Com salários de servidores acima da renda de deputados federais e senadores, uma centena de veículos locados e fartas verbas indenizatórias, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) banca ainda um déficit previdenciário que somou R$ 2,2 bilhões de 2007 a 2021. Só no ano passado foram R$ 134 milhões – quase 20% do orçamento do Legislativo estadual. Em 2019, chegou a R$ 243 milhões.
Esse “rombo” previdenciário resulta de “insuficiências financeiras” da São Paulo Previdência (SPPREV) – instituição previdenciária dos servidores públicos do Estado de São Paulo, incluindo os aposentados e pensionistas da Alesp. Entende-se por insuficiência financeira o valor resultante da diferença entre a folha de pagamento dos benefícios previdenciários e o valor total das contribuições previdenciárias dos servidores dos poderes, entidades e órgãos autônomos do estado.
No final do ano passado, a Assembleia Legislativa tinha 1.090 servidores aposentados. Nesse número não estão incluídos os 482 beneficiários de pensão. Para se ter uma ideia do “rombo” total no estado, a insuficiência financeira da autarquia, custeada pelo Estado de São Paulo, incluídos outros poderes, administração direta e indireta, –, incluindo a parte da Alesp – foi de da ordem de R$ 16,46 bilhões somente em 2021.
A cobertura desse “rombo” não tem data marcada para acabar. A SPPREV informou ao blog que, considerando que, dentre as suas atribuições, estão a concessão, o pagamento e a manutenção dos benefícios assegurados pelos regimes, “enquanto existirem beneficiários vinculados ao regime previdenciário do Regime Próprio de Previdência Social paulista e do Sistema de Proteção Social dos Militares, competirá à SPPREV realizar o pagamento desses segurados em caso de aposentadoria e pensão por morte”.
Os tetos salariais da Alesp
Com orçamento anual de R$ 707 milhões, a Assembleia Legislativa gastou R$ 585 milhões com pessoal e encargos em 2021. Nesse total, estão incluídos RR 48 milhões de contribuição à Previdência dos celetistas, R$ 23 milhões de contribuição à SPPREV e aqueles R$ 134 milhões para cobrir as "insuficiências financeiras" da SPPREV. Teve ainda R$ 15,7 milhões de auxílio alimentação e R$ 27 milhões de vale refeição/alimentação.
Os salários dos servidores são elevados. Os 55 procuradores têm salário de R$ 35.462. É o primeiro teto da Alesp. Os deputados federais e senadores recebem R$ 33.671. Mas tem um segundo teto na Alesp: R$ 25.322 – o mesmo salário dos deputados estaduais, que recebem o equivalente a 75% da remuneração dos parlamentares federais. Outros 341 servidores têm essa renda.
Mais 591 servidores têm salário entre R$ 20 mil e o segundo teto, com média de R$ 22,5 mil. Outros 746 servidores têm renda entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, com média R$ 17,4 mil. No meio da pirâmide, 684 servidores recebem entre R$ 10 mil e 15 mil, com média de R$ 12,5 mil.
Na tabela de vencimentos divulgada pela Assembleia, entre os cargos de direção e comando, um diretor de departamento tem renda de R$ 26,7 mil. Os secretários gerais de administração e parlamentar têm salário de R$ 32,2 mil. Nos cargos de assessoria e assistência, os chefes de gabinete de lideranças partidárias, cargos da Mesa Diretora e outros cargos correlatos, recebem de R$ 26,7 mil a R$ 31,3 mil. Um assessor especial parlamentar tem salário de R$ 17,9 mil.
Veículos blindados
A Alesp conta com 118 veículos – todos alugados – para atender aos deputados e à administração, com uma despesa anual de R$ 3,5 milhões, incluindo a manutenção. Atualmente, 70 carros estão à disposição dos deputados. Nem mesmo os deputados federais contam com veículo oficial. Na Câmara dos Deputados, apenas os integrantes da Mesa Diretora, o procurador parlamentar, o ouvidor-geral, o presidente do Conselho de Ética, o corregedor e a procuradora especial da Mulher contam com essa mordomia.
A grande maioria dos deputados estaduais usa um Toyota/Corolla, mas há exceções. O deputado Altair Moraes (Republicanos), loca um Corolla blindado. Utilizou o mesmo carro em 2021 e 2020. No Congresso Nacional, apenas os presidentes da Câmara e do Senado contam com carro blindado.
Érica Malunguinho (PSOL) prefere um VW/Jetta desde 2019. Gimalci Santos (Republicanos) alugou um Jeep Compass Sport, um carro avaliado em R$ 150 mil, com contrato até o final do ano. Usava o mesmo veículo no ano passado. Maria Helou (REDE) iniciou o ano com um Corolla, mas trocou por um VW/T Cross, um SUV compacto, em março, com contrato até o final do ano.
Maurici (PT) alugou um Jeep Compass por um mês, de março a abril. Milton Leite Filho (União) locou um Cruze até o final do ano. Valéria Bolsonaro (PL) alugou um Corolla blindado para todo o ano. O mesmo veículo usado no ano passado.
A Alesp afirma que não tem mais veículos próprios. São todos locados. “Com a medida, foram economizados cerca de R$ 6 milhões ao ano”, afirmou a Assessoria de Comunicação da Assembleia.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS