Novo visto para milionários investirem nos EUA, o gold card, foi apresentado por Trump nesta terça-feira (25)| Foto: Will Oliver/EFE/EPA
Ouça este conteúdo

Acaba de ser noticiado que Trump e Zelensky estão negociando um acordo estratégico, envolvendo a exploração das reservas de “terras raras” da Ucrânia em troca da continuidade do apoio militar e financeiro ao país. Trump quer uma compensação econômica concreta para os gastos exorbitantes que os Estados Unidos têm feito na Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro de 2022. Está certíssimo.

CARREGANDO :)

É uma jogada de mestre. As terras raras são um conjunto de metais (incluindo urânio, lítio, titânio e nióbio) essenciais para a indústria eletrônica e a fabricação de equipamentos militares de ponta. Na Ucrânia, elas estão avaliadas em US$ 500 bilhões.

Donald Trump entende que diversificar as fontes de abastecimento é uma prioridade estratégica: hoje a China responde por cerca de 80% do suprimento mundial de terras raras. Trata-se, portanto, de um acordo importante não somente do ponto de vista econômico, mas também geopolítico.

Publicidade

Os detalhes do acordo continuam sendo negociados, mas já se fala que a parceria pode servir como modelo para futuras cooperações com outros países no futuro, com recursos naturais estratégicos trocados por apoio financeiro ou militar.

A dependência da China em qualquer setor da economia representa hoje um risco não desprezível, em um cenário de agravamento das tensões entre Washington e Pequim. O acesso às terras raras da Ucrânia reduz a vulnerabilidade americana, já que o impacto de eventuais sanções ou restrições comerciais chinesas será bem menor.

Terras raras são essenciais para indústrias estratégicas, incluindo a fabricação de radares, mísseis, submarinos e outros equipamentos militares, smartphones, veículos elétricos, baterias de longa duração, microchips e semicondutores. Hoje a China pode manipular os preços desses metais, em função de sua posição dominante.

O acordo deve ter um impacto positivo significativo na economia americana, com a expansão dos investimentos em infraestrutura de processamento. Novas cadeias de suprimentos e indústrias podem gerar centenas de milhares de empregos. Além disso, os Estados Unidos poderão fornecer esses minerais estratégicos para países aliados europeus, reduzindo a dependência que eles têm da China.

Enquanto isso, no Brasil...

Diferentemente da China e dos Estados Unidos, que tratam as terras raras como recursos estratégicos, o Brasil parece não dar muita atenção ao setor. Não há incentivos fiscais para mineração e processamento, nem investimentos significativos, públicos ou privados.

Publicidade

Basta dizer que a China detém em seu território 38% das reservas de terras raras do planeta, mas é responsável pela produção e refino de cerca de 80% desses minerais. Já o Brasil detém cerca de 18% das reservas, mas produz menos de 1% do total.

Diversos fatores explicam essa paralisia em um setor que será cada vez mais crítico para a economia e a geopolítica globais, entre eles a falta de investimento em infraestrutura: ainda não existem no Brasil refinarias nem a tecnologia necessária para o processamento dos minerais brutos.

Diferentemente da China e dos Estados Unidos, que tratam as terras raras como recursos estratégicos, o Brasil não dá muita atenção ao setor

Também falta mão-de-obra qualificada: sem capacitação profissional, o Brasil não tem como competir no mercado global. E, sem infraestrutura, a exploração fica economicamente inviável: o pouco minério bruto que é extraído acaba sendo exportado.

Além disso, o Brasil tem uma legislação ambiental muito rígida, que acaba travando o desenvolvimento econômico do país. Exemplo disso é a novela da exploração de petróleo na margem equatorial da foz do Amazonas, que até agora não saiu do papel.

Publicidade

Um processo de licenciamento pode demorar anos, ou até décadas, até obter aprovação. Agrava o problema que boa parte das nossas reservas de terras está em locais “ambientalmente sensíveis”.

Qual tem sido o papel das ONGs?

A possibilidade de ONGs estrangeiras atuarem para impedir a exploração de terras raras no Brasil, comprometendo a soberania nacional, é um tema que frequentemente aparece em debates, mas o assunto, até aqui, não foi tratado com a atenção devida. E, apesar do excelente trabalho realizado pelos senadores Luiz Carlos Heinze (PL-RS) e Plínio Valério (PSDB-AM), a CPI das ONGs foi solenemente ignorada pela grande mídia e não teve maiores consequências práticas.

O fato é que ONGs estrangeiras podem atuar para travar o desenvolvimento do país de diferentes maneiras:

Primeiro, por meio de pressão ambiental e legal: ONGs podem financiar e promover campanhas para ampliar restrições ambientais em áreas ricas em terras raras, com o pretexto de que a extração desses minerais provoca danos ao meio ambiente e prejudica as comunidades locais. Isso resulta em leis e burocracias ainda mais rígidas, que dificultam a exploração.

Segundo, pela influência sobre comunidades locais e indígenas: a maior parte das reservas de terras raras no Brasil está próxima ou dentro de territórios indígenas, ou áreas de preservação ambiental. ONGs estrangeiras podem incentivar as comunidades locais a se oporem à mineração, oferecendo suporte jurídico e organizando protestos - e paralisando projetos estratégicos, como a construção ou reforma de estradas.

Publicidade

ONGs também podem interferir em políticas públicas fazendo lobby junto a parlamentares. Pressionando para que o Brasil abandone a exploração desses recursos, elas favorecem os países que já dominam o mercado, como a China e os Estados Unidos.

Campanhas de desinformação podem ser usadas para desacreditar projetos de mineração nacional, destacando os impactos negativos sem mencionar os benefícios econômicos e estratégicos para o país. Isso pode gerar resistência aos projetos e desestimular investimentos.

Por fim, ao invés de apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias de exploração no Brasil, ONGs e instituições estrangeiras podem incentivar talentos e cientistas brasileiros a migrar para outros países, dificultando o avanço nacional na área.

Voltarei ao tema.