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Lúcio Vaz

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O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Mordomias

Carrões, autopromoção e auxílio mudança: a festa dos suplentes de deputado

Raniery Paulino (Republicanos-PB) ficou apenas quatro meses no cargo de deputado federal e gastou R$ 195 mil com divulgação de mandato. (Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados)

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Em ano eleitoral, 30 suplentes de deputados federais já receberam a primeira parcela do “auxílio mudança”, no valor de R$ 44 mil – num total de R$ 1,3 milhão. Os suplentes alugaram carrões como Hilux, Ford Ranger, Trailblazer, e até aviões, e torraram muito dinheiro público com a divulgação dos seus breves mandatos – autopromoção paga pelo contribuinte. Catorze deputados assumiram cargos de secretário estadual, o que abriu ainda mais vagas para suplentes. Em ano de eleições municipais, os deputados procuram as suas bases eleitorais em busca de apoio para a sua reeleição em 2026.

Os deputados federais recebem um “auxílio mudança” no início do mandato e outro no final do mandato. O nome oficial é “ajuda de custo”. O suplente recebe a primeira parcela quando assume a vaga de deputado e a segunda depois que deixa o cargo, desde que tenha completado o mínimo de 180 dias. Durante o mandato, têm direito a usar a Cota para o Exercício do Mandato – o “Cotão”. Os gastos dos suplentes seguiram as normas da Câmara e foram aprovadas pelo corpo técnico da casa.

Em sete meses de mandato, o suplente Pauderney Avelino (União-AM) usou R$ 253 mil do “Cotão”. Ele gastou R$ 72 mil com locações de veículos – média de R$ 12 mil por mês. Foram  cinco alugueis de camionetes Frontier e uma Toro. Também alugou dois aviões Caravan para visitar os seus eleitores em Manicoré e Beruri, ao custo de R$ 26 mil. Os parlamentares costumam justificar as despesas com aviões pela necessidade de viajar longas distâncias na Amazônia.

O suplente Nitinho (PSD-SE) torrou R$ 189 mil do “Cotão” de fevereiro a agosto. As despesas com locação de dois carros somaram R$ 72 mil. O mais caro foi o Toyota Corolla – no valor de R$ 6,9 mil.

Os suplentes alugaram carrões como Hilux, Ford Ranger, Trailblazer, e até aviões, e torraram muito dinheiro público com a divulgação dos seus breves mandatos

Autopromoção na conta do contribuinte

Raniery Paulino (Republicanos-PB) tomou posse em 4 de janeiro e ficou quatro meses no cargo. Seu breve mandato foi bastante divulgado. Ele gastou com autopromoção R$ 38,5 mil em janeiro, R$ 40 mil em fevereiro, R$ 43,8 mil em março e R$ 41,7 mil em abril e R$ 11,8 mil em maio. As despesas com divulgação representaram 90% da sua cota para o exercício do mandato – R$ 195 mil. Ou seja, o principal objetivo do seu mandato foi a divulgação do seu mandato. Mas teve ainda outra despesa em maio – R$ 8 mil com a locação de um Tiggo.

Luciana Genésio (PDT-MA) assumiu o mandato em 18 de junho e abriu a carteira. Naquele mês, ela já gastou R$ 19,3 mil na divulgação do mandato, que tinha apenas 12 dias. Em julho, gastou mais R$ 34 mil com divulgação e, em agosto, mais R$ 53 mil. A sua despesa total já bateu em R$ 145 mil. Dr. Remy Soares (PP-MA) tomou posse em sete de maio. Torrou R$ 64 mil com divulgação do mandato naquele mês. Os gastos com o “Cotão” chegaram a R$ 80 mil no mês. Em junho, alugou uma Hilux por R$ 7,8 mil.

O suplente Fábio Rueda (União-AC) assumiu o mandato em janeiro e usou R$ 165 mil do “Cotão” – com R$ 134 mil gastos com divulgação do mandato. Foram R$ 15 mil em janeiro, R$ 65 mil em fevereiro, R$ 30 mil em março e R$ 24 mil em abril. A empresa contratada tinha estúdio móvel com câmeras, luz, captador de áudio, mesa de edição para produção de filmes e comunicação multimídia.

Juliana Kolankiewicz (MDB-MT) tomou posse em 27 de maio. Em junho, gastou R$ 24 mil com divulgação do mandato. Em julho e agosto, investiu mais R$ 18 mil por mês na sua autopromoção. O seu total de despesas chegou a R$ 104 mil. Pedro Jr. (PL-TO) assumiu o cargo em 20 de junho. Em julho e agosto, gastou R$ 25 mil em divulgação do mandato. Em julho, também locou uma camionete Hilux por R$ 12,5 mil.

Na farra do “Cotão”, apareceu até Ulisses Guimarães (MDB-MG). Ele assumiu uma vaga na Câmara de 7 de março a 6 de julho e gastou R$ 57 mil com divulgação do mandato – sendo R$ 37 mil em abril. Em maio, também alugou um Volkswagen Nivus por R$ 8 mil.

Deputados assumem secretarias

Catorze suplentes ocuparam a vaga deputados que se licenciaram para exercer cargos de secretário estadual ou municipal. O coronel Telhada (PP-SP) estava na vaga do deputado Delegado Bruno Lima (PP-SP), do mesmo partido, que era secretário municipal de Inovação e Tecnologia da Prefeitura de São Paulo. Em 22 de março, Lima reassumiu o mandato. Três dias depois, Lima retornou à Prefeitura e Telhada voltou ao mandato. Em 1º de agosto, Telhada deixou o mandato. De janeiro a julho, ele torrou R$ 185 mil com divulgação do mandato.

Bruno Lima afirmou ao blog que reassumiu o cargo por três dias em março para “apresentar seus projetos em defesa da causa animal, que é uma das bandeiras principais de sua atuação parlamentar”. Acrescentou que deixou a secretaria de forma definitiva porque “havia atingido todas as metas e compromissos firmados com o prefeito na cidade de São Paulo”. Ele retornou ao mandato para “continuar seu trabalho legislativo e sua atuação em prol da população e dos animais”. Acrescentou que está “engajado” na campanha do prefeito Ricardo Nunes pela reeleição. Em agosto, Lima alugou uma Trailblazer por R$ 8,5 mil. No período em que esteve na secretaria estadual recebeu salário pela Câmara (R$ 44 mil).

Entre os deputados que se licenciaram está Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco. Ele assumiu a Secretaria de Ação Comunitária da Prefeitura do Rio de Janeiro em novembro do ano passado. Retornou à Câmara em fevereiro deste ano. Ele também manteve o salário de deputado federal quando estava na secretaria no Rio de Janeiro

A Câmara afirmou ao blog que os 30 suplentes que assumiram o mandato neste ano receberam a ajuda de custo de início de mandato em 2024. “Nenhum deles recebeu ajuda de custo de fim de mandato, uma vez que ou deixaram o mandato sem o exercício mínimo exigido pela legislação ou ainda continuam no exercício do cargo. Lembrando apenas que, para receber a segunda ajuda de custo, é preciso exercer o mandato ininterruptamente por 180 dias, conforme determina o Decreto Legislativo 172/2022”.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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