Os ex-presidentes da República gastaram R$ 547 mil com viagens até abril deste ano – tudo pago pela Presidência da República. Quem mais torrou o dinheiro público com passagens e diárias para seguranças e assessores foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – um total de R$ 220 mil. Só a visita ao México custou R$ 96 mil. No Brasil, em fase de pré-campanha eleitoral, Lula viajou para agendas políticas acompanhado por servidores pagos com verbas públicas. Sua equipe de apoio recebeu 175 diárias nas viagens nacionais e internacionais neste ano.
Lula esteve na Cidade do México, no início de março, para visitar o presidente Andrés Lopez Obrador. Na Câmara dos Deputados, afirmou que “a luta contra a desigualdade é um caminho sem volta, que, além do México, está sendo trilhado também pela Argentina, o Peru, o Chile, a Bolívia e Honduras, com seus governos progressistas”, disse, referindo-se à retomada do poder pela esquerda na América Latina. Quatro seguranças e assessores fizeram sete deslocamentos para o México em janeiro, fevereiro e março, recebendo 35 diárias num total de R$ 59 mil.
No país, no final de março, sete integrantes da equipe de segurança e apoio acompanharam o ex-presidente ao Rio de Janeiro e Salvador. Lula falou no Encontro Internacional Democracia e Igualdade, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No dia 31, prestigiou o lançamento da pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT) ao governo do estado, numa coligação com MDB e PSD. As 50 diárias dos servidores custaram R$ 13 mil; as passagens, mais 26 mil.
Em 28 de abril, o pré-candidato a presidente da República deu sequência à aproximação com o centro e selou o acordo com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), tendo como pré-candidato a vice um histórico adversário, o ex-tucano e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. O evento foi em Brasília. O deslocamento da equipe da seis seguranças e assessores custou R$ 28 mil, sendo R$ 23 mim com passagens – tudo pago pelos cofres públicos.
No evento, Lula rebateu as críticas pela aliança fechada com um tradicional adversário. “De vez em quando, Alckmin, alguém fala: ‘Ah! Mas o Lula e o Alckmin já divergiram. Por que eles agora estão juntos?’ Por que isso chama-se política. Isso chama-se maturidade. Isso chama-se compromisso com o povo brasileiro”.
“Comer é um ato político”
Em 12 de abril, Lula já havia estado em Brasília para prestigiar o Acampamento Terra Livre, organizado por comunidades indígenas. A despesa com a equipe de apoio chegou por 20 mil, sendo R$ 16 mil com passagens. O deslocamento da equipe de seguranças e assessores a Londrina (PR), em 19 de março, para o encontro com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no assentamento Eli Vive, ficou por R$ 17 mil.
No evento, Lula citou Paulo Freire ao falar sobre a fome: “A fome é uma doença que não dói aos olhos de quem não a sente. E a fome é mais grave porque a gente tem capacidade de produzir alimento para todos os seres humanos”. A ativista Bela Gil completou: “A comida é uma ferramenta muito poderosa de transformação. Comer é um ato político”.
A Lei 7.474/1986 estabelece que os ex-presidentes da República têm direito a quatro seguranças e dois veículos com motoristas. Posteriormente, foram acrescentados mais dois assessores à equipe de apoio. Lula manteve os seus assessores e seguranças, incluindo motoristas, mesmo enquanto permaneceu preso em Curitiba.
O então deputado Jair Bolsonaro (PSL) apresentou um projeto de lei em março de 2018 para acabar de vez com essa mordomia. Não haveria mais seguranças, assessores, carros, cartões corporativos. Após tomar posse como presidente, nunca mais tocou no assunto.
Os serviços também não são suspensos durante período de campanha eleitoral. Em 2018, a ex-presidente Dilma Roussef levou servidores pagos pela Presidência da República para Minas Gerais durante a sua campanha ao Senado. Eles receberam 350 diárias num total de R$ 84 mil, como mostrou reportagem publicada no blog.
E ainda tem os salários da equipe de apoio
Outro aspecto a ser destacado é que as equipes de apoio dos ex-presidente também recebem salário da Presidência da República. Nos três primeiros meses do ano, essa despesa já chegou a R$ 1 milhão. A maior equipe é a de Dilma Rousseff, com custo de R$ 201 mil. Depois vem a de Sarney, com R$ R$ 180 mil. A equipe de Lula está custando R$ 146 mil. Os penduricalhos como combustível, aluguel de veículos, seguros, telefonias, taxas, somaram R$ 66 mil. Cada um conta com carro blindado para uso pessoal avaliados em R$ 108 mil cada um. Ou seja, é tudo por conta do contribuinte.
O total de despesas dos seis ex-presidentes até março, segundo dados da Presidência, foi de R$ 1,48 milhão. Nesse período, as diárias e passagens de assessores somaram R$ 393 mil. Mas é possível apurar os gastos de abril na página do Portal da Transparência que traz o detalhamento das despesas. Assim, nos quatro primeiros meses do ano, os gastos com viagens chegam a R$ 547 mil.
A segunda maior despesa, até abril, foi do ex-presidente Fernando Collor (PROS) – R$ 138 mil. Mas ele só viajou pelo país. Os deslocamentos para São Paulo custaram R$ 92 mil. Para Maceió, capital do estado que representa como senador, as viagens somaram apenas R$ 20 mil. Além dos cinco assessores pagos pela Presidência, ele conta com mais 56 assessores no Senado. No ano passado, esses assessores parlamentares custaram R$ 5,5 milhões ao contribuinte.
Dubai, Nova York, Santiago
O ex-presidente Michel Temer (MDB) gastou um total de 90 mil com viagens até abril. De 22 a 28 de março, viajou para Dubai, nos Emirados Àrabes, para participar da 4ª Edição Global Business Fórum da América Latina. Foi acompanhado por dois servidores da Presidência, que receberam 12 diárias no valor de R$ 18,6 mil. A despesa total fechou em R$ 32 mil.
Em seguida, programou para abril a sua participação, como palestrante, na Reunião Anual de Investidores da Siguler Fuff & Company, em Nova York. A despesa total seria de R$ 48 mil, sendo R$ 37 mil com passagens.
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) já torrou muito dinheiro em viagens para o exterior. Mas reduziu as despesas neste ano. Foram R$ 68 mil em viagens nacionais e internacionais. Esteve em Santiago do Chile para a posse do presidente Gabriel Boric. Pelas redes sociais, ela saudou o novo presidente: “É a maior vitória do povo chileno desde a deposição de Allende. Todo esse movimento traz esperança não apenas ao Chile, mas aos povos do continente que lutam contra o neoliberalismo e o fascismo”. A despesa com a sua equipe de apoio chegou a R$ 33 mil, sendo R$ 27,5 mil apenas com as passagens.
O ex-presidente José Sarney (MDB) gastou R$ 28 mil com seis deslocamentos de assessores, sendo cinco deles para São Luís. As passagens custaram R$ 19 mil. No total, foram 42 diárias. Com problemas de saúde, o presidente Fernando Henrique Cardoso não fez viagens com assessores neste ano.
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