outros países da Cortina de Ferro. O povo polonês sofria com escassez de alimentos e inflação elevada.

Mesmo em países pobres, reformas bem planejadas podem transformar a economia e elevar o bem-estar da população

Mas, a partir de 1989, sob a liderança econômica do ministro das Finanças Leszek Balcerowicz, a Polônia tornou-se pioneira na transição pós-comunista. Uma nova legislação criou as bases jurídicas de uma economia aberta e de um animado setor privado. Essa reforma radical ficou conhecida como “terapia de choque”, que também incluía a supressão do controle de preços, o estímulo às privatizações e a abertura do país ao comércio internacional.

Desde sua entrada na União Europeia, em 2004, a economia polonesa tem crescido de forma consistente, tornando-se a maior entre os antigos membros do bloco oriental. O país tem investido fortemente na modernização de sua infraestrutura, especialmente em transportes e comunicações, fortalecendo sua posição como um importante entreposto comercial na Europa.

Resumindo, a abertura econômica foi um divisor de águas para a Polônia e o Vietnã, permitindo que ambos os países se recuperassem de décadas de estagnação e crises prolongadas. Os dois países ilustram como, mesmo em países pobres, reformas bem planejadas podem transformar a economia e elevar o bem-estar da população.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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