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Lúcio Vaz

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Base eleitoral

Bolsonaro torra R$ 8 milhões com viagens para agradar militares, policiais e evangélicos

militares
Bolsonaro na cerimônia de entrada dos novos alunos pelo portão da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. (Foto: Isac Nóbrega/PR)

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O presidente Jair Bolsonaro gastou R$ 8,1 milhões em 51 viagens para cerimônias e visitas a militares, policiais e evangélicos – setores que compõem a sua principal base de apoio político. O dinheiro seria suficiente para comprar cerca de 160 mil doses de vacinas para a Covid-19. A maior parte foi para participar de festas de formatura de militares – R$ 5,4 milhões. A viagem mais cara foi para o Rio de Janeiro, onde o presidente esteve na brevetação de paraquedistas e na visita a uma escola cívico-militar – R$ 413 mil. Foi um passeio de caráter afetivo para um ex-paraquedista.

A partir deste ano, a Presidência da República passou a divulgar dados mais completos das viagens presidenciais, incluindo despesas com diárias dos integrantes da comitiva, como assessores e seguranças, e gastos com cartões corporativos, principalmente com combustível e aeroportos. Até o final de 2020, com transparência restrita, só as visitas a cerimônias militares somavam R$ 2,7 milhões, como mostrou o blog. Mas as viagens para agradar militares, policiais e evangélicos devem superar os R$ 9 milhões porque ainda faltam os valores dos eventos realizados em junho.

A participação em 12 cultos, assembleias e reuniões com evangélicos custou R$ 1,5 milhão. Em outubro de 2019, o presidente esteve ainda na missa alusiva ao Dia de Nossa Senhora Aparecida, celebrada em Aparecida – mais uma despesa de R$ 206 mil na conta do contribuinte. Na Marcha para Jesus em São Paulo, a despesa chegou a R$ 216 mil. Para participar do Culto no Tempo de Salomão, gastou mais R$ 193 mil. As seis participações em cerimônias de formaturas de policiais militares ou visitas a autoridades policiais civis custaram mais R$ 1 milhão.

“Quase um quartel”, diz Bolsonaro

Bolsonaro esteve em 24 cerimônias de formatura de militares – oficiais, sargentos e soldados – e até mesmo na entrega de boina aos alunos do 6º ano do ensino fundamental no Colégio Militar de São Paulo. Essa despesa ficou em R$ 150 mil. Ele também havia prestigiado a solenidade de incorporação desses alunos recém–matriculados, mais de um ano antes. As viagens para as 24 formaturas custaram R$ 3,8 milhões ao contribuinte – e ainda falta computar os três últimos eventos.

O presidente também esteve em visitas a escolas cívico-militares. Na inauguração da escola do Rio de Janeiro, ele explicou por que valoriza esse projeto: “É quase como um quartel. Se não tiver hierarquia e disciplina, ele não cumpre a sua missão. Aqui, o que nós queremos na educação é que, no final da linha, esse jovem, nos seus 20, 25 anos, vai ser um bom empregado, um bom patrão, um bom liberal e não como acontece em parte no Brasil ainda: apenas um militante político”.

"Leal” e “cortês” com a imprensa

Nas cerimônias militares, Bolsonaro faz afirmações desconectadas da realidade. Na entrada dos novos alunos pelo portão da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, em fevereiro deste ano, ele afirmou: “E, apesar de tudo, eu represento a democracia no Brasil. Nunca a imprensa teve um tratamento tão leal e cortês como o meu. Se alguns acham que não é dessa maneira é porque não estão acostumados a ouvir a verdade”. A jornalista Daniela Lima, âncora da CNN, chamada de “quadrúpede” pelo presidente, certamente não gostou da “cortesia”.

Ainda no início do seu governo, em maio de 2019, o presidente aproveitava os encontros com policiais para propagar o seu projeto armamentista, de desrespeito à vida. Na cerimônia de início das operações do Centro Integrado de Inteligência e Segurança Pública da Região Sul, em Curitiba, afirmou: “Precisamos do Parlamento brasileiro. Esperamos conseguir dar-lhes o excludente de ilicitude na defesa da vida própria e terceiros ou de patrimônio próprio e de terceiros. A vida do cidadão de bem não tem preço. Aqueles que estão à margem da lei, paciência”. O excludente de ilicitude permite que uma pessoa pratique um ato ilícito sem que seja considerado um crime.

Na formatura de soldados da Polícia Militar do Rio de Janeiro, em dezembro do ano passado, Bolsonaro alertou os PMs: “Numa fração de segundo está em risco a sua vida, do cidadão de bem ou de um canalha defendido pela imprensa brasileira. Não se esqueçam disso, essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei, sempre estará contra vocês”.

“Cloroquina é realidade”, diz presidente

Na entrega de espadas aos formandos do Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2019, Bolsonaro fez um discurso em defesa dos militares: “As Forças Armadas, ao longo de décadas, foi maltratada, foi perseguida, mas, pela formação e pelo caráter, nós nos mantivemos em pé. E essa perseguição é simplesmente a busca por parte daqueles do poder absoluto, e sabem que nós militares somos o último obstáculo para o socialismo”.

Em setembro de 2020, o presidente Bolsonaro fazia pouco caso de vacinas para a Covid-19. E defendia abertamente o uso da cloroquina para vencer a pandemia. Na inauguração de estruturas e entrega de equipamentos à Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro, comentou: “Por coincidência, tem um coronel do Exército do meu lado aqui que é diretor do Instituto de Biologia do Exército, onde fabrica ali a cloroquina, que desde o primeiro momento nós falamos que tinha que dar certo com ela. Hoje em dia, já se transforma numa realidade”.

Nesta quarta-feira (21), o YouTube removeu vídeos e transmissões ao vivo do canal do presidente Bolsonaro. A plataforma afirma que os conteúdos foram bloqueados por violar as políticas de informações sobre a Covid-19 que apresentavam "sérios riscos de danos significativos". A informação foi divulgada pelo portal G1.

Como surgiu indicação ao STF

O presidente gastou R$ 185 mil para ir ao culto em ação de graças pela vida do pastor Wellington Bezerra da Costa, presidente das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, no Rio. Lá, relatou como surgiu a ideia da indicação de André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF): “Eu me lembro, um ano antes das eleições, estava em Santa Catarina, em um encontro de gideões. E ali, do nada, veio à minha boca algumas palavras, que eu assumi um compromisso com vocês, nossos irmãos. Vamos ter no STF um ministro terrivelmente evangélico”.

No Culto Interdenominacional das Igrejas de Anápolis, em junho deste ano, Bolsonaro contou como surgiu o slogan “Deus acima de todos”. Foi num culto em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, coordenado por Silas Malafaia. “Ele falou que ia dar palavra para três deputados evangélicos e apontou para mim. Falei, mas eu não sou evangélico, eu sou católico”. Mas Malafaia insistiu. Bolsonaro falou para 20 mil pessoas e encerrou com o jargão militar “Brasil acima de tudo”. E completou: “Mas tenho que falar mais alguma coisa, eu falei: Deus acima de todos. Foi algo de repente, do nada, apareceu, chama-se insight”.

A relação das viagens de Bolsonaro para agradar a base

Fonte: Secretaria-Geral da Presidência da República (via Lei de Acesso à Informação)

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