O generoso Plano de Saúde do Senado tem hoje 598 beneficiários. As despesas do ano passado somaram R$ 31,7 milhões. O plano é uma grande família – atende cônjuge ou companheira, filhos até 33 anos, enteados, pai e mãe. Prevê UTI aérea e tratamento no exterior. Há contribuições de senadores, ex-senadores e seus dependentes, mas com valores baixos, considerando a qualidade dos serviços. O plano é altamente deficitário e recebe recursos públicos. As contribuições em 2021 somaram R$ 3,4 milhões – pouco mais de 10% do valor das despesas.
O blog teve acesso à relação completa dos senadores, ex-senadores e dependentes. Ao todo, são 85 senadores no mandato – incluindo sete suplentes no exercício – e 174 ex-senadores. O plano atende ainda 65 cônjuges, 87 filhos e 6 genitores dos atuais senadores. Há uma modalidade para 24 filhos com idade entre 21 e 33 anos. Há ainda 122 cônjuges e 59 viúvas de ex-senadores. Pelo menos cinco senadores asseguraram a adesão permanente ao plano após apenas quatro meses de mandato.
A despesa aumenta a cada ano. Pulou de R$ 6,9 milhões em 2011 para R$ 32,7 milhões em 2021. Em 2019, os gastos estavam R$ 13,9 milhões; em 2020, chegaram a R$ 14,9 milhões. Estão na rede de hospitais credenciados o Sírio-Libanês e o Albert Einsten – entre os melhores do país. O atendimento é feito por instituições credenciadas ou por profissionais liberais e instituições de livre escolha, mediante pagamento direto e posterior ressarcimento de despesas. No ano passado, esses ressarcimentos somaram R$ 10 milhões. Em 2019, antes da pandemia da Covid-19, as maiores despesas com hospitais chegaram a R$ 395 e R$ 300 mil.
O plano prevê ainda o tratamento de saúde de senadores no exterior. São autorizados previamente, pela Comissão Diretora, em casos de "comprovada necessidade". Também ocorre o ressarcimento em casos graves quando o senador está em viagem oficial para eventos, reuniões e congressos no exterior. Tem ainda a UTI aérea. As autorizações para remoções via aérea são feitas pelo titular da Secretaria de Saúde.
As maiores famílias
Márcio Bittar (União-AC), a cônjuge, dois filhos maiores, uma filha menor e o pai estão no plano de saúde. Carlos Fávaro (PSD-MT) incluiu no plano a cônjuge, dois filhos até 33 anos, o pai e a mãe. Cid Gomes (PDT-CE), colocou a mulher, três filhos menores e um com idade até 33 anos. Rogério Carvalho (PT-SE), incluiu a esposa, a mãe e quatro filhas menores.
Senadores de destaque aderiram ao plano: Ciro Nogueira (PP-PI), atual ministro da Casa Civil, incluiu no plano duas filhas com idade entre 21 e 33 anos e a nova companheira. A senadora Simone Tebet, ex-candidata a presidente da República, colocou no plano uma filha com idade até 33 anos, outra menor e o marido.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), ex-presidente da CPI da Covid, colocou a mulher, um filho maior e três menores como beneficiários; Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a mulher e dois filhos menores. Soraya Thronicke (União-MS), outra ex-candidata a presidente, incluiu um filho maior e o cônjuge no plano. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem apenas dois filhos menores como beneficiários.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) vive uma situação singular. A sua mulher, Sandra Braga, é beneficiária do plano como cônjuge. Ela é também a 1ª suplente do senador, que está no meio do mandato e disputa segundo turno para o governo do Amazonas. Mas Sandra já assumiu o mandato como suplente do marido de janeiro de 2015 a abril de 2016, quando ele assumiu o ministério das Minas e Energia.
O ex-senador Ronaldo Caiado (União) está na lista de beneficiários como "titular ex-parlamentar". A sua mulher, Maria das Graças, aparece como "cônjuge de parlamentar". Caiado é hoje governador reeleito de Goiás. O 1º suplente de Caiado, Luiz Carlos do Carmo (PSC-GO), que assumiu o cargo definitivamente em janeiro de 2019, é beneficiário do Plano de Saúde como "titular parlamentar". A sua mulher, Ivana, é beneficiária como "cônjuge de parlamentar". O ex-senador, enquanto estiver do exercício de outro cargo público, no nível federal, estadual ou municipal, não fará jus aos benefícios previstos no plano.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) é "titular parlamentar". A deputada federal Ângela Amin (PP-SC) está na lista como cônjuge/companheira de parlamentar. Na relação dos ex-parlamentares e dependentes está a viúva do senador José Richa (PSDB-PR), Arlete Vilela. Ela recebe ainda pensão como viúva, no valor de R$ 13,3 mil, pelo Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), que foi extinto, mas deixou a conta das pensões para a União.
Rita de Cássia Camata é beneficiária do plano como viúva do senador Gerson Camata (MDB-ES). Como pensionista do atual Plano dos Congressistas, ela recebe pensão vitalícia de R$ 33,7 mil, deixada pelo senador Camata. Como ex-deputada, ela recebe mais R$ 20,9 mil de aposentadoria parlamentar da Câmara dos Deputados.
como ex-deputada.
Contribuições em valores módicos
Os senadores e seus dependentes pagam contribuição mensal. Considerando os serviços prestados, os valores são módicos. As contribuições cobrem cerca de 10% das despesas do plano. No caso dos senadores, ex-senadores e cônjuges, o valor é de R$ 361 para a faixa entre 39 a 42 anos; ou de R$ 549 a partir de 59 anos. O filho estudante de 21 a 24 anos paga mensalidade em torno de R$ 300. As despesas com filhos entre 21 e 33 anos, não estudantes, ficam em sua maioria em R$ 670. Pai e mãe de senador pagam R$ 800 a partir de 59 anos.
Em 2020, na gestão do presidente Davi Alcolubre (União-AP), ato da Comissão Diretora criou uma nova modalidade de dependentes – os maiores de 21 e menores de 34 anos, independentemente de serem estudantes ou dependentes econômicos dos titulares do plano. O Senado afirma que a ação se espelhou em ato da Mesa da Câmara dos Deputados, que buscou, em 2016, “por meio desse benefício, melhorar a saúde financeira do plano mediante redução da sinistralidade, pois trata-se de um grupo de beneficiários geralmente saudáveis, com baixos índices de utilização do plano”.
O Senado acrescenta que, para essa classe de beneficiários, não há participação de recursos públicos no custeio do plano. Todas as despesas são cobertas exclusivamente pelo pagamento das contribuições mensais e das coparticipações do grupo. No caso de filhos solteiros menores de 21 anos, filhos estudantes menores de 24 anos ou filhos inválidos, por serem dependentes obrigatórios, têm o plano custeado por recursos públicos.
Aposentados após alguns meses
Até 2003, os suplentes de senadores que assumiam o mandato dos titulares não precisaram cumprir um prazo mínimo para se filiar ao Plano de Saúde vitalício. Nova da Costa (MDB-AP) esteve no Senado por dois meses, junho e julho de 2001, substituindo o senador José Sarney (MDB-AP). Ele já havia sido governador do então território do Amapá, nomeado por Sarney, em 1985. Costa continua até hoje no plano do Senado.
Paulo Guerra (PMDB-AP) foi eleito suplente de Sarney em 1990. Assumiu o cargo em outubro de 1999 para um mandato de três meses e 20 dias. Continua no Plano de Saúde, ao lado da esposa. Sarney permanece no plano como ex-senador. O ex-deputado deputado estadual Alcides Falcão (PMDB-AL)) foi eleito suplente de Guilherme Palmeira (PFL) em 1990. Assumiu a vaga de julho a outubro de 1998 – três meses e 21 dias. O ex-senador morreu em 2020, mas a viúva continua filiada ao plano.
Ato da Meda diretora, em 2003, considera ex-senador aquele tenha exercido o mandato como titular em decorrência de morte, renúncia ou cassação do titular. Mas somente têm direito aos benefícios do Plano de Saúde os ex-senadores que tenham exercido o mandato por um período mínimo de 180 consecutivos. Quem tornou-se ex-senador antes disso, manteve os benefícios.
Senado justifica aumento de despesas
Questionado sobre o crescente aumento e despesas do Plano de Saúde, o Senado respondeu ao blog: “Quanto ao aumento dos custos dos planos de saúde nos últimos anos, ressaltamos tratar-se de fenômeno multifatorial, tendo sido evidenciado em todo o mercado de saúde suplementar, com agravamento a partir do ano de 2021". A pandemia da covid-19 também teria provocado a elevação anormal de despesas a partir de 2021.
O Senado citou os motivos da elevação das despesas: a inflação da saúde, afetada pelo aumento do envelhecimento populacional, o aumento no preço de medicamentos, os custos de investimento e a descoberta de novas tecnologias; o represamento de procedimentos eletivos que não foram realizados no ano de 2020 em virtude da covid-19; a desvalorização do real frente ao dólar, que precifica grande parte da tecnologia, materiais e medicamentos; o aumento das internações por covid-19, cujo ápice ocorreu no primeiro semestre de 2021; o aumento do custo dessas internações, em virtude da demanda por leitos e tecnologias de alta complexidade; e a taxa de utilização do plano de saúde.
O Senado acrescentou que a média etária dos senadores, acima da média populacional, aumenta exponencialmente a taxa de sinistralidade do plano, uma vez que pacientes idosos tendem a necessitar de cuidados médicos de maior complexidade, consequentemente com maior custo.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS