Os carros oficiais de senadores – uma das mordomias mais tradicionais em Brasília – custam cerca de R$ 6,5 milhões por ano aos cofres públicos. Um total de R$ 54 milhões nos oito anos de mandato. Nos três primeiros meses da atual legislatura, já percorreram distância suficiente para ir até a Lua – 360 mil quilômetros. Os três veículos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), já andaram 12,4 mil quilômetros – o equivalente a cinco viagens a Macapá. A Câmara gasta menos com a regalia, mas o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) tem direito a um carro blindado para uso próprio e mais dois para a sua escolta policial.
Os carros “chapa branca”, modelo Sentra, são utilizados para quase tudo, desde o transporte do senador ao Congresso Nacional, ao aeroporto, a audiências em ministérios, até o deslocamento de assessores do gabinete a órgãos públicos ou mesmo para buscar prefeitos no aeroporto. Alguns também usam o carro nos finais de semana, em eventos oficiais. O deslocamento não pode ultrapassar os 100 km a partir do Congresso, o que inclui cidades satélites e do entorno do Distrito Federal.
A campeã na utilização dos carros oficiais de senadores é Leila Barros (PSD-DF), que se elegeu com o nome de Leila do Vôlei, com 9,5 mil quilômetros percorridos. São 144 por dia. O carro é usado para o seu deslocamento ao Senado e em agendas no DF, mas também fica disponível para serviços do gabinete. Como a senadora abriu mão da verba indenizatória, que permitiria o aluguel de carros, o veículo oficial faz todos os serviços do gabinete. Nos finais de semana e feriados, ainda é utilizado para participação da senadora em compromissos oficiais. O gasto com gasolina em três meses chegou a R$ 3,8 mil.
Presidente com três carros
Como presidente do Senado, Alcolumbre tem direito a dois carros de representação, modelo Azera, 3.0. Um é utilizado pelo presidente e outro pela escolta da Polícia do Senado. Ele conta, ainda, com outro veículo igual ao disponibilizados aos demais senadores, para atendimento do gabinete da Presidência. Cada um dos três automóveis anda, em média, 63 quilômetros por dia. Já consumiram R$ 6,4 mil de gasolina. O aluguel de cada Azera custa R$ 6,8 mil por mês, enquanto o Sentra fica por R$ 3,2 mil.
Mesmo cumprindo pena de prisão no presídio da Papuda, no regime semiaberto, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO) contou com o carro oficial de fevereiro a abril. O senador chegava cedo ao Congresso e participava de todas as atividades parlamentares. Debatia e votava projetos de lei nas comissões e no plenário. Às 18h dirigia-se ao presídio, onde dormia. A pena passou para o regime aberto em maio.
O carro disponibilizado a Gurgacz percorreu 4,3 mil quilômetros nos três meses, uma média de 65 quilômetros por dia. Segundo afirmou a sua assessoria, o carro era utilizado pelo senador e por servidores em serviços do gabinete, mas não para os deslocamentos até a Papuda.
As normas para o uso dos carros parecem rígidas, mas deixam brechas para privilégios. O Regimento administrativo do Senado diz que é obrigatório o recolhimento dos veículos nos finais de semana e nos feriados e quando o senador estiver ausente do Distrito Federal. Mas permite o uso nos finais de semana quando o senador solicitar o não recolhimento ao primeiro-secretário, cargo ocupado por um senador.
Quanto custa a mordomia dos carros oficiais de senadores
O contrato de locação para carros oficiais de senadores prevê a disponibilidade de 83 Sentra e dois Azera, no valor total de R$ 3,35 milhões por ano. O diretor-geral e o secretário-geral da Mesa Diretora também contam com a mordomia. Como seis senadores renunciaram ao direito, o Senado paga pela utilização de 77 veículos, a um custo anual de R$ 3,1 milhões.
Abriram mão da regalia os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Confúcio Moura (MDB-RR), Eduardo Girão (PODE-CE), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Reguffe (DF), sem partido. O veículo à disposição do senador Vanderlan Cardoso (PP-GO) não foi utilizado. Encontra-se recolhido no Serviço de Transporte desde o início do mês de fevereiro, informou a Direção do Senado: “A devolução não foi formalizada pelo gabinete, mas já foi solicitada pelo Senado”.
Girão afirma que carros oficiais de senadores não são bens necessários: “Não tem necessidade. Hoje em dia, temos aplicativos, táxi. E o salário do senador é bom, pode alugar um carro”. Ele também renunciou ao plano de saúde vitalício para senadores e dependentes, à aposentadoria especial e ao imóvel funcional e ao auxílio-moradia.
Mas carros não andam sem motorista. Isso amplia o custo da mordomia. Nos registros do Senado, 44 senadores contam com motorista no gabinete, com salário de R$ 4,5 mil. Três senadores têm dois motoristas: Alcolumbre, Acir Gurgacz (PDT-RO) e Eduardo Gomes (MDB-TO). A despesa anual com os 47 motoristas fica em R$ 2,74 milhões. Em todos os gabinetes, o carro pode ser dirigido por outros ocupantes de cargos do Senado. O custo com gasolina é o mais baixo, em torno de R$ 700 mil por ano.
Assim como acontece no Senado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também conta com três veículos oficiais. Ele utiliza um Ford Edge Titanium blindado, ao custo de R$ 10 mil por mês, ou R$ 120 mil por ano. Mais dois Ford Edge, sem blindagem, são usados pela Polícia Legislativa da Câmara para escolta do presidente. O aluguel desses carros de apoio fica por R$ 13,5 mil por mês, ou R$ 162 mil por ano.
Mesmo com 513 deputados, a Câmara gasta menos do que o Senado com carros oficiais. Além do presidente, também têm direito à mordomia os integrantes da Mesa Diretora, o procurador parlamentar, o ouvidor-geral, o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o corregedor, a procuradora especial da Mulher e o presidente do Centro de Estudos e Debates Estratégicos. O diretor-geral e o secretário-geral da Mesa também têm direito ao serviço. Os demais deputados não dispõem do veículo de representação. O aluguel dos demais carros custa R$ 370 mil por ano. O gasto total com as locações fica em R$ 652 mil. Mas ainda tem as despesas com motoristas e gasolina.
“O bom uso do dinheiro público”
Questionada pelo blog sobre a intensa utilização do seu carro oficial, Leila respondeu, por meio da sua assessoria, que não faz uso da verba indenizatória, que poderia ser destinada para alugar veículos e emitir passagens aéreas.
“Leila é uma das parlamentares mais econômicas desta Legislatura. Ela abriu mão da aposentadoria especial, do imóvel funcional, do passaporte diplomático e do recebimento dos auxílios moradia e mudança. Comprometida com o bom uso do dinheiro público, a determinação da parlamentar é reduzir cada vez mais o custo do mandato, incluindo o uso do meio de transporte oficial”.
Quinto colocado no ranking do uso de veículos “chapa branca”, Eduardo Gomes justificou os 7,8 mil quilômetros percorridos. Segundo a sua assessoria, o senador “tem o maior cuidado com a coisa pública. O veículo é utilizado por ele única e exclusivamente a serviço. Sua jornada de trabalho começa antes das 8h e ultrapassa com frequência a meia-noite”. A nota acrescentou que o senador ocupa a segunda secretaria da mesa e é vice-líder do governo, “o que o abriga a constantes deslocamentos diariamente”. O senador não utiliza o carro nos finais de semana, “a não ser que tenha algum compromisso oficial”. Trata-se daquela brecha.
Terceiro no ranking, com 8 mil quilômetros percorridos, Paulo Paim (PT-RS) foi sucinto na sua justificativa. A sua assessoria afirmou que ele permanece de segunda à sexta em Brasília. A distância entre a sua residência e o Congresso é de 54 quilômetros (ida e volta). O motorista retira o carro e o devolve à garagem todos os dias, o que equivale a 108 km por dia. Há, ainda, os deslocamentos ao aeroporto, garagem e agendas externas/eventos.
Para buscar prefeito no aeroporto
O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) explicou como andou 7,1 mil quilômetros. O automóvel é utilizado para o seu deslocamento em atividades inerentes ao mandato, sempre em dias úteis, inclusive para o aeroporto, e condução de assessores para reuniões em ministérios, por exemplo. A sua assessoria destaca que o veículo oficial pode ser utilizado por servidores “ou até mesmo para pessoas sem vínculo, como, por exemplo, buscar um prefeito no aeroporto”. O gabinete acrescenta que o senador assumiu a liderança da Rede no Senado, “o que tem exigido um leque maior de atividades”.
A assessoria do senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL) afirmou que o veículo percorreu 7,5 mil quilômetros no transporte do senador de casa para o Senado, para o aeroporto, e para audiências e reuniões externas. E para o transporte de funcionários do gabinete em reuniões fora do Senado.
Humberto Costa (PT-PE) informou, por meio da sua assessoria, que o carro é utilizado pelo senador nos seus deslocamentos oficiais e serve, também, “à circulação de documentos públicos (entrega e recepção) entre o gabinete e órgãos da administração, embaixadas etc. Não é utilizado nos fins de semana, salvo quando o senador tem compromissos oficiais em Brasilia”.