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O presidente Jair Bolsonaro gastou R$ 8,3 milhões com 15 viagens de férias ou folgas em Guarujá (SP), São Francisco do Sul (SC) e Salvador em três anos de governo. Das 15 viagens mais dispendiosas pelo país, 10 foram para esses destinos paradisíacos. Em 2021, houve um estouro nos gastos com viagens nacionais e internacionais: R$ 32,3 milhões. Em três anos, a gastança chegou a R$ 72 milhões, incluindo roteiros internacionais.
Em 2019, primeiro ano do governo, o presidente gastou R$ 19 milhões com viagens. No ano seguinte, mais R$ 21 milhões, apesar da Covid-19. Em 2021, ano mais letal da pandemia, houve um aumento de 53% das despesas em relação ao ano anterior. Foram gastos R$ 29,7 milhões em deslocamentos pelo país e R$ 2,6 milhões em viagens internacionais. Os dados foram informados pela Presidência da República e atualizados pela inflação do período.
Nos três anos, as viagens mundo afora custaram R$ 8,1 milhões. Mas esses dados são parciais. Isso ocorre porque, nas viagens internacionais do presidente, as despesas com diárias, locação de veículo, hospedagem, dentre outras, não estão sob a responsabilidade da Presidência da República, mas sim do Ministério das Relações Exteriores, que não divulga essas informações. As viagens nacionais custaram R$ 64 milhões.
Férias, carnaval, finados, Aparecida
No final de 2020 e início de 2021, Bolsonaro gastou R$ 798 mil com a estada no Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul, mais R$ 1,36 milhão no Forte dos Andradas, no Guarujá, onde pulou de uma lancha e nadou com apoiadores próximo à praia. Gostou tanto que retornou para São Francisco no carnaval, em fevereiro. Mais R$ 814 mil na conta do contribuinte. No final de 2021, retornou ao Guarujá e gastou mais R$ 934 mil.
Em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro foi questionado sobre os gastos de sua viagem de férias a Santa Catarina no fim do ano, que teria custado R$ 900 mil. “Eu estou aqui num quarto no quartel do Exército no Guarujá. Não tem despesa nenhuma aqui”. Disse que desconhecia a informação e afirmou que, se o valor for verdadeiro, é absurdo e vai “pegar no cangote de alguém”.
Em outubro do ano passado, já havia passado o feriadão de Nossa Senhora Aparecida, de 8 a 12 de outubro, no Guarujá. Parou para comer pastel com caldo de cana na feira do Peruíbe, onde posou para fotos com admiradores. Questionado por repórteres sobre os 600 mil mortos, perdeu a calma: “Apanhei pra caramba de vocês, hein? Qual país não morreu gente? Olha, não vim me aborrecer aqui, por favor”. O passeio do presidente custou mais R$ 760 mil.
Em fevereiro de 2020, passou o carnaval no Guarujá, hospedado no Forte dos Andradas. As despesas da viagem somaram R$ 670 mil. Em janeiro daquele ano, já havia passado alguns dias de folga no mesmo local – uma área de preservação de Mata Atlântica, de acesso restrito, no Morro do Monduba. Mais R$ 600 mil na conta do contribuinte. No mesmo ano, o feriado de Finados no Guarujá custou R$ 580 mil.
Uma ponte longe demais
Bolsonaro parou de viajar nos primeiros meses da pandemia, mas sua popularidade caiu e ele pegou a estrada no segundo semestre de 2020. Visitou e inaugurou obras, esteve em cerimônias militares, em cultos evangélicos e em reuniões com empresários. A viagem nacional mais cara de Bolsonaro foi para São Gabriel da Cachoeira (AM), distante 860 quilômetros de Manaus, em maio do ano passado. O presidente inaugurou uma ponte que liga a cidade à Terra Indígena Balaio. O curioso é que a ponte de madeira tem apenas 18 metros de comprimento. A viagem custou R$ 770 mil. Mas não agradou organizações indígenas da região, que temem a abertura das suas reservas à mineração.
A viagem para Breves (PA), em outubro de 2020, para visita à Agência-Barco da Caixa Ilha do Marajó, deixou uma despesa de R$ 616 mil. O deslocamento a Chapecó (SC), em junho do ano passado, ao custo de R$ 487 mil, teve visita à Cooperativa Aurora Alimentos, encontro com empresários e visita à Arena Condá – tudo na sexta-feira. No dia seguinte, o presidente liderou uma motociata gigante no município. No mesmo mês, Bolsonaro esteve na entrega de boina aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental no Colégio Militar de São Paulo. Os dados oficiais apontam uma despesa de R$ 470 mil.
Viagens internacionais
A viagem internacional mais cara aconteceu em novembro do ano passado, para o Oriente Médio – R$ 1,36 milhão. O presidente Bolsonaro chegou a Dubai no dia 13, sábado, e teve encontro com o xeique Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, primeiro-ministro dos Emirados Árabes. No domingo, teve apresentações do Dubai Airshow e visita ao pavilhão da Embraer.
No mesmo dia, em Abu Dhabi, visitou a Planta Industrial da BRF – empresa brasileira do ramo de alimentos. No dia seguinte, teve encontro com o xeique Mohammed Bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro de Abu Dhabi. De volta a Dubai, esteve na cerimônia do Dia do Brasil, numa apresentação de Jiu-jitsu e visitou os pavilhões do Brasil, dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita e Israel.
Na terça-feira, em Manana (Bahrein), Bolsonaro inaugurou a embaixada do Brasil, teve encontro com o rei Hamad bin Isa Al Khalifa e participou da cerimônia de encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Na quarta-feira, em Doha, teve reunião com o presidente da Fifa, Gianni Infantino, e jantar com empresários.
A segunda viagem mais cara foi para o Sudeste Asiático, em outubro de 2019. Esteve em Tóquio, Pequim, Abu Dhabi, Doha e Riade (Arábia Saudita). As despesas ficaram em R$ 1,2 milhão.
Quais dados foram divulgados
O blog obteve as informações sobre as viagens do presidente por meio da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2012). A Secretaria-Geral da Presidência da República informou ao blog que as planilhas com os gastos relacionados às viagens presidenciais nacionais e internacionais envolvem as despesas realizadas pela Secretaria Especial de Administração. As informações foram disponibilizadas pelo Gabinete Pessoal do Presidente da República.
“Nas viagens nacionais, constam as despesas com Cartão de Pagamento do Governo Federal (cartões corporativos), transporte terrestre, telefonia e diárias. E, nas viagens internacionais, constam as despesas com seguro viagem internacional, telefonia, comissária e aeroportuárias. Registre-se que as despesas com diárias, locação de veículo, hospedagem, dentre outras, nas viagens presidenciais internacionais não estão sob a responsabilidade da Presidência da República”, registrou a Secretaria-Geral.
O blog também solicitou ao Ministério das Relações Exteriores os dados sobre as viagens internacionais. O Itamaraty respondeu que, nos termos da Lei de Acesso à Informação, art. 24º, as informações que puderem colocar em risco a segurança do presidente e vice-presidente da República e respectivos cônjuges e filhos serão classificadas como reservadas e ficarão sob sigilo até o término do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de reeleição. “Dessa forma, os gastos incorridos por este Ministério com custeio de hospedagem de comitiva do atual presidente da República em viagens ao exterior não poderão ser divulgados”, registou o ministério.