O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, gastou R$ 3,2 milhões com viagens pelo país neste ano – bem mais do que as despesas do presidente Lula, que somaram R$ 1,8 milhão. O vice priorizou as viagens para cidades do estado de São Paulo, que custaram R$ 1,7 milhão. Ele visitou 15 cidades paulistas e 10 cidades nos demais estados.
Alckmin fez algumas viagens para São Paulo às sextas-feiras sem agenda oficial a cumprir, ou voou da capital paulista para Brasília às segundas sem ter cumprido agendas oficiais nesses fins de semana. A mordomia é permitida pelo decreto presidencial que regulamenta o uso de aeronaves oficiais por autoridades. Apenas o vice-presidente e os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), do Senado e da Câmara têm esse privilégio. Alguns ministros também viajam para casa nos fins de semana em jatinhos por motivo de “segurança”.
Na verdade, as despesas do vice-presidente e do presidente da República com viagens são bem maiores. Os dados disponíveis no Portal da Transparência da Presidência informam apenas os custos das diárias e passagens da equipe de apoio das autoridades – seguranças e assessores. Não são publicados no portal gastos com aluguel de veículos, hospedagem, alimentação e despesas extras, por questões de “segurança”.
Prioridade para São Paulo
Alckmin voou para Pitangueiras (SP), em 19 de janeiro, para a inauguração da estação de tratamento de esgoto do município. A equipe de apoio tinha 23 integrantes. As diárias e passagens custaram R$ 88 mil. Em 22 de março, o vice-presidente voou do Rio de Janeiro para Andradina (SP) para a inauguração do Centro de Hemodiálise Thomaz Rodrigues Alckmin. A equipe de apoio com 32 integrantes custou R$ 130 mil. A comitiva seguiu em veículos para o aeroporto de Três Lagoas (MS), de onde decolou para São Paulo.
De 3 a 5 de abril, consta no Portal da Transparência uma viagem do vice para Pindamonhangaba – cidade onde foi vereador e prefeito da década de 90. Na quinta-feira (4), o vice decolou de Brasília para São Paulo sem agenda na capital paulista. Na sexta, a agenda oficial do presidente informa: “sem compromissos oficiais”. Na segunda-feira (8), o vice voou de São Paulo para Brasília sem ter cumprido agenda oficial no fim de semana.
O blog perguntou se o vice-presidente estuda a possibilidade de disputar o governo de São Paulo nas eleições de 2026. A Vice-Presidência respondeu que “o vice-presidente não será candidato ao governo de São Paulo”.
Em 26 de janeiro, sexta-feira, depois de cumprir agenda em Viadutos (RS), onde lançou a Pedra Fundamental de Usina de Etanol, Alckmin decolou de Passo Fundo (RS) para São Paulo, às 17 horas, sem agenda oficial em São Paulo no fim de semana.
Viagens mais caras
De 12 a 13 de março, está registrada no Portal da Transparência uma viagem do vice-presidente ao Rio de Janeiro. Com equipe de 13 seguranças e assessores, a viagem custou R$ 130 mil. As passagens tiveram valor médio de R$ 8 mil. Houve gastos extras no valor de R$ 18 mil. Não há registro dessa viagem na agenda oficial do vice.
Alckmin esteve em Curitiba em 20 de março para o Encontro de Municípios Paranaenses. Com equipe de 28 seguranças e assessores, a viagem custou R$ 140 mil. O vice permaneceu por apenas três horas na capital paranaense.
A viagem do vice-presidente ao Rio de Janeiro em 22 de março, com equipe de 22 seguranças, custou R$ 146 mil. A viagem para Florianópolis, em 26 de janeiro, custou R$ 133 mil.
Presidente e vice juntos
Alckmin também esteve em eventos liderados pelo presidente Lula, o que aumentou as despesas com as viagens. Em 15 de março, em Porto Alegre, o vice prestigiou o anúncio de ações e investimentos do governo federal para o Rio Grande do Sul. Em seguida, em Lajeado, esteve na cerimônia de novos anúncios e prestação de contas do governo federal na reconstrução dos municípios gaúchos após as enchentes de 2023. Só a viagem do vice custou R$ 246 mil. As dez passagens mais caras custaram em média R$ 11 mil.
No dia 2 de fevereiro, Lula e Alckmin fizeram visita à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Houve o anúncio do Novo Ciclo de Investimentos da Empresa no Brasil. O presidente e o vice posaram para fotos num veículo conversível da marca VW. Estiveram juntos também na inauguração do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre e na visita à fábrica da Embraer, em São José dos Campos (SP). Nesses eventos conjuntos, presidente e vice viajam cada um na sua aeronave oficial, por questões de segurança. Mais despesas.
Vários eventos em São Paulo se justificam pelo fato de o vice-presidente ser também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Ele fez visitas a fábricas e manteve encontro com dirigentes de entidades empresariais.
Vice-Presidência responde
A Vice-Presidência afirmou ao blog que o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços “cumpre suas obrigações oficiais, atendendo a demandas e convites do setor produtivo, participando de inaugurações de empreendimentos industriais, representando o presidente da República em eventos, visitas e vistorias, além de cumprir agendas conjuntas a seu pedido”.
Sobre o fato de presidente e vice viajarem cada um no sua aeronave oficial, a Vice-Presidência respondeu: “Em cumprimento à orientação de segurança que segue padrão internacional, as duas primeiras autoridades da linha de sucessão presidencial não devem viajar a bordo das mesmas aeronaves. A utilização das aeronaves da FAB pelo VPR se dá em estrita consonância com a legislação pertinente, e seu emprego varia de acordo com a disponibilidade dos modelos e o número de passageiros. Além disso, prezando pela otimização de recursos, o uso das aeronaves é feito sempre de forma compartilhada com outras autoridades e suas comitivas”.
A Vice-Presidência da República afirmou inicialmente que “desconhece os critérios a partir dos quais a reportagem da Gazeta do Povo chegou aos valores mencionados. A VPR realizou R$ 385 mil em despesas de viagens em 2024 – que, inclusive, estão publicadas no Portal da Transparência”.
Mas o fato é que a maior parte das despesas – R$ 2,8 milhões – foi paga pela Presidência da República (dados do Portal da Transparência). A Vice-Presidência pagou realmente apenas R$ 385 mil. A reportagem do blog é sobre as despesas das equipes de apoio ao vice-presidente – seguranças e assessores – e não sobre quem paga a conta. Quem paga, no fim, é o contribuinte.
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