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Quando assisti ao vídeo que me mandaram pelo Whatsapp hoje cedo, achei que era uma montagem. Nele o Papa Francisco aparece – sem máscara, apertando a mão das pessoas e provocando aglomeração, diga-se de passagem – interagindo com um fiel, na verdade um padre de Campina Grande que está no Vaticano estudando Teologia.
Em meio a um grupo de fiéis no pátio de San Damaso, o padre brasileiro João Paulo pede ao pontífice: "Santo Padre, reze por nós, brasileiros". O Papa responde: "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração".
Oi?
Em uma época na qual criticar (ou defender) um povo de forma muito menos rude é motivo de cancelamento e linchamento virtual – por exemplo, a patrulha do politicamente correto decretou que é proibido criticar os radicais islâmicos por explodir ou decapitar cristãos, e que também é proibido defender qualquer atitude de Israel – imaginei que a reação à fala do Papa Francisco seria de escândalo. Ora, por muito menos já aconteceu muito mais.
Até porque o Papa é um chefe de Estado, de quem se espera um comportamento compatível com o cargo. Pelo menos é esta a postura de jornalistas que reagem como freiras virgens a qualquer fala do presidente Bolsonaro. Lembro que um jornal chegou a fazer a contabilidade dos palavrões ditos durante uma reunião vazada ilegalmente (Oh! O presidente fala palavrão! Impeachment nele!).
Corri para o Google e, vejam só, todos os portais de notícias acharam bonitinho e engraçado um Papa chamar os brasileiros de cachaceiros.
Entre outras manchetes, merecem destaque a da CNN e a da “Folha de S.Paulo”, reproduzidas abaixo:
Por coerência e honestidade intelectual, se o tratamento dispensado à grosseria do Papa fosse o mesmo dispensado às falas do presidente, as manchetes seriam:
“Papa Francisco faz piada xenofóbica e racista sobre os brasileiros”, ou
“Papa chama brasileiros de cachaceiros e provoca crise diplomática”, ou
“Papa ofende nordestinos ao responder a um padre”, ou
“Padre se nega a rezar pelos brasileiros e cai na risada”, ou ainda:
“Sem máscara, Papa genocida provoca aglomeração no Vaticano”
Mas não. Para a mesma mídia que crucifica qualquer um que não reze pela cartilha progressista, ou que não se ajoelhe no altar do politicamente correto, a grosseria do Papa foi apenas uma “fala descontraída”, um chiste inocente. O que seria tratado como um crime hediondo na boca do presidente é acolhido como algo engraçadinho na boca do Papa.
Mais que isso, a julgar pela cobertura da mídia, parece que foram palavras de ânimo e encorajamento que revelam o apreço que o Papa Francisco tem pelo Brasil e pelos brasileiros.
Definitivamente, vivemos em um país no qual não importa o que uma pessoa diz ou faz, mas quem diz ou faz. Nada de bom pode vir daí.