Das 15 viagens mais caras feitas pelo presidente Jair Bolsonaro durante o seu governo, incluindo roteiros no exterior, 10 foram de férias ou de folga, com custo médio de R$ 660 mil. Em dois anos e meio de mandato, o presidente já gastou R$ 43 milhões com viagens, como revelam novos dados da Presidência da República, que vinha omitindo parte das informações até 2020.
A viagem mais cara foi para o Guarujá, onde Bolsonaro passou as suas férias no final de 2020, num total de R$ 1,23 milhão. Contando com o passeio a São Francisco do Sul (SC), nas mesmas férias, as despesas chegaram a R$ 2 milhões. A viagem presidencial ao Sudeste Asiático – Tóquio, Pequim, Abu Dhabi, Doha e Riade –, em outubro de 2019, custou R$ 1,1 milhão. A visita à Índia, em janeiro de 2020, saiu por R$ 807 mil. Os valores foram atualizados pela inflação.
Nas viagens ao exterior, não estão computadas as despesas de hospedagem e de diárias das autoridades integrantes das comitivas oficiais e dos servidores integrantes da equipe de apoio. Essas despesas são pagas pelo Ministério das Relações Exteriores, que mantém os dados sob sigilo. A partir deste ano, a Presidência da República passou a divulgar as despesas totais com diárias e gastos com cartões corporativos nas viagens presidenciais, mantendo em sigilo o detalhamento dos gastos.
Férias, cerimônias militares, cultos
Contabilizando todas as viagens internacionais e as viagens de recreação, e não apenas as mais dispendiosas, os números também impressionam. As 13 viagens de folgas e férias somam R$ 6,7 milhões – um valor médio de R$ 516 mil. As 13 viagens internacionais totalizam R$ 3,7 milhões – uma média de 287 mil, pouco mais que a metade das viagens recreativas. Sempre lembrando que faltam dados omitidos pelo Itamaraty.
Entre as viagens mais caras estão duas para São Paulo, em fevereiro e setembro de 2019, mas essas foram por motivos de saúde. O presidente foi internado para a retirada da bolsa de colostomia e depois para a retirada da sonda nasogástrica – consequências da facada que levou pouco antes do 1º turno das eleições presidenciais, em Juiz de Fora (MG). Custaram R$ 663 mil e R$ 497 mil.
As viagens para cerimônias militares, evangélicas e de policiais somaram mais R$ 9,2 milhões, sendo a maior parte para formaturas, troca de comandos e visitas a instalações militares – R$ 6,6 milhões. O deslocamento mais caro foi para o Rio de Janeiro, em agosto do ano passado, quando esteve numa cerimônia de brevetação de paraquedista e visitou uma escola cívico-militar.
Além de aglomerações, Bolsonaro também participou de megamotociatas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Chapecó. Os custos das viagens para esses eventos ainda não foram divulgados pela Presidência.
No dia 23 de abril, Bolsonaro teve uma programação multitemática. Partiu de Brasília às 7h30 com destino a Manaus, onde teve reunião com líderes evangélicos, inaugurou o Pavilhão de Exposições e deu entrevista ao polêmico apresentador de TV Sikêra Júnior. À tarde, em Belém, esteve na cerimônia de entrega de cestas de alimentos do Programa Brasil Fraterno. Em 12 horas estava de volta à Brasília, deixando mais uma conta de R$ 330 mil ao contribuinte.
Guarujá, o paraíso de Bolsonaro
As nove passagens pelo Guarujá custaram R$ 4,3 milhões aos cofres públicos. O presidente fica hospedado no Forte dos Andradas, uma instalação militar numa reserva de Mata Atlântica, supostamente para economizar com hotel. Mas não tem viagem grátis. Em dezembro do ano passado, só as 114 diárias dos seus assessores e seguranças saíram por R$ 140 mil. Havia 13 oficiais superiores na comitiva.
No feriado de Carnaval de 2020, as despesas chegaram a R$ 630 mil. Nas férias do início daquele ano, foram gastos mais R$ 560 mil. Teve também o feriado de Finados, no início de novembro – mais R$ 540 mil – e o feriado de Nossa Senhora Aparecida – R$ 460 mil. Em todas essas folgas, Bolsonaro costumava fazer passeios de moto pela cidade, acompanhado pelos seus seguranças e policiais militares.
O presidente provocava aglomerações no período da pandemia da Covid-19, em passeios de barco ou jet-ski ou abraçando e cumprimentando seus seguidores em quiosques ou na areia da praia, invariavelmente sem usar máscara de proteção – o que contrariava as orientações do Ministério da Saúde, do governo estadual e da prefeitura.
Em 2019, Bolsonaro aproveitou também o feriado da Proclamação da República no Guarujá. No domingo, ainda assistiu ao jogo entre Santos e São Paulo, na Vila Belmiro, onde houve manifestações da torcida santista contra o presidente. Mais R$ 463 mil na conta do contribuinte. No feriado da Paixão de Cristo, em abril, a folga havia custado mais R$ 280 mil. As férias no final de 2019 na base naval de Aratu, próxima a Salvador, teve despesas de R$ 342 mil.
Como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva também curtia folgas no Guarujá, onde ficava hospedado no Forte dos Andradas. Em quatros folgas no litoral paulista, gastou R$ 800 mil. Em janeiro de 2010, aproveitou as duas bases. Chegou a Salvador em 31 de dezembro e passou seis dias em Aratu. No dia 6, voou com a família para o Guarujá. Os dois roteiros custaram R$ 258 mil, mas sem contar despesas com diárias e cartões corporativos.
A última descoberta de Bolsonaro foi o Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul. Em duas hospedagens nessa instalação militar, em dezembro do ano passado e no Carnaval deste ano, fez despesas de R$ 1,5 milhão. No Carnaval, chegou até os banhistas de jet-ski e promoveu grande aglomeração, cumprimentando os seus seguidores.
Inaugurações e visitas na pandemia
Eleito com a promessa de enterrar a “velha política”, Bolsonaro procurou dar um reforço na sua popularidade a partir do segundo semestre do ano passado, quando teve início o desgaste pelas falhas no combate ao coronavírus. Visitou obras em andamento, inaugurou etapas de outras, lançou pedra fundamental e apresentou projeto de obra. Valia tudo. Durante a pandemia, as despesas com suas viagens somaram R$ 21 milhões – o equivalente a 400 mil doses de vacina.
A viagem mais cara foi para a Ilha do Marajó, onde visitou a agência-barco da Caixa Econômica Federal, em Breves (PA), junto ao presidente do banco, Pedro Guimarães, em outubro do ano passado. Bolsonaro acompanhou por alguns minutos o atendimento ao público realizado na embarcação. A despesa com o deslocamento foi de R$ 577 mil.
Dezembro foi um mês cheio. Bolsonaro achava que a pandemia estava “no finzinho”. Só no lançamento da pedra fundamental para implantação e pavimentação da BR-367, em Jacinto (MG); e na assinatura de atos de apoio ao setor produtivo, em Porto Seguro (BA); gastou R$ 380 mil. Mas o roteiro mais caro foi para o Vale da Ribeira (SP), onde passou sua adolescência e juventude. As visitas sentimentais a Eldorado, Piraquera-Açu, Itaoca e Registro custaram R$ 880 mil. Por lá, apresentou o projeto de duas pontes.
Na ânsia defaturar com obras públicas, Bolsonaro também inaugurou obras deixadas quase prontas por seus antecessores. Em novembro do ano passado, entregou mais uma etapa do Canal do Sertão de Alagoas, que levará água do Rio São Francisco para 42 município do estado. O canal e as adutoras já custaram R$ 3 bilhões. A maior parte da obra foi executada no governo Dilma Rousseff (PT), num total R$ 2 bilhões – R$ 500 milhões só em 2014. O investimento do atual governo foi de R$ 193 milhões – apenas 6% do total. O deslocamento até o evento custou R$ 285 mil.
Em fevereiro do ano passado, inaugurou os últimos 51 quilômetros da pavimentação do trecho da BR-163 que vai da divisa do Mato Grosso a Santarém (PA). A obra, que consumiu R$ 3,4 bilhões desde 2008, vai permitir a chegada dos grãos do Centro-Oeste aos portos do Rio Tapajós. Nos governos de Dilma e Lula, a pavimentação recebeu injeção de R$ 2,7 bilhões. Bolsonaro investiu R$ 307 milhões na obra – 9% do valor total. Essa viagem ficou por R$ 124 mil.
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