O ex-presidente Jair Bolsonaro negou algumas vezes que tivesse utilizado o seu cartão corporativo e construiu a imagem de um homem simples, que comia pão com leite condensado. Mas as notas fiscais que registram as despesas dos cartões mostram o contrário. A mesa foi sempre farta e sofisticada no Palácio da Alvorada, com lagostins, camarões eviscerados, bacalhau dessalgado e outras iguarias. Os cartões pagaram ainda hospedagem de seguranças para Michelle e Carlos Bolsonaro e até combustível para motociata.
O quilo do camarão eviscerado estava em R$ 199; do bacalhau dessalgado, R$ 124. Algumas compras na peixaria superavam os R$ 4 mil. Eram frequentes. Em 19 de novembro de 2019, foram comprados 14 quilos de camarão eviscerado por R$ 2,8 ml. Quatro dias mais tarde, chegaram lagostinhas no valor de R$ 1,1 mil. Dia 13 de dezembro, mais uma despesa de R$ 2,2 mil com camarão eviscerado, robalo e salmão. Mas a compra mais cara ocorreu em 19 de fevereiro daquele ano: R$ 4,3 mil, com camarão, bacalhau dessalgado e pescada amarela.
Mas o presidente não abandonou o pão com leite condensado. Foram registradas pelo menos três compras do produto em 2019. Em abril, foram 15 unidades. Em 24 de outubro, mais 30 caixas; em 19 de dezembro, um reforço de 20 caixas.
Os dados oficiais foram apurados pela agência Fiquem Sabendo, que fiscaliza a aplicação da Lei de Acesso à Informação, e distribuídos a veículos de imprensa. Reportagem do blog mostrou qual presidente gastou mais com cartões corporativos. Os pagamentos não são feitos diretamente pelo presidente. Os cartões presidenciais ficam na mão de assessores da Presidência da República, que acompanham as viagens do presidente ou fazem compras em peixarias, açougues, mercearias ou supermercados em Brasília. Mas despesas são do presidente ou do Alvorada, onde ele mora com a família.
Gastos sem fim nas viagens
Os cartões revelam todo tipo de despesa em uma viagem presidencial. Em fevereiro de 2021, Bolsonaro foi passar o carnaval em São Francisco do Sul (SC). Ficou hospedado no Forte Marechal Luz, mas gerou um gasto de R$ 130 mil com hospedagem de seguranças no hotel JM Gerenciadora, em Guaratuba. Foram gastos mais R$ 8,7 mil com gasolina e R$ 19 mil com óleo diesel. Houve ainda o aluguel de um jet ski e a locação de uma câmara hiperbárica, além, da instalação de um gradil de 860 metros.
Segundo dados da Presidência, a viagem custou R$ 850 mil, em valores atualizados pela inflação, incluindo alimentação, diárias e passagens da equipe de apoio. Como mostrou reportagem do blog, o presidente torrou R$ 11,5 milhões com viagens de férias e folgas ao Guarujá, São Francisco e na Base Naval de Aratu, próxima a Salvador.
Em janeiro de 2021, cartões de Bolsonaro pagaram R$ 36 mil de hospedagem para seus seguranças. Em março daquele ano, a hospedagem em Campinas custou R$ 22 mil. O aluguel de um palco saiu por R$ 4,4 mil. No mesmo mês, o hotel em Uberlândia custou R$ 15 mil.
Os cartões presidenciais também pagam despesas da família. Em março de 2021, houve solicitação de hospedagem de dois dias para um integrante da equipe de segurança da então primeira dama, Michele Bolsonaro, no Rio de Janeiro. No mesmo mês, também foi solicitada a hospedagem de um segurança do vereador Carlos Bolsonaro em Brasília, de 12 a 22 daquele mês. A despesa no hotel Nobile Suítes ficou em R$ 2,3 ml.
O presidente também costumava dizer que as suas motociatas em grandes capitais eram custeadas pelos seus organizadores. Em 12 de junho de 2021, foi solicitado ao coordenador da viagem presidencial a São Paulo apoio administrativo destinado ao abastecimento de motos oficiais e de motos descaracterizadas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) utilizadas na “Missão Presidencial Evento Oficial do senhor Presidente da República” motociata na cidade de São Paulo.
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