Somente 24 horas depois de explodir a bomba que abalou o governo Temer foi possível saber com exatidão o que realmente aconteceu naquela reunião do Jaburu em que Joesley Batista conversou com o presidente da República como se estivesse falando com um comparsa.
À bem da verdade, o conteúdo da conversa ficou um tom abaixo do que parecia no dia anterior. As famosas cinco palavras que pareciam ter implodido o governo – “Tem que manter isso, viu!” – não eram uma resposta direta a uma clara intenção de calar Cunha. O dono da JBS havia dito: “Tô de bem com o Eduardo”. Mas também ficou claro que o empresário falava de propina – e isso é crime.
Em outro trecho, o chefe da organização fala que agiu junto a juízes, procurador. Queria até trocar um procurador. Mais um crime: obstrução à Justiça. Pelas duas situações, Temer pode ser enquadrado em prevaricação. Na condição de autoridade máxima do Poder Executivo, deixou de denunciar ao Ministério Público duas ilegalidades cometidas pelo empresário.
As escutas foram clandestinas, como disse Temer. Mas isso significa apenas que foram “gravações ocultas”. Há jurisprudência formada sobre essa prática – uma pessoa pode divulgar a gravação de uma conversa da qual participa diretamente. Jornalistas fazem muito isso.
Motivos para a abertura de um processo de impeachment existem. O resultado do julgamento é sempre imprevisível, até porque o processo é um misto de político e jurídico. Se fosse considerado apenas o lado jurídico, seria julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
O que vai pesar mais, no final das contas, são dois aspectos: a voz das ruas e a chamada governabilidade. As manifestações populares ainda são tímidas, comparadas àquelas que impulsionaram o afastamento de Dilma Rousseff, mas crescem a cada semana.
A governabilidade está ameaçada, como mostraram as repercussões no mercado financeiro. No Congresso, Temer tinha cada vez mais dificuldades para aprovar as reformas da Previdência e trabalhista. Com as dissidências que já surgem, a batalha será ainda mais difícil.
Temer pode ver o seu governo desmoronar embaixo dos seus pés, como aconteceu com Dilma. Nessas horas, como diz o ditado popular, “os ratos abandonam o navio”. Há dois fatores primordiais para manter um governo: o poder em si e a expectativa de poder. O poder está mantido, por hora, mas a expectativa de poder a médio prazo é cada vez menor. Isso se o TSE não decidir acabar com a festa no início de junho. Ou até mesmo antes disso.