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A vitória do ator Johnny Depp no julgamento do processo que ele moveu contra sua ex-mulher Amber Heard (sim, ele venceu, embora parte da mídia tenha tentado vender o resultado como um empate) deve ser celebrada. Depp foi difamado publicamente, e como Amber não comprovou suas acusações terá que pagar uma indenização milionária. Simples assim.
Por maior que seja a indenização, contudo – e Amber já está se fazendo de vítima, dizendo que não tem condição de cumprir a sentença – ela jamais pagará o mal feito ao ator, profissionalmente e emocionalmente.
Mas é assim que as coisas funcionam hoje. Uma matilha de ativistas acusa, julga, condena e esfola um desafeto nos tribunais de justiça sumária das redes sociais. Passam meses, às vezes anos, até que a Justiça real demonstre a inocência do acusado. Mas aí o mal já está feito.
Isso está longe de terminar. Muitas vidas e carreiras de figuras públicas ainda serão destruídas na fogueira da militância identitária. A agenda, aliás, é apenas um pretexto. O objetivo nunca foi a justiça, o objetivo nunca foi a verdade: o objetivo é conquistar o poder e eliminar qualquer oposição ou dissidência, por meio da perseguição, da intimidação e da mentira.
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O vídeo abaixo, que viralizou esta semana nas redes sociais, mostra o vice-reitor de uma universidade pública – a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – sendo obrigado pelos estudantes a comer quentinhas (classificadas como “lavagem”) servidas gratuitamente aos alunos do campus de Seropédica, no interior do estado. Uma aula magna que contava com a presença do vice-reitor foi interrompida por manifestantes que o conduziram até uma mesa e gravaram a cena.
A comida parece ruim mesmo, mas o vídeo é revelador da total indiferença dos estudantes a qualquer senso de hierarquia e disciplina: alunos que estudam, moram e comem de graça (ou seja, tudo isso é pago com os impostos de quem trabalha) se sentem à vontade para constranger e gravar o vice-reitor em situação vexatória. Se pagassem pela comida do próprio bolso, a atitude certamente seria outra.
Detalhe: segundo o jornal “O Dia”, o vice-reitor é militante de esquerda. É razoável imaginar que ele próprio tenha incentivado os alunos da Rural a acreditar que comer, morar e estudar de graça são direitos, não privilégios; e que a melhor maneira de resolver a insatisfação com a qualidade da comida gratuita é a exposição e o constrangimento de um dirigente da universidade.
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Uma juíza, Ludmila Lins Grilo, está sendo processada disciplinarmente pela corregedoria do TJMG – Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O motivo: em fevereiro de 2020, ela postou o seguinte no Twitter: “Mandar prender um sujeito por estupro/lesão corporal/ qualquer crime na forma da Lei maria da Penha com base APENAS na palavra da vítima é uma das coisas mais irresponsáveis que um juiz pode fazer no exercício de suas atribuições”.
Parece APENAS bom senso, não? Não fosse assim, bastaria a qualquer mulher mentir para colocar na cadeia um desafeto, por ódio, vingança, ressentimento ou até mesmo por motivação política. Vale para qualquer crime: eu não posso acusar alguém de roubo sem provas, e nem alguém pode ser preso com base apenas na minha palavra. Isso não é óbvio?
Aparentemente, para o TJMG, não. É assim que deve funcionar: basta uma mulher acusar para mandar prender, tanto que o tribunal considerou o post da juíza uma falta funcional que justifica a abertura de um processo. Ela será julgada no próximo dia 22.
Caso raro nos dias de hoje, a juíza se recusou a se retratar – e ainda criticou as personalidades canceladas ou perseguidas por crime de opinião que acabam cedendo e pedindo desculpas: “Foi isso mesmo o que eu falei, e eu ratifico. Se isso é violação de alguma coisa, então julguem. Fiquem com a desonra apenas eles, não eu”, ela declarou à “Gazeta do Povo”. E concluiu:
“O mundo vai tentar te calar. O mundo vai fazer de tudo para te apertar, te moer, e a maioria vai se curvar. Só que a gente vai precisar de alguns que não se curvem, para manter a sanidade do país.”
Ainda há juízes em Berlim.