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Mesmo tendo trabalhado só até 18 em dezembro, o presidente Jair Bolsonaro fez 10 viagens e voltou a fazer pagamentos acima de R$ 900 mil com cartões corporativos naquele mês, fechando o ano com despesas de R$ 7,7 milhões – 10% a mais do que o último ano da presidente Dilma Rousseff e 35% a mais do que Michel Temer. Considerando apenas os últimos quatro meses, Bolsonaro fez pagamentos no dobro da média das despesas de Temer com cartões e 70% a mais do que Dilma. A gastança ocorreu durante a pandemia da Covid-19, com o país “quebrado”.
O destaque nas viagens de dezembro foram as cerimônias militares. Ele esteve na declaração de aspirantes da Aeronáutica em Pirassununga, na entrega de espadins a aspirantes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), comemorou o Dia do Marinheiro em Itaguaí (RJ), esteve na declaração de guardas-marinha e na conclusão do curso de soldados da PM no Rio de Janeiro, onde afirmou que “a imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei”.
O presidente também visitou as obras da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, em Foz do Iguaçu (PR); esteve na inauguração do eixo principal da Ponte do Guaíba, em Porto Alegre; e no lançamento da “pedra fundamental” da pavimentação da BR-367 em Jacinto (MG), no Vale do Jequitinhonha. O ato simbólico marca o início da obra, tem caráter apenas eleitoreiro. No evento, houve muito contato com populares, com abraços e apertos de mão. Poucos usavam máscara de proteção.
“Vou arranjar uma saída pro mar para Minas”
Mas o governo também anunciou a recuperação da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, na BR-116, e a conclusão da duplicação da BR-381. “E, em 2023, eu vou arranjar uma saída pro mar para Minas Gerais”, brincou o presidente. Dali, seguiu para Porto Seguro (BA) para a cerimônia de assinatura de atos de apoio ao setor produtivo. De helicóptero, deu um pulo em Vera Cruz (BA), onde promoveu novas aglomerações, cumprimentos...
Bolsonaro iniciou no dia 4, uma sexta-feira, a sua maratona para cumprir o seu roteiro militar/religioso. Esteve em Pirassugunga pela manhã e partiu à tarde para Salvador, onde aconteceram assembleias gerais da Convenção Estadual das Assembleias de Deus da Bahia. Houve muita aglomeração quando o presidente chegou à sede da entidade, sem usar máscara, no bairro Costa Azul. No discurso de 15 minutos, disse que a Bíblia está acima da constituição: “Acima da nossa Constituição está a nossa fé, está aquele livro conhecido como Bíblia Sagrada”.
Às 5 da tarde, partiu para Resende (RJ). Na manhã seguinte, participou da solenidade de restituição de espadins e de declaração de aspirantes da Aman, onde também se formou. Às 14h, retornou para Brasília. A cerimônia teve um caráter cívico-afetivo, como demonstrou o presidente no seu discurso: “Jovens aspirantes do Exército Brasileiro, a emoção que vocês sentem hoje é exatamente igual a minha de há 43 anos”.
A estrada das “visitas alusivas”
No dia 10, abriu espeço para o roteiro eleitoral. Esteve na cerimônia de inauguração do eixo principal da Nova Ponte do Guaíba, em Porto Alegre, e faz “visita alusiva” à liberação de 27km de trecho duplicado da BR-116, em Barra do Ribeiro. Essa obra é providencial porque está sendo inaugurada em partes. Cada uma rende uma “visita alusiva”. O governo já entregou 93km e pretende finalizar 211 até o final de 2021. Novamente, houve aglomeração, com autoridades e convidados sem usar máscaras no palanque improvisado.
No dia seguinte, sexta-feira, virou a chave das cerimônias. Bolsonaro esteve na cerimônia do Dia do Marinheiro, em Itaguaí (RJ). Aproveitou para fazer uma visita de 10 minutos ao submarino nuclear de ataque da Marinha dos Estados Unidos. No sábado, esteve na cerimônia de declaração de guardas-marinha de 2020 e entrega de espadas da Turma Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque.
Bolsonaro fez visita técnica, selo Silvio Santos e banho de mar
No dia 15, foi a São Paulo, onde fez “visita técnica” à torre do relógio da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais, falou na passarela do pavilhão Mercado Livre do Produtor, esteve no lançamento de selo alusivo ao aniversário de 90 anos do comunicador Silvio Santos e participou de jantar oferecido pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. No pavilhão do mercado lotado, o presidente falou para pessoas amontoadas lado a lado, contrariando protocolo de segurança anti-Covid.
No dia 18 de janeiro, a última solenidade do ano. Bolsonaro marcou presença na solenidade de conclusão do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Nessa cerimônia, alertou aos soltados que “numa fração de segundo, está em risco a sua vida, do cidadão de bem ou de um canalha defendido pela imprensa brasileira”. Acrescentou que a imprensa “sempre estará contra vocês”.
Depois disso, entrou de recesso. Mas não foi para Miami. Preferiu o litoral de São Paulo, onde saltou de uma lancha e nadou até uma aglomeração nas águas do mar. “Mito, mito”, gritavam os seus eleitores. Em 28 de dezembro, participou de um jogo de futebol beneficente em Santos. Pela aglomeração provocada, certamente não era em benefício de vítimas do coranavírus.
Gastos de Bolsonaro são mantidos com o país “quebrado”
Mesmo num ano de muitas despesas extras, com o país “quebrado”, Bolsonaro já igualou as despesas feitas com cartões corporativos em 2019 – R$ 7,8 milhões em valores atualizados. Na volta ao trabalho, nesta terça-feira (5), ele afirmou a um apoiador, na saída do Palácio da Alvorada: “O país está quebrado, chefe. Não consigo fazer nada”. Mas viajar ele consegue. Houve até uma redução nas despesas de abril a julho, mas a sua popularidade caiu e ele saiu pelo país em eventos de caráter político-eleitoral – prática da “velha política”. A popularidade e a aprovação melhoraram.
Os valores totais de 2020 não incluem as despesas com a viagem do avião presidencial a Wuhan, na China, onde brasileiros foram resgatados no início da pandemia. Aquele deslocamento custou R$ 739 mil. Considerando esse gasto, os pagamentos com cartões corporativos do presidente em 2020 somaram ficou em R$ 8,4 milhões. Os pagamentos de dezembro correspondem a compras feitas em novembro. Somente no final de janeiro estará disponível a despesa de dezembro. Mas já é possível ter um balanço de 12 meses seguidos.
Os cartões corporativos não pagam apenas despesas de viagens, embora essas sejam as maiores. Como mostrou o blog, nos primeiros sete meses da pandemia de Covid-19, o presidente fez 23 viagens pelo país, promovendo aglomerações e desestimulando o uso de máscara pelo seu exemplo. Além dos riscos de contaminação, os deslocamentos deixaram uma despesa de R$ 1,9 milhão para o contribuinte. Os cartões também pagam despesas do Palácio da Alvorada e gastos pessoais do presidente e dos seus familiares.
As viagens mais caras foram para Mossoró (RN) e para o Rio de Janeiro. O presidente participou de inauguração de moradias populares e obras contra a seca em Ipanguaçu e Mossoró (RN), em 21 de agosto. No palanque, anunciou que o auxílio emergencial para trabalhadores informais e desempregados seria estendido até dezembro.
A mais cara foi no roteiro de cerimônias militares. Em 15 de agosto, num sábado, Bolsonaro acompanhou a formatura de paraquedistas na Vila Militar da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Bolsonaro foi paraquedista no final da década de 1970. Na formatura, esteve acompanhado dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa). Só os dois escalões avançados custaram R$ 148 mil. Com mais as despesas feitas no dia, a conta paga pelo contribuinte fechou em R$ 285 mil.