Jair Bolsonaro torrou R$ 928 mil com diárias, passagens, seguranças e outras mordomias no primeiro trimestre deste ano – o equivalente a R$ 1,5 mil benefícios do Bolsa Família. O valor representa 40% da verba gasta pelos seis ex-presidentes – um total de R$ 2,2 milhões. A maior parte das despesas foi com diárias e passagens para os seguranças e assessores que acompanharam o ex-presidente na viagem a Orlando (EUA) – um total de R$ 755 mil. Isso representa 63% dos gastos de todos os ex-presidentes nesse tipo de despesa.
O segundo colocado no ranking da gastança dos ex-presidentes foi Fernando Collor, com R$ 335 mil nos três primeiros meses do ano – 15% do gasto total dos ex-presidentes. As diárias e passagens somaram R$ 163 mil, sendo R$ 107 mil com passagens aéreas. Os cargos comissionados dos assessores e seguranças somaram mais R$ 167 mil. Dos 25 deslocamentos aéreos, 21 foram para São Paulo. Collor não viajou para o exterior.
O histórico das despesas dos ex-presidentes com diárias e passagens nos últimos 12 anos mostra que a gastança de Bolsonaro é inédita. Após encerrar o seu primeiro mandato, em 2011, Lula gastou o equivalente a R$ 1,3 milhão durante todo o ano. Em 2013, ficou em R$ 1,1 milhão.
No primeiro ano após deixar a Presidência, em 2017, Dilma Rousseff consumiu R$ 1,16 milhão com diárias e passagens. Ela viajou pelo mundo para propagar que seu impeachment teria sido um “golpe”. No ano seguinte, a despesa caiu para R$ 778 mil – valor próximo ao que foi torrado por Bolsonaro em apenas três meses.
Em 2019, ela fez a viagem mais cara. Ela passou 42 dias de férias em Nova York e ainda deu um pulo em Sevilha, na Espanha. A despesa com 96 diárias chegou a R$ 176 mil. Naquele ano, ela visitou 13 países, fazendo uma despesa de R$ 700 mil. No extenso roteiro, defendeu a liberdade de Lula, que estava preso em Curitiba. Em Paris, dia 14 de janeiro, ela postou nas redes sociais: “Na festa do L’Humanité. Pela libertação de @lulaoficial. Viva Lula! Viva a França!” Todos os gastos de Dilma foram atualizados pela inflação.
A fartura das diárias de Bolsonaro
Impressiona a fartura das despesas de Bolsonaro com diárias. Foram R$ 638 mil, o que representa 85% das despesas com diárias e passagens. Foram pagas 326 diárias no valor médio de R$ 2 mil. O capitão da reserva Sérgio Cordeiro recebeu R$ 138 mil por 65 diárias – R$ 2,1 mil a unidade. O coronel de reserva Marcelo Câmara e o subtenente Max Moura, subtenente da PM do Rio de Janeiro, receberam R$ 128 mil cada um. As passagens dos sete integrantes da segurança somaram apenas R$ 93 mil.
Houve ainda o pagamento dos cargos comissionados aos militares que assessoram e fazem a segurança de Bolsonaro – R$ 164 mil em três meses. Mas essa despesa é permanente. Seria feita mesmo que o ex-presidente não viajasse. Nesses cálculos, não estão incluídos os salários da equipe de apoio a Bolsonaro. A Presidência registra no Portal da Transparência apenas as gratificações pagas a esses servidores.
Bolsonaro passou a maior parte do tempo das férias em Orlando, mas esteve no evento Power off the People, em Miami, promovido por uma organização estudantil de direita, no dia 3 de fevereiro. Ele também esteve na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), o mais influente evento de direita do mundo, no dia 4 de março, que teve como maior destaque o ex-presidente americano Donald Trum.
As férias de Bolsonaro começaram, na verdade, no final de dezembro, quando ele ainda era presidente. Somando tudo, a estada em Orlando por conta do contribuinte custou R$ 1 milhão. Além das diárias e passagens de janeiro a março, a Presidência da República teve despesas com a equipe de apoio que acompanhou o então presidente de 29 a 31 de dezembro de 2022. Foram R$ 150 mil em diárias. Cartões corporativos pagaram mais R$ 106 mil de taxas aeroportuárias, alimentação a bordo e serviços de telefonia.
As mordomias oferecidas aos ex-presidentes estão previstas na Lei 7.473/1986. Todos os ex-presidentes – José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Roussef e Michel Temer – aproveitam os privilégios. Lula foi contemplado as benesses por 12 anos. Não abriu mão nem mesmo nos 580 dias em que esteve preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Manteve assessores, seguranças e até os dois carros blindados. Quando tomou posse no atual mandato, em janeiro deste ano, abriu mão de tudo. Mas poderá retomar as benesses quando concluir o seu terceiro mandato.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS