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As viagens do presidente Jair Bolsonaro pelo país e pelo mundo custaram R$ 8,6 milhões em 2020. Considerando mais 12 trechos em que ainda não houve prestação de contas, o valor total deve ficar em torno de R$ 9,6 milhões. Quatro viagens de folga do presidente no Guarujá, onde permaneceu um total de 29 dias, custaram R$ 906 mil, e ainda falta a prestação de contas de três trechos. Mas os dados apresentados referem-se apenas as atividades dos escalões avançados (Escav). Os demais dados solicitados pelo blog estão protegidos por sigilo.
Fora as viagens para a Índia e para os Estados Unidos, que custaram R$ 742 mil e R$ 354 mil, respectivamente, as três viagens mais caras foram para Guarujá. Saíram por R$ 336 mil em seis dias de Carnaval, R$ 294 mil numa folga de quatro dias no início do ano e R$ 253 mil num feriadão de três dias que envolveu o feriado do dia 1º de outubro. Neste último passeio, saiu pelas ruas da cidade de moto, provocando aglomerações de apoiadores. Também esteve na praia, onde andou de jet ski.
Nas viagens pelo país, o estado mais visitado foi São Paulo, com 19 trechos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 11. Mas os estados no Nordeste também foram lembrados, principalmente a partir do final de junho, quando a epidemia está no seu platô, com média de mil mortes por dia. Foram 13 visitas para visitas a obras ou inauguração de obras com peso eleitoral.
Mais de 100 escalões avançados
Foram 109 deslocamentos de escalões avançados, formados por seguranças e assessores, que seguem antes do voo do avião presidencial. Às vezes, uma viagem do presidente passa por três ou quatro cidades, o que exige o envio de mais equipes de apoio. Em outros casos, seguem dois escalões para uma mesma cidade. Todos esses deslocamentos apoiaram 62 viagens presidenciais realizadas. Algumas outras foram canceladas, mas as despesas com os Escavs já estavam feitas.
Em março, por exemplo, Bolsonaro ainda não acreditava na gravidade da pandemia da Covid-19. Planejou passar o feriado da Páscoa na paradisíaca Fernando de Noronha. De 16 a 20 daquele mês, dois oficiais superiores e um assistente técnico militar estiveram no arquipélago para fazer o levantamento inicial para a participação do presidente em "atividade privada" no local de 10 a 12 de abril. A missão militar custou R$ 39 mil aos cofres públicos.
O blog também solicitou o custo com aeronaves utilizadas pelo presidente, além de passagens, diárias, alimentação, hospedagem, combustível. A Secretaria-Geral da Presidência respondeu que os “custos do deslocamento aéreo” são de responsabilidade da Força Aérea Brasileira (FAB). Esclarecemos que o detalhamento das informações solicitadas está protegido por sigilo. As informações acima foram disponibilizadas pelo Gabinete Pessoal do Presidente da República”, diz a resposta.
A apresentação de projetos
Além de inaugurações, lançamento de pedra fundamental, visitas, há outra forma de atrair eleitores: a “apresentação de projeto”. No dia 3 de setembro, o presidente da República partiu para o Vale de Ribeira, uma das regiões mais pobres de São Paulo, onde Bolsonaro passou a infância e a adolescência. Em Pariquera-Açu, foi apresentado o projeto da ponte sobre o Rio Pariquera-Açu, estimado em R$ 15 milhões. No auge de pandemia, o evento atraiu 2 mil pessoas.
No final da manhã, a comitiva rumou para Eldorado (SP), para a apresentação do projeto da ponte de acesso ao bairro Boa Esperança e ao quilombo São Pedro. No dia seguinte, Bolsonaro foi para Registro (SP), para uma visita ao posto da Polícia Rodoviária Federal. Também está registrada uma visita de escalão avançado a Itaoca, mas a agenda presidencial não traz agenda nesse município. A visita afetiva do presidente custou R$ 368 mil. Dali, ele ainda seguiu para a visita às obras de recuperação da pista principal do aeroporto de Congonhas, fechando o roteiro paulista em R$ 425 mil.
Na viagem de agrado ao agronegócio, em 18 de setembro, o presidente esteve em Sinop (MT), onde recebeu ato de homenagem, e em Sorriso, para a entrega de títulos de propriedade rural e o “Lançamento Simbólico do Plantio de Soja” – mais uma modalidade. Mais uma despesa de R$ 300 mil.
Em 1º de outubro, o presidente esteve na inauguração da primeira fase da segunda etapa do Sistema Adutor do Pajeú, em São José do Egito (PE), e na visita às obras na estação de bombeamento do projeto de transposição do Rio São Francisco, em Sertânia (PE). Mas a maior aglomeração aconteceu na escala em Campina Grande, onde o presidente pegou um helicóptero. As despesas chegaram a R$ 245 mil.
“É uma irresponsabilidade”
No Rio de Janeiro, dias 14 e 15 de agosto, a viagem teve dois eventos: a inauguração da Escola Cívico Militar e a Brevetação dos Novos Paraquedistas. Os dois escalões avançados custaram R$ 286 mil.
Em 3 de fevereiro, o presidente cumpriu quatro compromissos em São Paulo: o lançamento da pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, a incorporação dos alunos do 6º ano do ensino fundamental no Colégio Militar, o almoço oferecido pelo presidente da Fiesp e uma visita à TV Band. O custo da viagem chegou a R$ 250 mil.
Em 30 de julho, Bolsonaro foi até Campo Alegre de Lourdes (BA), para inaugurar segunda etapa do Sistema Integrado de Abastecimento de Água do município. Em seguida, visitou o Parque Nacional da Serra da Capivara, que se estende por quatro municípios do Piauí. Quando chegou ao aeroporto de São Raimundo Nonato, pela manhã, causou grande aglomeração ao montar num cavalo em meio a admiradores. Mais R$ 167 mil de despesas com os Escavs.
A viagem mais curta e barata – custou apenas R$ 286 –, para Cristalina (GO), distante 150 quilômetros de Brasília, mostrou o quanto Bolsonaro estava desinformado sobre a epidemia que apenas começava, em 2 de maio. Naquele dia, houve 5 mil novos casos 387 mortes. O presidente chegou de helicóptero, causou grande aglomeração, abraçou várias pessoas, comeu pastel com café no posto e fez críticas ao isolamento social: “Isso é uma irresponsabilidade”, disse.