Desde 2012, o conceituado Instituto Gallup realiza uma pesquisa que pode ser considerada um termômetro do comportamento sexual da sociedade norte-americana. E, como seria de se imaginar, o número de americanos adultos que se declaram não-heterossexuais só vem aumentando. É um aumento consistente, cujo ritmo se intensificou em 2021, quando 7,1% dos entrevistados se declararam gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros ou outras categorias (incluindo pansexuais), como mostra o gráfico abaixo:
Foram entrevistados mais de 12.000 americanos adultos: 86,3% se declararam heterossexuais, uma maioria substantiva, e 6,6% preferiram não se manifestar.
À primeira vista, 7,1% é um número pequeno. Menor, em todo caso, do que a sugere percepção subjetiva gerada pela publicidade e pela mídia, aí incluídas Hollywood e a Netflix. Em outras palavras, o barulho em torno da agenda identitária associada a orientações sexuais alternativas parece desproporcional à participação dessas minorias na sociedade.
Ou não. Uma análise mais atenta da pesquisa do Instituto Gallup demonstra que pode estar em curso um processo real (e acelerado) de mudança na sociedade americana (e também no Brasil e na Europa, é claro, mas a pesquisa se restringe aos Estados Unidos).
Basta pensar que o índice de autodeclarados não-heterossexuais dobrou entre 2012 e 2021, mas não é só isso. Quando o Gallup divide os entrevistados por faixas etárias, o resultado é impressionante.
Ou seja, mais de um em cada cinco jovens (21%) nascidos entre 1997 e 2003, a chamada “Geração Z”, se declara não-heterossexual. A porcentagem diminui à medida que aumenta a faixa etária: por exemplo, na “Geração X” (nascidos entre 1965 e 1980), o índice é de apenas 4,2%. No meio do caminho, entre os “Millenials”, é de 10,5%.
O respeito à diferença deve ser uma via de mão dupla: as minorias também precisam respeitar a maioria, aceitar a maioria e não discriminar a maioria
Ou seja, o índice deu um salto de uma geração para cá, como demonstra o gráfico abaixo. A conclusão necessária é que os adultos mais jovens estão cada vez mais propensos a se identificar como homossexuais ou outras variações LGBQT+. Mantida a tendência, o crescimento pode se tornar exponencial nos próximos anos. E, em duas ou três gerações, já dá para visualizar um cenário em que mais da metade dos americanos se declare não-heterossexual.
Pode-se interpretar esse fenômeno de forma positiva, é claro, como um sinal de aumento da tolerância etc. Mas essa leitura otimista não conta a história toda, até porque a rapidez do aumento em 2021 não parece ser um movimento estatisticamente natural.
É possível especular: o acelerado crescimento de da adoção de orientações sexuais alternativas pode não ser consequência somente de um aumento da tolerância e do respeito às minorias, o que seria positivo, mas também de um ambiente no qual essas orientações são estimuladas, exaltadas e vendidas como naturais e desejáveis.
Caímos, mais uma vez, na armadilha da agenda identitária: lutar não pela igualdade, ou seja, por um mundo no qual ninguém pode ser discriminado ou prejudicado por causa de sua orientação sexual, mas lutar para trocar de lugar com o antigo opressor e perseguir não a igualdade, mas privilégios em função da orientação sexual – ou seja, lutar por um mundo em que determinadas pessoas são beneficiadas com direitos especiais, em função do que fazem na cama.
Cria-se, assim, um contexto no qual as novas gerações são incentivadas – pela mídia e até por professores em sala de aula – a “experimentar de tudo” antes de decidir que sexualidade adotar, ou que orientação seguir.
Parece algo evidente que, em seus anos de formação, o desenvolvimento emocional, psicológico e sexual dos adolescentes é fortemente influenciado por fatores sociais e pelo ambiente que os cerca: a necessidade de pertencimento e de aprovação dos pares pode levar um adolescente a fazer coisas que, duas gerações atrás, seriam socialmente reprovadas.
Ora, estimular e apresentar como desejável que os jovens estejam abertos para todas as possibilidades em termos sexuais é algo muito diferente de educar estes jovens para a tolerância e o respeito. Educar as maiorias para respeitar as minorias é algo muito diferente de educar as maiorias para se submeterem aos valores e vontades das minorias.
É o caso perguntar se o crescimento das orientações alternativas não seria, em parte, consequência, e não causa e motivação, do ativismo identitário promovido por Hollywood e pela grande mídia. Tentar estabelecer no grito e na marra um consenso artificial em torno da ideologia de gênero, como fazem hoje Hollywood e a grande mídia, é um caminho arriscado e um experimento social perigoso, cujas consequências só vão aparecer lá na frente.
No mundo real, a maioria da população é conservadora em relação à moral e ao comportamento: quando tentam impor a essa maioria que é algo normal crianças e adolescentes passarem por processos de transição de gênero, o que inclui tratamentos hormonais e cirúrgicos, essa maioria reage.
E é bom que isso aconteça. O respeito à diferença deve ser uma via de mão dupla: as minorias também precisam respeitar a maioria, aceitar a maioria e não discriminar a maioria, em vez de tratar a maioria como um inimigo a odiar, dominar e combater. Até porque, no fim das contas, ainda é a maioria quem decide.