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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Eleições municipais

Segundo turno confirma vitória do Centrão e crise da esquerda

Nunes afirmou que com sua vitória ganhou o "equilíbrio" frente ao "extremismo" representado pelo rival, o esquerdista Guilherme Boulos. (Foto: Sebastião Moreira/EFE)

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Terminadas as eleições municipais, a festa no Centrão e na direita só não é completa porque o PT venceu em Fortaleza, em uma votação apertadíssima, assegurando para o partido sua única capital – uma espécie de prêmio de consolação, já que o PT sai destas eleições enfraquecido e em crise existencial. Mas Fortaleza salvou a esquerda do fracasso completo.

De forma geral, os resultados são um reflexo da desaprovação ao governo federal. Houve segundo turno em 51 municípios, incluindo 15 capitais. Nestas, vitória da esquerda só mesmo em Fortaleza: nas outras 14, a direita venceu em duas (deu PL em Cuiabá e Aracaju), enquanto os partidos do Centrão dividiram as 12 restantes: o MDB venceu em três; o PSD, o PP, o Podemos e o União Brasil venceram em duas cada um; e o Avante ganhou em uma.

Foi, na grande maioria dos casos, um voto mais pragmático que ideológico. Os eleitores tenderam a favorecer os candidatos com propostas convincentes (ou resultados concretos para mostrar, no caso dos reeleitos) em infraestrutura e serviços públicos. A lacração identitária e ambiental ficou de fora.

Se considerarmos a divisão por partido nas 51 cidades com segundo turno, a classificação foi a seguinte: PSD (9); MDB (7); PL (7); Podemos (5), União Brasil (5); PP (4), PT (4); PSDB (3), Republicanos (3), PDT (2); Avante (1) e Novo (1).

Vale a pena dedicar mais atenção ao caso de São Paulo, onde o PT amargou a sua pior derrota. O apoio de Lula não conseguiu alavancar a candidatura de Guilherme Boulos, do PSOL, que ficou quase 20 pontos atrás do prefeito reeleito Ricardo Nunes. Nunes ficou com 59,35% (3.393.110 votos), e Boulos com 40,65% (2.323.901 votos).

Muita gente em São Paulo, que votou em Lula em 2022, rejeitou o candidato de Lula em 2024: quase 1,4 milhão de eleitores. Não é pouco

Convém lembrar que, na eleição para presidente em 2022, Lula derrotou Bolsonaro no segundo turno em São Paulo, com 53,5% dos votos (3.677.921 votos), contra 46,5% (3.191.484) de Bolsonaro. Ou seja, muita gente em São Paulo, que votou em Lula em 2022, rejeitou o candidato de Lula em 2024: quase 1,4 milhão de eleitores. Não é pouco.

Lula se mostrou um péssimo cabo eleitoral, mas o desempenho dos partidos não é tudo. Estas eleições terão forte influência na eleição presidencial de 2026, em vários aspectos: no surgimento ou fortalecimento de lideranças regionais, na reorganização de alianças políticas, na projeção de novas candidaturas e na própria governabilidade, nos próximos dois anos.

Saem fortalecidos para 2026, por exemplo, Ronaldo Caiado (União) e Ratinho Jr. (PSD), além de Tarcísio de Freitas. Isso se Bolsonaro não puder mesmo concorrer. Já na esquerda, nenhuma liderança parece ter condições de substituir Lula com chances de vitória. Também não é certo que Lula se candidatará à reeleição: já se fala em “efeito Biden”, em função da idade avançada. Mas quem seria a Kamala Harris de Lula?

O apoio da base ao governo ficará ainda mais caro. Nada que o STF camarada não possa resolver, dirão os cínicos. Mas também isso pode mudar, a depender dos próximos capítulos da novela, sobretudo na área econômica. Se a tendência de Lula 3 a ficar cada vez mais parecido com Dilma 2 se confirmar, não é difícil visualizar todo mundo saltando do barco, sem o menor constrangimento. Já aconteceu no passado recente, por que não aconteceria de novo?

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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