O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) viaja pelo país e o mundo escoltado por policiais legislativos. Só no primeiro ano do atual mandato, as despesas das equipes de segurança chegaram aos R$ 676 mil, sendo R$ 460 mil com passagens e R$ 216 mil com 438 diárias. A escolta esteve ativa até mesmo no casamento do deputado, no Rio de Janeiro. Paga pelo contribuinte. No Carvanal de 2019, os sete seguranças receberam 50 diárias. Em média, cada um ficou uma semana no Rio – um deles, 11 dias. A estada da equipe custou R$ 46 mil.
A escolta na Farm Show, feira de agronegócio em Primavera do Leste (MT), custou R$ 39 mil. Alguns dos seguranças seguiram com o deputado para o Rio de Janeiro após o evento, gastando R$ 5,7 mil com passagens cada um. Um deles emendou uma missão para Campinas, gastando R$ 7,5 mil com passagens em cinco dias. Durante o CPAC Brasil, evento conservador apoiado pelo deputado, ele e seus seguranças ficaram hospedados no Hotel Transamérica em São Paulo.
De 22 a 26 de maio de 2019, seis policiais legislativos se revezaram na segurança de Eduardo Bolsonaro, nos serviços de precursora, escolta e proteção ao deputado. Ele casou-se no dia 25, num sábado. Os seguranças estavam presentes. Um dos policiais registrou no relatório de viagem que atuou nas atividades de proteção pessoal e no cumprimento da agenda do deputado durante a sua permanência no estado, “inclusive na cerimónia de seu casamento”. A passagem de cada policial custou R$ 3,7 mil. Foram pagas 23 diárias. O custo total da missão para o contribuinte chegou a R$ 34 mil.
Deputado ganha proteção “extra”
Eduardo visitou 10 cidades em nove estados em 2019. Esteve ainda em Buenos Aires, em maio, como presidente da Comissão das Relações Exteriores. A escolta custou R$ 17 mil. Foi três vezes a Porto Alegre, onde recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, oferecida por deputados estaduais. O deputado esteve duas vezes em Santa Catarina. Em novembro, fez palestra em Criciúma com o tema “A história do Brasil e o conservadorismo". A escolta via aérea e terrestre custou R$ 19 mil.
A partir de 2020, Eduardo teve um reforço na sua segurança: os policiais legislativos deixaram de informar nos relatórios de viagem o nome do deputado escoltado. Ficou impossível saber quanto o deputado gasta com a sua segurança. Se ele manteve o ritmo de viagens de 2019, a despesa total já deve estar perto dos R$ 2 milhões. O campeão de gastos com escoltas naquele ano foi o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com R$ 1,1 milhão.
A escolta de Eduardo é feita pela Polícia Legislativa da Câmara devido ao acordo feito com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança dos familiares do presidente da República.
A comitiva do “eu sozinho”
Em dezembro de 2019, Eduardo Bolsonaro fez uma longa viagem aos Emirados Árabes Unidos, Israel, Omã, Kwait e Bahrein. Viajou acompanhado de outros deputados da Comissão de Relações Exteriores, por ele presidida. O blog solicitou à Câmara o custo com passagens aéreas e diárias dos policiais legislativos que acompanharam Eduardo.
A Câmara afirmou que os policiais foram designados para a proteção da comitiva da Comissão de Relações Exteriores. E acrescentou que as informações solicitadas, “por dizerem respeito a questões sensíveis relacionadas à segurança de dignitários, e por demonstrar a própria logística desenvolvida pela Polícia Legislativa, devem ser preservadas no âmbito interno desta instituição”.
Trata-se de uma meia verdade. Dois policiais legislativos realmente acompanharam integrantes da Comissão de Relações Exteriores, incluindo Eduardo, nos Emirados Árabes e Israel, de 30 de novembro a 7 de dezembro. Mas o presidente da comissão prosseguiu numa viagem solitária, acompanhado pelos mesmos seguranças. Estiveram no Katar, Bahrain e Kuwait.
No Bahrain, postou fotos nas redes sociais ao lado do Sheik Al Kalifa, enaltecendo a sua própria missão: “Em que pese minha ‘comitiva’ ser formada por 1 parlamentar só, eu, não só me recebem como há boa interação”. Descreveu o Bahrain como “país de bons pagadores, grandes investidores”. Ele também na cidade de Suhal, em Omã.
Cada um dos policiais recebeu 18,5 diárias, no valor total de R$ 69 mil. As duas passagens custaram mais R$ 34 mil, fechando as despesas em R$ 103 mil. Entre os deputados, o maior estrago nos cofres públicos foi causado por Fábio Ramalho (MDB-MG). Além receber R$ 9,3 mil em diárias, ele gastou R$ 38 mil com passagens. As passagens de José Rocha (PL-BA) custaram R$ 30 mil. Outros deputados gastaram apenas R$ 10 mil com passagens.
A escolta dos ameaçados
Os deputados do PSOL que foram ameaçados de morte, Talíria Petrone e David Miranda, ambos do Rio de Janeiro, gastaram juntos com escota o mesmo que Eduardo Bolsonaro, mas também esbanjaram um pouco. As despesas com Talíria somaram R$ 337 mil; com Miranda, R$ 341 mil. De 12 a 28 de dezembro de 2019, quatro policiais legislativos que fizeram escolta para Talíria no Rio de Janeiro receberam 61 diárias num total de R$ 12 mil. Dois agentes receberam 21 diárias cada no valor de R$ 175.
Talíria passou a maior parte do tempo no Rio de Janeiro em 2019 por conta da gravidez. Mas também viajou para outros estados, em visitas a Campinas (SP), Fortaleza, Recife, Florianópolis, Salvador e São Paulo. A viagem mais cara foi para Salvador, em agosto, num total de R$ 24,7 mil. Cada passagem para os três seguranças custou R$ 5,4 mil.
A grande maioria das viagens de Miranda foi para o Rio de Janeiro. Uma delas, de 21 de novembro a 4 de dezembro, resultou no pagamento de 41 diárias. Dois agentes receberam 13,5 diárias cada um. O deputado esteve em São Paulo por um dia e depois foi para o Rio. As passagens de um dos policiais custaram R$ 6,7 mil. Os dois deputados do PSOL passaram a contar com escolta após receberem ameaças de morte, como apurou a Polícia Federal.
A Câmara foi questionada pelo blog sobre o motivo da diferença no valor das diárias pagas aos policiais que acompanham Eduardo Bolsonaro e os deputados do PSOL. A casa respondeu que os valores pagos variam em razão da função comissionada de que o servidor está investido ou do cargo que ocupa na estrutura administrativa da Câmara.
“As meias diárias são pagas em três situações: quando o afastamento não exigir pernoite, quando a Câmara dos Deputados ou outro órgão ou entidade fornecer o alojamento ou outra forma de hospedagem e no dia do retorno. Por questões de segurança, as informações sobre escolta de parlamentares têm caráter sigiloso”, diz nota da Câmara.
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