Em vez de concentrar os esforços na busca de vacinas, o presidente Jair Bolsonaro aumentou as viagens pelo país em dezembro, causando aglomerações por onde passou. Os gastos com cartões corporativos bateram em R$ 1,2 milhão, fechando o ano com R$ 9,14 milhões. Só as despesas com 9 escalões avançados (Escavs) naquele mês chegaram a R$ 718 mil. E ainda falta a prestação de contas de mais sete escalões.
Os números do ano superam em 30% os gastos da presidente Dilma Rousseff com cartões em 2015 (último ano do seu governo) – R$ 7 milhões – e estão 60% acima das despesas do presidente Michel Temer em 2018 – R$ 5,7 milhões. Os dados foram atualizados pela inflação do período pelo índice IPCA (IBGE).
O pagamento de faturas de cartões corporativos até 18 de fevereiro – relativos aos gastos de janeiro – já atingem R$ 933 mil, o que aponta para gastos elevados também em 2021. O gasto médio com cartões nos últimos cinco meses está em R$ 1 milhão, o que projeta uma despesa anual de R$ 12 milhões. Nos cinco primeiros meses da pandemia da Covid-19, a média de gastos ficou em R$ 250 mil. Mas a popularidade caiu e o presidente retomou as suas viagens.
Em 18 de dezembro, Bolsonaro ainda levantava dúvidas sobre a eficácia de vacinas. “Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso. E, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”, afirmou o presidente, referindo-se à vacina da Pfizer.
Dados dos gastos de Bolsonaro estão em sigilo
Como os dados dos cartões corporativos do presidente estão sob sigilo, a Presidência da República informa apenas os gastos com os escalões avançados, formados por assessores e equipes de segurança. Em algumas viagens, são necessários dois, três ou até quatro escalões porque o presidente percorre várias cidades. Não são divulgadas informações sobre hospedagem, alimentação, passagens e diárias de servidores que integram a comitiva presidencial por questões de segurança. Os custos de hora/voo das aeronaves também não são informados.
Os cartões corporativos não pagam apenas despesas das viagens presidenciais. São utilizados também na compra de alimentos, materiais diversos e serviços efetuados no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República. Bolsonaro costuma dizer que os seus cartões corporativos pessoais estão “zerados”, mas não informa que as suas despesas pessoais, dos familiares e da residência oficial são pagas com cartões utilizados por servidores da Presidência.
Em 2019, ano sem pandemia, as diárias e passagens das equipes de segurança que acompanham os familiares do presidente custaram R$ 513 mil. Eles estiveram em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, João Pessoa, Florianópolis, Belo Horizonte, Brasília, Campina Grande (PB), Barretos (SP), Brumadinho (MG), Resende (RJ) e Pará de Minas (MG). Também deram uma esticada em Santiago do Chile e Roma, tudo pago com dinheiro público.
Formaturas obras e pose no Camaro
Bolsonaro começou dezembro com visita às obras da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, na companhia do presidente daquele país. O deslocamento do Escav ficou em R$ 153 mil. No dia 4, esteve na solenidade de declaração dos novos Aspirantes da Aeronáutica, em Pirassununga, e nas Assembleias Gerais da Convenção Estadual das Assembleias de Deus da Bahia. No dia seguinte, já estava em Resende, na solenidade de restituição de espadins e de declaração de aspirantes da AMAN. Os três escalões avançados custaram R$ 222 mil. E nada de vacina.
No dia 10, esteve na inauguração do eixo principal da Nova Ponte do Guaíba, em Porto Alegre, e na “visita alusiva” à liberação de 27 quilômetros de trecho duplicado da BR-116, em Barra do Ribeiro (RS). Nessa cerimônia, posou sorridente para os fotógrafos na direção de um carro esportivo Camaro, utilizado pela Polícia Rodoviária Federal gaúcha. Apreendido de traficantes, o carro atinge a velocidade de 100 km/hora em quatro segundos.
O presidente prestigiou a cerimônia do Dia do Marinheiro na Base Naval em Itaguaí (RJ) no dia 11, acompanhado da cúpula militar. Também visitou o submarino nuclear americano USS "Vermont", que estava atracado na base de submarinos. No dia seguinte, estive na cerimônia de declaração de guardas-marinha de 2020 e entrega de espadas da Turma Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, no Rio de Janeiro. Mais uma despesa de R$ 182 mil com os escalões avançados.
Ainda não foram divulgados os gastos da visita à Companhia de Entrepostos de São Paulo, onde reuniu milhares de pessoas sem qualquer distanciamento social; do lançamento da pedra fundamental para implantação e pavimentação da BR-367, em Jacinto (MG); da assinatura de atos de apoio ao setor produtivo, em Porto Seguro (BA); da formatura de soldados da Polícia Militar do Rio de Janeiro e do passeio de final de ano no Guarujá (SP). Essas viagens custam em torno de R$ 300 mil.
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