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Lúcio Vaz

Lúcio Vaz

O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Sigilo quebrado

Cartão de Temer pagou “boca livre” para 200 convidados e até caixas de papelão da mudança

Michel Temer em um dos jantares promovidos pela Presidência da República com a base parlamentar no Congresso às custas do contribuinte.
Michel Temer em um dos jantares promovidos pela Presidência da República com a base parlamentar no Congresso às custas do contribuinte. (Foto: Beto Barata/PR)

Os maiores gastos do presidente Michel Temer com cartão corporativo nas residências oficiais, feitos sob sigilo, cobriram almoços e jantares no Palácio da Alvorada para 200 convidados, além de bebidas e comidas sofisticadas para a residência oficial do então chefe da nação. O vinho argentino Zapata, a R$ 270 a garrafa, estava entre os preferidos. Os jantares buscavam apoio à aprovação da reforma da Previdência e à rejeição da abertura de processos criminais contra o presidente.

Em 12 de setembro de 2017, Temer “ofereceu” evento no Alvorada para 200 convidados, como registram os arquivos da Presidência da República relativos a despesas com cartão corporativo, abertos agora e analisados pelo blog com exclusividade. Foram servidos dois pratos principais – salmão grelhado ao Mediterrâneo e rolê de filé mignon recheado com cogumelos ao vinho do Porto. Quem pagou tudo foi o contribuinte.

Duas denúncias da Procuradoria-Geral da República contra Temer tiveram como base a gravação em que o dono da JBS, Joesley Batista, conversava com o presidente no Palácio do Jaburu sobre possíveis favores ao empresário e a suposta ajuda concedida ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. A primeira, por corrupção passiva, foi arquivada pela Câmara em agosto de 2017. A segunda, por obstrução à Justiça e organização criminosa, caiu em outubro daquele ano. Ambas foram rejeitas pela Câmara dos Deputados.

Mas os jantares continuaram durante todo o governo Temer. Em novembro de 2018, já perto do final do mandato, foi feita compra emergencial com cartão de crédito para almoço oferecido pelo presidente para 105 convidados e mais 20 pessoas de apoio. O prato principal foi bacalhau à Gomes de Sá, com nhoque de batata ao sugo com tofú. Foram servidos vinhos branco e tinto. Apenas as comidas saíram por R$ 11,5 mil, como mostram as notas fiscais.

Vinhos finos e lagosta sem cabeça no cardápio

A despensa do Palácio do Jarubu, onde Temer morava com a família, era abastecida constantemente. Em agosto de 2017 foram comprados quase dois quilos de lagosta sem cabeça a R$ 180 o quilo. No mês seguinte foram adquiridos 3,3 quilos de carrê de cordeiro na JHS Carnes, por R$ 160 o quilo. E teve aniversário. Na Pop Festas, foram encomendados um bolo e mais 400 unidades de brigadeiros, cajuzinho, quindim e camafeu. Barras de chocolate e sorvete eram adquiridos todos os meses.

Em agosto de 2018, houve a compra de 22 quilos de filé de robalo, por R$ 94 o quilo; e 2 quilos de camarão rosa eviscerado, a R$ 200 o quilo. Na Saborella Sorvetes Finos, foram comprados 2 quilos de sorvete por R$ 120 a unidade.

Em setembro, a administração do Jaburu solicitou a aquisição de bebidas para “repor a adega” do presidente. Compraram 4 vinhos argentinos Zapata, por R$ 270 a unidade. Em novembro, foram mais 4 garrafas do mesmo vinho, além de 3 garrafas de Jonnie Walker Black, por R$ 170 cada um. O consumo de bebidas era bem menor do que no governo Lula, é verdade.

Em novembro daquele ano, um reforço na despensa do Jaburu, com 8 quilos de bacalhau dessalgado (R$ 123 o quilo) e 8 quilos de filé de robalo (R$ 90), além de outros peixes – tudo por R$ 4,8 mil. Na Ueda Pescados, compraram mais 6,5 quilos de camarão rosa a R$ 199 o quilo.

No último mês de governo, mais eventos no Alvorada. No dia 5, em almoço para 25 autoridades, foi servido mignon à Wellington, com risoto de alho poró com raspas de siciliano e legumes salteados. No dia 10, jantar para 30 autoridades. Foram servidos filé mignon ao vinho do Porto e pescada amarela.

Nada escapa ao cartão corporativo de Temer

O presidente da República, além do salário de R$ 30,9 mil, tem todas as despesas cobertas com recursos públicos. Conta com residência oficial – no caso, um palácio –, carro oficial, transporte aéreo, seguranças para ele e para a família, empregados domésticos, alimentação, bebidas, enfim, tudo.

Eles poderiam pagar despesas particulares, mas nem isso fazem. Em 6 de dezembro, foi comprada uma necessaire por R$ 100 para “suprir necessidades do presidente em aeronaves”. A administração do Jaburu também comprou duas árvores de Natal para enfeitar o palácio. Até na hora de deixar o poder aparecem despesas. O presidente não pagou nem as caixas de papelão para embalar a mudança.

Os gastos para atender às necessidades do presidente da República e da sua família, feitos com cartões corporativos, são classificados como reservados e ficam sob sigilo até o final do mandato. Assim, as compras feitas nos governos Lula, Dilma e Temer não estão mais sob sigilo. O blog solicitou, em 7 de agosto, por meio da Lei de Acesso à Informação, a abertura desses arquivos.

Após um mês de análise do processo, o blog foi autorizado a abrir os arquivos, em meio físico, e fazer pesquisas presenciais no Palácio do Planalto. Os dados relativos ao presidente Jair Bolsonaro estarão abertos a partir de 2023. Até julho, as despesas da Secretaria de Administração da Presidência da República com o presidente, o vice-presidente e seus familiares já ultrapassava os R$ 3 milhões, tudo sob sigilo.

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